A consagração das tecnologias digitais no cinema

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A presença de Redford foi um reconhecimento de que as tecnologias digitais usadas no cinema permitiram acelerar a projecção de produtores e realizadores Barry Sweet/EPA

E se houvesse quaisquer dúvidas sobre isso, Bill Gates, o co-fundador da Microsoft, já há três ou quatro anos que as desfez ao arrematar para si a conferência de abertura, à semelhança do que fez ao longo de mais de dez anos na edição de Outono da extinta Comdex.

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E se houvesse quaisquer dúvidas sobre isso, Bill Gates, o co-fundador da Microsoft, já há três ou quatro anos que as desfez ao arrematar para si a conferência de abertura, à semelhança do que fez ao longo de mais de dez anos na edição de Outono da extinta Comdex.

Outra importante conferência da CES 2005 foi a de Craig Barrett. presidente e "chief executive officer" (CEO) da Intel, o maior fabricante mundial de processadores para computadores e servidores. Barrett - que costuma secundar Bill Gates na exaltação do novo estilo de vida digital - convidou para o palco, num dado passo da sua intervenção, o actor e realizador Robert Redford, que é também um dos impulsionadores do Festival de Sundance, o mais importante certame norte-americano do cinema de autor e alternativo ao de Hollywood.

E a presença de Redford constituiu um merecido reconhecimento de que as tecnologias digitais cada vez mais usadas na produção cinematográfica permitiram acelerar - de uma forma impensável há dez anos - a merecida projecção de produtores e realizadores independentes graças às economias de custos que as tecnologias de informação vieram proporcionar à feitura dos filmes. Não fossem as tecnologias e os equipamentos digitais actualmente ao alcance de qualquer orçamento de produção, e ainda hoje o Festival de Sundance (que se realiza no Inverno, nos contrafortes das majestosas Montanhas Rochosas, não muito longe de Salt Lake City, no estado do Utah) continuaria provavelmente a ser apenas um pequeno evento de obstinados cinéfilos independentes mas cujos filmes seriam desconhecidos de milhões de outros amantes do cinema.

Mas Craig Barrett convidou também Meg Whittman, CEO da eBay (o maior sítio de leilões na Web), a juntar-se-lhe por breves instantes no palco como forma de homenagear uma empresa e um empreendimento que não só se afirmou como um projecto viável como constitui uma das bandeiras das empresas da Internet - mostrando, juntamente com a Amazon.com e umas quantas mais, que os ambiciosos sonhos desencadeados pela Web não se resumiam apenas a maus planos de negócio e à inevitável falência a prazo.

Na véspera da abertura do certame, Gates - num formato de "talk show" a imitar o de Conan O'Brien, que esteve presente e colaborou na encenação, para além de jogar também o "Forza Motorsports" para Xbox com o "chief software architect" da Microsoft - sublinhara alguns exemplos de novos produtos e tecnologias que, em 2004, irromperam na paisagem da electrónica de consumo e da informática para satisfação dos utilizadores. Foi o caso do leitor de música em formato digital da Iriver (na foto), que dispõe de um disco de 5 GB, o que lhe permite reproduzir música em formato MP3 durante algumas 150 horas, guardar e exibir fotos em formato JPEG no seu brilhante ecrã a cores - tudo carregado através de uma porta USB de segunda geração, com débito várias dezenas de vezes superior ao do USB 1.1...

Um aparelho como o Iriver só é possível do ponto de vista da engenharia porque os fabricantes de discos rígidos têm vindo a realizar investimentos cada vez mais significativos na miniaturização de modelos com maiores capacidades. A Hitachi, por exemplo - que, há cerca de dois anos, comprou à IBM a respectiva divisão de discos rígidos e as suas marcas, como a TravelStar ou a Microdrive - pôde apresentar em Las Vegas um minidisco rígido com uma dimensão na ordem dos 25 milímetros mas uma capacidade de 8 gigabytes!

Bill Gates não podia, no entanto, deixar de sublinhar igualmente os esforços que a sua empresa tem desenvolvido para acompanhar os tempos e firmar bem os pés na área do entretenimento e da combinação do PC com a electrónica de consumo - e de que os PC com Windows Media Center são o exemplo mais abrangente, ao pretenderem fazer da plataforma do computador pessoal a plataforma de eleição para tudo o que é informação e lazer no mundo doméstico. Segundo o co-fundador da Microsoft, em 2004 ter-se-ão vendido mais de 1 milhões de unidades de Windows Media Center PC e surgiram novos aparelhos (como o Iriver) e serviços conformes ao seu programa PlaysForSure, concebido para ajudar os utilizadores a tirarem o máximo partido de todos os conteúdos em formatos digitais com um mínimo de esforço e dificuldades. E as versões 10 do Windows Media Player e 2.1 sistema operativo Windows Movie Maker aí estão, a ilustrar a crescente atenção que a Microsoft tem vindo a dar a esta área.

