Louros e morenos em Beverly Hills
"Wassup Rockers - Desafios da Rua", com a sua tendência auto-paródica bastante pronunciada (mesmo que não possamos garantir que seja totalmente voluntária), é um bom exemplo desse estado de coisas. Estamos bem longe da frieza de "Kids" (1995), do seu realismo construído como uma "escultura de gelo", e também estamos longe de algo como "Bully" (2001) e do seu delírio romanesco de "film noir" revisto com protagonistas adolescentes. "Wassup Rockers" traz-nos um Clark mais automático, inclusive no disseminar de sinais e marcas características do universo "autoral" do realizador, por exemplo o seu fascínio com a morfologia imperfeita e "mutante" do corpo adolescente, e com o encontro entre uma psicologia ainda infantil e um físico já adulto - que é o que Clark mais ostensivamente transporta do seu trabalho como fotógrafo. Começa a parecer menos "necessário", com a dimensão de "projecto antropológico" (explanada com força em "Kids") reduzida as umas meras indicações.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
"Wassup Rockers - Desafios da Rua", com a sua tendência auto-paródica bastante pronunciada (mesmo que não possamos garantir que seja totalmente voluntária), é um bom exemplo desse estado de coisas. Estamos bem longe da frieza de "Kids" (1995), do seu realismo construído como uma "escultura de gelo", e também estamos longe de algo como "Bully" (2001) e do seu delírio romanesco de "film noir" revisto com protagonistas adolescentes. "Wassup Rockers" traz-nos um Clark mais automático, inclusive no disseminar de sinais e marcas características do universo "autoral" do realizador, por exemplo o seu fascínio com a morfologia imperfeita e "mutante" do corpo adolescente, e com o encontro entre uma psicologia ainda infantil e um físico já adulto - que é o que Clark mais ostensivamente transporta do seu trabalho como fotógrafo. Começa a parecer menos "necessário", com a dimensão de "projecto antropológico" (explanada com força em "Kids") reduzida as umas meras indicações.
Mais automático, também, no próprio desenvolvimento narrativo. "Wassup Rockers", como de costume, parte de bairros periféricos de Los Angeles. South Central, neste caso, onde o filme se cola a um grupo de adolescentes (quase todos rapazes, pelo menos aqueles que o filme segue) de origem guatemalteca ou salvadorenha. Depois de um preâmbulo que se limita a registar os mecanismos de sociabilização e relacionamento adolescente (com incidência na questão sexual) e traçar as marcas de uma "cultura urbana" específica (são "latinos", "rockers" e "skaters", em oposição, por exemplo, aos "negros", "rappers" e fãs de basketball), Larry Clark leva os seus adolescentes até uma zona completamente diferente de Los Angeles, Beverly Hills nem mais nem menos. É a ideia central do filme: o confronto entre estes miúdos periféricos (em vários sentidos e não apenas geográficos) e o coração branco e abastado da área de Los Angeles. E ver o que acontece - como se uma daquelas populares séries televisivas com miúdos brancos lavadinhos fosse invadida por um grupo de "vândalos" vindo dos subúrbios. Talvez não seja tão simples assim, porque para Clark um adolescente (seja "latino" e pobre ou "branco" e rico) é antes do mais um pequeno monstro sexual, e essa dimensão (pelo menos no filme) nivela uns e outros. Mas não evita a caricatura, e pelo contrário mergulha nela: toda a segunda parte troca a "humanidade" das personagens por uma dimensão de "cartoon", como se Clark quisesse chegar a uma comédia de "lifestyles" mas pelo caminho fosse incapaz de travar a irrisão do seu próprio filme. Estica a corda longe de mais e quando ela parte "Wassup Rockers" expõe-se perigosamente próximo da irrelevância.