"O Comércio do Porto" cessa publicação com um "até à próxima"
"O Comércio do Porto não acaba em definitivo", frisa o seu director, Rogério Gomes, num editorial intitulado "Até à próxima", a mesma expressão usada na manchete.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
"O Comércio do Porto não acaba em definitivo", frisa o seu director, Rogério Gomes, num editorial intitulado "Até à próxima", a mesma expressão usada na manchete.
"Confio que o mais antigo jornal do Continente ressurgirá em breve e continuará o seu papel insubstituível de voz da Região Norte", escreve ainda Rogério Gomes.
Um tom diferente é adoptado por "A Capital", outro jornal controlado pelos espanhóis da Prensa Ibérica, que usa a palavra "Fim" na capa da edição de hoje, a derradeira colocada nas bancas.
A espanhola Prensa Ibérica, detentora de "O Comércio do Porto" e de "A Capital" justificou a suspensão das publicações com a "grave" situação financeira e o falhanço das tentativas para a sua viabilização.
Hoje, numa nota publicada no jornal, a administração insiste que ao longo dos últimos anos os prejuízos foram "muitíssimo avultados", tornando-se "insustentáveis".
"Apesar de a gerência ter estudado formas de resolução do problema que não passassem pela suspensão da publicação, tal não se revelou possível", acrescenta a nota.
De acordo com a administração, o prejuízo da empresa gestora de "O Comércio do Porto", a New D, foi superior a 1,2 milhões de euros no primeiro semestre do ano.
Segundo dados da Associação Portuguesa para o Controlo de Tiragens, as vendas de "O Comércio do Porto" caíram 3,7 por cento, para 3.794 exemplares, nos primeiros três meses deste ano.
Após o 25 de Abril, em pleno Processo Revolucionário em Curso, "O Comércio do Porto" chegou a imprimir 120 mil cópias.
A suspensão do jornal reergueu, ao longo dos últimos dias, as preocupações dos agentes políticos regionais em torno da "perda de influência" do Norte no panorama da comunicação social portuguesa, que teve outro episódio com a incorporação da televisão regional NTV no universo da RTP.
É "mais um duro golpe na perda de influência do Porto no panorama nacional da comunicação social e até mesmo da vida económica", sublinhou o líder do PS/Porto e candidato à Câmara local, Francisco Assis.
A Direcção da Organização Regional do Porto do PCP (DORP) manifestou "total disponibilidade para participar num movimento cívico em defesa desta publicação, contrariando a sua subtracção à vida social e cultural do Porto".
Por seu lado, o deputado do Bloco de Esquerda João Teixeira Lopes apelou à compra massiva de exemplares da última edição de O Comércio do Porto, para que o jornal esgote e se dê "uma lição" aos "investidores-predadores" da Prensa Ibérica, que detém o matutino.
Também o presidente Distrital do PSD/Porto, Marco António Costa, emitiu um comunicado manifestando "preocupação" pela suspensão do jornal que - disse - "tem desempenhado um papel importante na sociedade civil nortenha".
Ainda na área social-democrata, o presidente da Câmara de Gaia, Luís Filipe Menezes, apelou à Junta Metropolitana do Porto para estudar uma solução que garanta a sobrevivência do matutino O Comércio do Porto.
Já o presidente da Câmara do Porto o também social-democrata Rui Rio, aceitou votar uma moção expressando preocupação pela situação no jornal, mas recusou um pedido da CDU para que exercesse junto da Prensa Ibérica uma "magistratura de influência" para evitar que o Comércio deixasse as bancas.
"O Comércio do Porto" saiu pela primeira vez para as bancas a 2 de Julho de 1854, com a designação "O Commercio" e com uma publicação trissemanal.
Vendia-se a 40 reis e veio satisfazer a "necessidade sentida na praça do Porto dum jornal de comércio, agricultura e indústria, onde se tratem as matérias económicas, históricas e instructivas", segundo o primeiro editorial.