A Time To Love
De 1972 a 1976, Stevie lançou 5 álbuns que estão na lista dos 10 melhores da música negra: "Music of My Mind", "Talking Book", "Innervisions", "Fulfillingness First Finale" e "Songs in the Key of Life"). Desde aí, e à excepção de algumas curiosidades e uma ou outra canção mais certeira, nada de jeito. Até hoje. Ouve-se "A Time to Love” e percebe-se: está uma obra inteira aqui. A pergunta é só uma: o que esteve este homem a fazer nos últimos 29 anos? Ah, simples, simples: à espera que o mundo se pusesse a par do tempo dele. Aparentemente, o mundo está preparado para tirar a conclusão certa: Stevie é um génio que em cinco discos esgotou tudo o que preciso saber acerca de ritmo, contraponto e melodia. Oiçam as batidas que Timbaland ou os Neptunes desenham e depois comparem com a mão esquerda de Stevie no clavichord: as semelhanças não são pura coincidência (Mais: Stevie foi o primeiro, dentro da pop, a procurar uma transformação em que um piano não era um piano e uma guitarra não soava a uma guitarra – ouçam o moderno R & B e tirem conclusões). "A Time to Love" é um compêndio de tudo o que Stevie foi, mas ao invés de reciclar coordenadas é como se sublinhasse as directrizes essenciais, como se reforçasse os vectores que sempre o orientaram: além de quase duas mãos cheias de grandes canções, fornece um compêndio da obra e esclarece. Trinta anos depois, há duas ou três coisas que são óbvias: Stevie, nos melhores momentos, não tem data. Não se põe, sequer, a questão da modernidade: há sempre um truque, um arranjo, um balanço no órgão, qualquer coisa que descentra as canções e as deixa a pairar, qualquer coisa que obriga a ouvir e reouvir cada canção do princípio ao fim. Trinta anos depois é óbvio que não teria havido nu-soul sem Stevie. Trinta anos depois é óbvio que a malta do R & B lhe roubou os trejeitos vocais. Trinta anos depois fica bem a costela clássica a Stevie. Trinta anos depois fica-lhe bem o final grandioso (na canção homónima ao disco) com percussão manipulada digitalmente e coro gospel e a desbunda percutiva a deixar vincada a herança africana. Trinta anos depois Stevie volta a assinar três quartos de um grandessíssimo disco. Trinta anos depois o mundo está pronto para Stevie. So what the fuss?
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De 1972 a 1976, Stevie lançou 5 álbuns que estão na lista dos 10 melhores da música negra: "Music of My Mind", "Talking Book", "Innervisions", "Fulfillingness First Finale" e "Songs in the Key of Life"). Desde aí, e à excepção de algumas curiosidades e uma ou outra canção mais certeira, nada de jeito. Até hoje. Ouve-se "A Time to Love” e percebe-se: está uma obra inteira aqui. A pergunta é só uma: o que esteve este homem a fazer nos últimos 29 anos? Ah, simples, simples: à espera que o mundo se pusesse a par do tempo dele. Aparentemente, o mundo está preparado para tirar a conclusão certa: Stevie é um génio que em cinco discos esgotou tudo o que preciso saber acerca de ritmo, contraponto e melodia. Oiçam as batidas que Timbaland ou os Neptunes desenham e depois comparem com a mão esquerda de Stevie no clavichord: as semelhanças não são pura coincidência (Mais: Stevie foi o primeiro, dentro da pop, a procurar uma transformação em que um piano não era um piano e uma guitarra não soava a uma guitarra – ouçam o moderno R & B e tirem conclusões). "A Time to Love" é um compêndio de tudo o que Stevie foi, mas ao invés de reciclar coordenadas é como se sublinhasse as directrizes essenciais, como se reforçasse os vectores que sempre o orientaram: além de quase duas mãos cheias de grandes canções, fornece um compêndio da obra e esclarece. Trinta anos depois, há duas ou três coisas que são óbvias: Stevie, nos melhores momentos, não tem data. Não se põe, sequer, a questão da modernidade: há sempre um truque, um arranjo, um balanço no órgão, qualquer coisa que descentra as canções e as deixa a pairar, qualquer coisa que obriga a ouvir e reouvir cada canção do princípio ao fim. Trinta anos depois é óbvio que não teria havido nu-soul sem Stevie. Trinta anos depois é óbvio que a malta do R & B lhe roubou os trejeitos vocais. Trinta anos depois fica bem a costela clássica a Stevie. Trinta anos depois fica-lhe bem o final grandioso (na canção homónima ao disco) com percussão manipulada digitalmente e coro gospel e a desbunda percutiva a deixar vincada a herança africana. Trinta anos depois Stevie volta a assinar três quartos de um grandessíssimo disco. Trinta anos depois o mundo está pronto para Stevie. So what the fuss?