Quem tem medo do papão? ninguém!
Produzido por Sam Raimi e realizado por um rotineiro Stephen T. Kay (o autor do limitado "remake" de "Get Carter"), o filme arrasta-se por representações visuais de alucinações e pesadelos sem grande suporte argumental: depressa nos apercebemos de que a história não funciona senão como pretexto para piruetas vazias de sentido com a câmara; tudo se esgota num mais que previsível bocejo de delírios continuados, com o desejo gorado de provocar algum "frisson".
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Produzido por Sam Raimi e realizado por um rotineiro Stephen T. Kay (o autor do limitado "remake" de "Get Carter"), o filme arrasta-se por representações visuais de alucinações e pesadelos sem grande suporte argumental: depressa nos apercebemos de que a história não funciona senão como pretexto para piruetas vazias de sentido com a câmara; tudo se esgota num mais que previsível bocejo de delírios continuados, com o desejo gorado de provocar algum "frisson".
Os efeitos especiais são pobrezinhos, mas nem possuem o lado simpático do terror artesanal, herdeiro da série B. Os actores cumprem (Barry Watson constrói, apesar de tudo, uma personagem credível, dentro da incredibilidade reinante), mas não têm carisma que lhes permita deixar imagem duradoura. Acabada a função, tudo se desvanece na memória: não existe sobretudo uma razão plausível para o esforço de tentar contar uma história que poderia resumir-se numa curta-metragem.
Do ponto de vista narrativo, "The Boogeyman" vive da confusão de estados alucinatórios e de picos falsos de tensão dramática: os lugares comuns do terror mais primário sucedem-se, pois, a uma velocidade de cruzeiro. A cena do motel procura caução em "Psico", de Alfred Hitchcock, mas não passa de uma caricatura de citação; toda a acção decorre sem que percebamos se se trata de um caso de esquizofrenia, de uma experiência alucinogénea provocada ou de uma conspiração concertada. O "puzzle" acaba por assumir-se como "puzzle", mas resulta de uma incapacidade para articular soluções, optando pela facilidade de deixar a escolha ao espectador, derrotado por um "nonsense" intrínseco. A principal questão passa pelas perguntas sacramentais: que se pretende afinal? que acontece de facto? que função desempenha a figura da namorada do protagonista? que terror é este, denunciado e auto-exposto?
A lentidão nunca é resgatada por uma verdadeira razão para perder tempo a observar esforços desesperados para fazer sentido. Pouco justifica, pois, que alguém, para além dos coleccionadores compulsivos do género, tenha interesse por este exercício no vácuo: terror sem terror, "suspense" sem emoção.