Dores de crescimento
Descobre-se assim, com decepção, uma comédia magrinha que pouco adianta para além da repetição, sem grande graça ou originalidade, de uma série de traços que podemos reconhecer de outros filmes que nos últimos anos foram alimentando um estilo de "nova comédia" originado nas fronteiras "independentes" do cinema americano.
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Descobre-se assim, com decepção, uma comédia magrinha que pouco adianta para além da repetição, sem grande graça ou originalidade, de uma série de traços que podemos reconhecer de outros filmes que nos últimos anos foram alimentando um estilo de "nova comédia" originado nas fronteiras "independentes" do cinema americano.
Lembrar "Rushmore" de Wes Anderson ou "Donnie Darko" de Richard Kelly (que não é bem uma comédia mas também não deixa de ser), filmes bem melhores e mais sólidos do que "Thumbsucker" (no caso de "Rushmore" sobretudo a primeira metade) é ficar com meio caminho andado para o "enquadramento" de "Chupa no Dedo": ambiente de "small town" mais ou menos incaracterístico, personagens que ainda são adolescentes mas também já são adultos e por isso ficam num impasse, "misfits" de vária ordem, um olhar sobre os adultos (os pais) que oscila entre a resignação e um desespero mudo, o tipo de humor bizarro a que os anglo-saxónicos chamam "quirky" (Wes Anderson diz que estrafega o próximo crítico que aplicar a expressão a um filme seu, Mike Mills, teoricamente, ainda não tem razões de queixa). É o primeiro filme de Mike Mills, realizador oriundo da área do videoclip (e que não é para confundir com o homónimo baixista dos REM), onde trabalhou com, entre outros, Moby, os Pulp ou os Air (que até têm uma canção com o seu nome). Ponto a favor dele, revela menos preocupação com o "look" do que frequentemente acontece com camaradas seus que passam do videoclip para o cinema - visualmente, "Chupa no Dedo" é um filme bastante simples, sem truques na manga. Ponto a desfavor: é demasiado simples, vive duma "découpage" convencionalíssima, perra de movimentos, respiração narrativa banalíssima, tempo e espaço "lisos". Não vêm daí nem o interesse nem quaisquer surpresas. Procurar interesse aonde, então? Na história (que no centro um rapaz que chuchou no dedo até aos 17 anos, se liberta do "vício" por hipnose e na sequência ganha a auto-confiança que faz dele um campeão de concursos de "argumentação" e cultura geral), que tem os seus momentos, mas sobretudo nas personagens, nalguns actores. Menos, curiosamente, no protagonista (Lou Taylor Pucci), demasiado colado a um "tipo" que é, por exemplo, o que Jason Schwartzman ainda anda a repetir (ver "Uma Rapariga Cheia de Sonhos") desde "Rushmore". E mais nos secundários: é muito mais interessante (embora com muito menos "screen time") o seu irmão mais novo, que tem a melhor frase do filme ("não percebes que enquanto te concentras em ser esquisito eu tenho que fazer o papel do filho normal?"), e sobretudo as personagens dos pais, uma Tilda Swinton em modo de resignação criativa e um Vincent D"Onofrio em pai desajeitado, a remoer as suas próprias frustrações. São as melhores coisas dum filme que nunca chega a ganhar "corpo".