Olhos de Mongol

Foto

O pós-rock já não é prato quase único, mesmo que os temas continuem a viver dos contrastes e das dinâmicas entre opostos. Atente-se em "Cronófago", que abre o disco: é o tema mais directo que o grupo já fez, 2 minutos e 40 segundos de rock escola Sonic Youth (guitarras a gemerem em "feedback", bateria e baixo propulsivos com acelerações bruscas sacadas ao hardcore). Mas a maior surpresa é mesmo "Partir para ficar", que põe a segunda parte de "FMI" de José Mário Branco a dialogar com guitarras planantes e uma harmónica perdida – o instrumental encaixa com o discurso desencantado, como se banda e José Mário Branco se tivessem encontrado para a fazer. Aplauda-se a coragem de pegar num texto com tanto peso e o mérito de o reapresentar sem o manchar. "Olhos de Mongol" vai revelando minudências que não existiam no EP. Os temas são mais complexos, há mais espaço livre para as guitarras deambularem e o lado rock passa a estar mais concentrado em alguns temas e não em todos. "Dá-me a tua melhor faca" é um exemplo dessa evolução: arranca abrindo espaços dentro de um crescendo. Mais à frente, há uma secção de guitarras cristalinas, xilofone e uma frase ("Dá-me a tua melhor faca para cortarmos isto em dois e amanhã esquecer") e novo crescendo, com as guitarras ora gémeas, ora a seguir caminhos próprios. "A Severa", a fechar o disco, é também pródiga em diferentes secções – depois de um "riff" aguerrido surge uma espécie de faduncho eléctrico que abre caminho para um final catártico (muito por culpa de Hélio Morais, um dos mais pujantes bateristas a operar no rock português). Sosseguem os ansiosos: "Olhos de Mongol" afirma os Linda Martini como um caso sério de talento. Já não são uma promessa do rock feito neste país – são uma certeza.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

O pós-rock já não é prato quase único, mesmo que os temas continuem a viver dos contrastes e das dinâmicas entre opostos. Atente-se em "Cronófago", que abre o disco: é o tema mais directo que o grupo já fez, 2 minutos e 40 segundos de rock escola Sonic Youth (guitarras a gemerem em "feedback", bateria e baixo propulsivos com acelerações bruscas sacadas ao hardcore). Mas a maior surpresa é mesmo "Partir para ficar", que põe a segunda parte de "FMI" de José Mário Branco a dialogar com guitarras planantes e uma harmónica perdida – o instrumental encaixa com o discurso desencantado, como se banda e José Mário Branco se tivessem encontrado para a fazer. Aplauda-se a coragem de pegar num texto com tanto peso e o mérito de o reapresentar sem o manchar. "Olhos de Mongol" vai revelando minudências que não existiam no EP. Os temas são mais complexos, há mais espaço livre para as guitarras deambularem e o lado rock passa a estar mais concentrado em alguns temas e não em todos. "Dá-me a tua melhor faca" é um exemplo dessa evolução: arranca abrindo espaços dentro de um crescendo. Mais à frente, há uma secção de guitarras cristalinas, xilofone e uma frase ("Dá-me a tua melhor faca para cortarmos isto em dois e amanhã esquecer") e novo crescendo, com as guitarras ora gémeas, ora a seguir caminhos próprios. "A Severa", a fechar o disco, é também pródiga em diferentes secções – depois de um "riff" aguerrido surge uma espécie de faduncho eléctrico que abre caminho para um final catártico (muito por culpa de Hélio Morais, um dos mais pujantes bateristas a operar no rock português). Sosseguem os ansiosos: "Olhos de Mongol" afirma os Linda Martini como um caso sério de talento. Já não são uma promessa do rock feito neste país – são uma certeza.