Avião vai libertar compostos químicos na atmosfera para fazer chover
Esta tentativa de provocar chuva, numa altura em que se vive uma situação de seca extrema em algumas regiões do país, resulta de uma colaboração entre a Força Aérea - que irá disponibilizar um avião Hércules C-130 - e o Instituto de Estudos Ambientais e de Meteorologia da Universidade Lusófona, esclarece a Força Aérea em comunicado.
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Esta tentativa de provocar chuva, numa altura em que se vive uma situação de seca extrema em algumas regiões do país, resulta de uma colaboração entre a Força Aérea - que irá disponibilizar um avião Hércules C-130 - e o Instituto de Estudos Ambientais e de Meteorologia da Universidade Lusófona, esclarece a Força Aérea em comunicado.
O projecto desenvolvido pelo instituto visa libertar dois compostos químicos - iodeto de prata e cloreto de potássio - que, depois de depositados sobre as nuvens, irão funcionar como elementos aglutinadores da água em suspensão.
Com o aumento do peso devido à água, as partículas vão posteriormente cair sob a forma de chuva, provocando uma reacção em cadeia em toda a região do voo.
De acordo com a Força Aérea, o voo deverá acontecer ao início da tarde, sobre diversas localidades, nomeadamente Coimbra, Castelo Branco e Évora e será coordenado pelos radares meteorológicos do Instituto de Meteorologia, que informarão sobre os locais e altitudes onde estarão as melhores nuvens para o efeito.
A Força Aérea garante que as substâncias libertadas não são prejudiciais nem à saúde nem aos solos.
Independentemente desta iniciativa, o Instituto de Meteorologia prevê para hoje aguaceiros fracos até ao início da manhã nas regiões do norte e períodos de chuva e aguaceiros nas regiões do centro e Alto Alentejo.
Segundo o Instituto de Meteorologia, o passado mês de Janeiro foi o mais seco dos últimos 100 anos em algumas regiões do país, que já mereceram a classificação de "seca extrema".
Durante o mês passado, a quantidade de precipitação ocorrida foi inferior a 20 por cento do normal em todo o território continental.
A falta de chuva está a deixar igualmente as albufeiras portuguesas com um défice de armazenamento de água.
Ambientalistas afirmam que químicos não têm efeitos negativosOs ambientalistas já vieram confirmar que os compostos químicos que serão largados na atmosfera não têm quaisquer efeitos negativos para o ambiente e saúde humana.
"As quantidades que vão ser largadas pelo avião da Força Aérea são mínimas e, por isso, não podem produzir quaisquer efeitos negativos", afirmou à Lusa Eugénio Sequeira, especialista em solos e membro da Liga para a Protecção da Natureza (LPN).
Francisco Ferreira, da associação ambientalista Quercus, defende que em termos de impacte ambiental, dada a fraca escala das experiências, "não deverão existir preocupações". Mas ressalvou que, "mais importante do que gerar chuva, é saber gerir adequadamente os recursos hídricos e evitar as alterações do clima".
O especialista da LPN, por seu lado, frisou que os norte- americanos já lançaram muitas vezes químicos na atmosfera para provocar chuva, especialmente em culturas de algodão na Califórnia. "O que se pretende com este projecto é evitar que as nuvens se desloquem para outros sítios e descarreguem onde são precisas. Aqueles químicos provocam a condensação da humidade, ajudando à formação de gotas de água", adiantou Eugénio Sequeira.
O especialista ressalva, porém, que aqueles químicos "não fazem chuva", apenas ajudam à condensação da humidade "que já lá está", razão porque está "pouco convicto da eficácia do projecto". "O grande problema é que só pode chover a água que lá está", precisou.