Filme libanês sobre desejo feminino proibido no Egipto

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Segundo a Amnistia Internacional 97 por cento das mulheres egípcias são excisadas DR

A longa-metragem, já apresentada em vários festivais internacionais de cinema, não recebeu a licença de exploração comercial, oficialmente devido ao não pagamento de taxas aos sindicatos do sector, indicou a distribuidora.

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A longa-metragem, já apresentada em vários festivais internacionais de cinema, não recebeu a licença de exploração comercial, oficialmente devido ao não pagamento de taxas aos sindicatos do sector, indicou a distribuidora.

Segunda-feira, o filme foi também alvo de uma medida de censura relativamente a dois planos, um sobre a mutilação genital de uma menina e outro que mostrava uma cena de amor.

Depois de ter causado escândalo na sua primeira projecção, há um ano, no âmbito do Festival do Cairo, "Dunia" deveria estrear, na noite passada, em 18 salas de cinema da capital egípcia e de outras cidades do país.

"É um terrível fiasco, as pessoas vão dirigir-se às salas e eles vão cancelar o filme, dizendo que não paguei essas taxas sindicais absurdas", disse a cineasta Jocelyne Saab.

O director da censura, Ali Abu Chadi, bem como a distribuidora Essaad Yunès, declararam que o não pagamento dessas taxas é a única razão pela qual o filme não estreou no circuito comercial.

Jocelyne Saab não parou de enfrentar obstáculos nos últimos dois anos, incluindo o distanciamento dos seus dois actores principais, Hanan Turk e Mohamed Munir.

"Dunia", que quer dizer "mundo" em árabe, segue o percurso iniciático de uma jovem egípcia, ela própria excisada, em direcção ao desejo e à liberdade de pensamento, através da dança e da poesia sufis, ensinadas por dois mestres.

Apesar da oposição oficial, em particular de Suzanne Mubarak, mulher do Presidente egípcio, Hosni Mubarak, esta tradição não islâmica é generalizada. Segundo a Amnistia Internacional, 97 por cento das mulheres egípcias são excisadas.

"É um crime contra a humanidade, filmei essa cena com delicadeza mas penso que os egípcios não suportam ver-se ao espelho", sustentou a cineasta, para quem esta sociedade está "doente de frustração".

Com um orçamento de 1,3 milhões de euros, "Dunia" é uma co-produção internacional (França, Egipto, Líbano e Marrocos).