Fundamental
Uma capacidade de composição invejável, que não tem peias de atacar pelo lado da melodia infecciosa mas que se compraz em polvilhá-las com pozinhos de sintetizadores pouco ortodoxos. Uma voz de Tennant que recupera a confiança, deixa os tons mais intimistas de "Release", e projecta a imagem, que afinal é a verdadeira essência, de um cinquentão que, apesar de ser usualmente categorizado como um rei das letras irónicas, tem afinal um carinho pelos seus objectos. Pelos homens que correm, ou jazem, pela vida, pela noite, pelos teatros. Pelos londrinos que se sentem, como ele diz em "I made my excuses and left", como um elefante desastrado, na grande e perigosa loja da relações humanas. Tudo isto embrulhado numa grande produção de Trevor Horn, o homem que esteve por trás de outros excelentes discos "homoeurodancepop", como "Welcome to the Pleasuredome", dos Frankie Goes To Hollywood, e que já trabalhara com os Pet Shop Boys em "Left to my own devices". O resultado então foi um tema de sumptuosa orquestração, se bem que tenha demorado mais de um ano a compatibilizar os sintetizadores de Chris, a voz de Neil e a orquestra. Desta vez foi um álbum inteiro, e Trevor consegue um som de uma limpeza e integridade assinaláveis. “Fundamental” vem na senda de discos tão importantes – e seus pais espirituais (como, por exemplo, "The Man-Machine" ou "Speak and Spell") –, na forma como os sintetizadores, as caixas de ritmos, os sequenciadores existem para um efeito preciso, nem demasiado exuberantes nem simplesmente decorativos. "Luna Park" é um, passe o pleonasmo, exemplo exemplar do que dissemos atrás. Um ritmo preciso mas discreto, uma guitarra acústica à Trevor Horn, uma melodia tão simples, um ambiente geral de fantástica relaxe, com pequenos toques de violinos – perfeitamente clássico moderno. O lado mais irrequieto aparece com o single "I'm with stupid", com um refrão infalível e servido com o videoclip com Matt Lucas e David Walliams, os dois protagonistas da série de humor Little Britain, que elaboram uma viagem aos vídeosdos dois Pet Shop Boys circa "Go West". A forma como Lowe e Tennant sancionam este clip é prova de como sempre souberam ironizar com a(s) sua(s) imagem(ns). Neste álbum, deixam de lado a meio da tabela bem comportado de "Release" ou a loucura de descoberta world de "Bilingual", e conseguem uma síntese do que de bom tinham para oferecer ao longo destas duas décadas: bom gosto, cuidado aos pormenores, paixão disfarçada de "blasé". Homens de poucas palavras, definem este disco em quatro palavras que são outros tantos títulos: "Psychological" na abordagem humana, "Minimal" na música, "Integral" na absorção das referências de uma carreira. Numa palavra, "Fundamental".
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Uma capacidade de composição invejável, que não tem peias de atacar pelo lado da melodia infecciosa mas que se compraz em polvilhá-las com pozinhos de sintetizadores pouco ortodoxos. Uma voz de Tennant que recupera a confiança, deixa os tons mais intimistas de "Release", e projecta a imagem, que afinal é a verdadeira essência, de um cinquentão que, apesar de ser usualmente categorizado como um rei das letras irónicas, tem afinal um carinho pelos seus objectos. Pelos homens que correm, ou jazem, pela vida, pela noite, pelos teatros. Pelos londrinos que se sentem, como ele diz em "I made my excuses and left", como um elefante desastrado, na grande e perigosa loja da relações humanas. Tudo isto embrulhado numa grande produção de Trevor Horn, o homem que esteve por trás de outros excelentes discos "homoeurodancepop", como "Welcome to the Pleasuredome", dos Frankie Goes To Hollywood, e que já trabalhara com os Pet Shop Boys em "Left to my own devices". O resultado então foi um tema de sumptuosa orquestração, se bem que tenha demorado mais de um ano a compatibilizar os sintetizadores de Chris, a voz de Neil e a orquestra. Desta vez foi um álbum inteiro, e Trevor consegue um som de uma limpeza e integridade assinaláveis. “Fundamental” vem na senda de discos tão importantes – e seus pais espirituais (como, por exemplo, "The Man-Machine" ou "Speak and Spell") –, na forma como os sintetizadores, as caixas de ritmos, os sequenciadores existem para um efeito preciso, nem demasiado exuberantes nem simplesmente decorativos. "Luna Park" é um, passe o pleonasmo, exemplo exemplar do que dissemos atrás. Um ritmo preciso mas discreto, uma guitarra acústica à Trevor Horn, uma melodia tão simples, um ambiente geral de fantástica relaxe, com pequenos toques de violinos – perfeitamente clássico moderno. O lado mais irrequieto aparece com o single "I'm with stupid", com um refrão infalível e servido com o videoclip com Matt Lucas e David Walliams, os dois protagonistas da série de humor Little Britain, que elaboram uma viagem aos vídeosdos dois Pet Shop Boys circa "Go West". A forma como Lowe e Tennant sancionam este clip é prova de como sempre souberam ironizar com a(s) sua(s) imagem(ns). Neste álbum, deixam de lado a meio da tabela bem comportado de "Release" ou a loucura de descoberta world de "Bilingual", e conseguem uma síntese do que de bom tinham para oferecer ao longo destas duas décadas: bom gosto, cuidado aos pormenores, paixão disfarçada de "blasé". Homens de poucas palavras, definem este disco em quatro palavras que são outros tantos títulos: "Psychological" na abordagem humana, "Minimal" na música, "Integral" na absorção das referências de uma carreira. Numa palavra, "Fundamental".