Uganda: líder rebelde nega acusações de crimes contra a humanidade

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O LRA é acusado pelo TPI de uma campanha de terror sistemática contra as populações civis Karel Prinsloo/AP

"Sou um combatente pela liberdade que luta pela libertação do Uganda, não sou um terrorista", afirmou Kony, numa entrevista ao jornalista britânico Sam Farmar, do jornal "The Times", que foi transmitida ontem à noite pela BBC.

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"Sou um combatente pela liberdade que luta pela libertação do Uganda, não sou um terrorista", afirmou Kony, numa entrevista ao jornalista britânico Sam Farmar, do jornal "The Times", que foi transmitida ontem à noite pela BBC.

Em Outubro do ano passado, o recém-criado TPI emitiu mandados de captura contra cinco dirigentes do LRA, incluindo o seu líder, acusando-os de crimes contra a humanidade. Segundo a instância, o grupo, que há 19 anos luta contra o regime do Presidente Yoweri Museveni, é responsável por uma sistemática campanha de terror, que inclui raptos, mutilações e o assassinato em série de civis.

"Nada disso é verdade, é apenas propaganda", declarou Kony, naquela que terá sido a sua primeira entrevista em duas décadas a um jornalista estrangeiro, gravada na selva da República Democrática do Congo, onde o grupo instalou nos últimos anos a sua base.

"Deixe-me dizer-lhe o que está a acontecer no Uganda. As tropas de Museveni vão às aldeias e cortam as orelhas das pessoas e depois dizem às pessoas que isso é trabalho do LRA. Mas eu não posso cortar a orelha do meu irmão", afirmou.

Questionado sobre os relatos das atrocidades atribuídas ao seu grupo, de inspiração messiânica, Kony responde: "Sou um ser humano como tu. Tenho olhos, cérebro e visto roupas, mas eles dizem que não falamos como gente, que comemos pessoas. Nada disso é verdade, se eu fosse um assassino como eles dizem você tinha-se encontrado comigo?".

O líder rebelde negou também que o grupo, ao contrário do que alega a instância internacional, tenha sequestrado crianças para as forçar a lutar nas suas fileiras. "Nós não temos campos de milho, cebolas, couves, não temos comida. Se raptássemos crianças como dizem, o que comeriam elas aqui no mato?".

Kony garantiu que todos os seus homens se juntaram ao LRA em resposta à repressão do Presidente ugandês contra as populações do noroeste do país. "É Museveni quem está a oprimir o povo Acholi e a fechá-lo em campos. A nossa riqueza, propriedade foi destruída por ele (...). Eu não mato civis, mato soldados de Museveni".

A entrevista ao jornalista britânico decorreu pouco depois de o líder rebelde ter apelado ao fim de duas décadas de guerra civil e ao regresso às negociações de paz, propondo a mediação do Sudão, país que o Uganda acusa de apoiar os rebeldes.

"As negociações de paz são boas para mim", afirmou. "Se Museveni aceitar negociar comigo será bom. Poderá trazer a paz ao povo do Uganda", concluiu.

Apesar dos apelos, Museveni permanece céptico quanto às intenções dos rebeldes e sustenta que o LRA é agora um movimento sem capacidade de acção, ainda que Kony garanta ter três mil homens ao seu dispor.