O lazer mais comum - através da música e do vídeo - não tem sido, no entanto, a única vertente da aposta da Microsoft nesta área: também os jogos, as comunicações e a memória (não só fotográfica como documental) tem ocupado os programadores da empresa de Bill Gates e de diversos dos seus parceiros, sempre com uma preocupação comum: "abater as barreiras entre o 'software' e os diferentes aparelhos" postos à disposição dos utilizadores.

"Há um ano atrás, possibilidade que tínhamos de ver televisão ou ver fotografias ou ouvir música estava bastante limitada a um aparelho existente numa única sala de nossas casas", acrescentou John O'Rourke, director de Consumer Strategy da Microsoft. "Hoje, graças a novas tecnologias e produtos como os Windows Media Extenders, os Windows Media Center portáteis e o Windows Media Connect, podemos ver as fotos de família no escritório, ver um filme no quarto de dormir ou ouvir música em formato digital na nossa aparelhagem de alta fidelidade."

Inevitável era a profusão de novos ecrãs digitais na CES 2005, tanto de cristais líquidos como de plasma - sempre maiores e com melhor qualidade e cada vez mais menos caros (pois de barateza não se pode falar ainda, nem nos ecrãs isoladas nem nos televisores que os adoptam...). Um dos fabricantes com novidades no plasma era a Panasonic, desde sempre um dos líderes neste segmento de produtos (ver imagem).

Mas, para serem vistos os seus conteúdos, os DVD têm que ser lidos... e a Apex apresentou em Las Vegas os seus novos leitores digitais portáteis de DVD mas também de música em MP3: os ETG307, com autonomia para cerca de 4 horas de funcionamento contínuo e que será posto à venda a menos de 100 dólares!

E porque um dos pilares da convergência é a fotografia digital, a Kodak apresentou no CES 2005 uma máquina fotográfica, a Easy Share One, dotada de recursos Wi-Fi (para comunicação de dados sem fios) para que os utilizadores possam pôr em rede - ou mesmo na Internet - as suas fotos ainda mais rapidamente.

E é claro que, na maior feira de tecnologias dos EUA, um grupo coreano como a LG Electronics - que anda a pôr em prática uma estratégia de médio prazo para conquistar um lugar ao sol nos mercados ocidentais das tecnologias de informação e das telecomunicações - teria que estar presente com um ênfase particular nas telecomunicações móveis assentes nas normas digitais, pois o respectivo mercado norte-americano, ainda muito "preso" ao analógico por ter sido dos primeiros a desenvolver-se, nos anos 80, apresenta perspectivas de um crescimento da procura de telemóveis digitais muito superior ao da Europa ou dos grandes mercados asiáticos.

Mas porque do cenário da convergência não desapareceram as "velhas" tecnologias de informação, a Advanced Micro Devices (AMD), a rival da Intel no fabrico de microprocessadores para computadores, aproveitou o Consumer Electronic Show 2005 para anunciar para breve o lançamento do Turion, o seu primeiro processador concebido de raiz para os computadores portáteis e capaz de concorrer com a família de processadores Centrino, da Intel. Esta introduziu os Centrino no início de 2003 a fim de dotar os computadores portáteis de menor consumo de energia, por um lado - a fim de aumentar a autonomia proporcionada pela bateria -, e de tirar partido da "onda" das redes sem-fios, pois estes processadores incorporaram circuitos para optimizar o uso de tecnologias como o Wi-Fi.

E esta aposta nos Centrino e nos Pentium M permitiu ainda à Intel arrebatar quase só para si os ganhos decorrentes de os computadores portáteis terem sido os únicos cuja procura continuou a crescer de forma sustentada ao longo dos últimos anos (24 por cento em 2004!) - ao contrário do que se verifica cada vez mais com os computadores de secretária, cujas vendas estagnaram ou retrocederam e cujas margens de rendibilidade têm vindo a ser sucessivamente esmagadas por fabricantes com modelos de negócio altamente eficientes, como a Dell, a HP e certas empresas asiáticas.

Tornou-se, pois, evidente que a AMD não reagira a tempo nem no segmento mais adequado: "A Intel identificou a viragem para a mobilidade bastante mais depressa que a AMD", afirmou Sam Bhavnani, analista da empresa de estudos de mercado Current Analysis, citado pelo diário "Wall Street Journal". "A AMD ganhou alguma quota de mercado à Intel nos computadores de secretária mas num segmento em desaceleração, enquanto a Intel se assenhoreou totalmente do segmento que estava a crescer."

A AMD não revelou muita informação técnica acerca dos Turion, para além de que eles se destinam a "combater" os Centrino e de que assentarão numa arquitectura de 64 bits - o que lhe permitirá endereçar mais memória RAM que os Centrino, de 32 bits, mas pouco mais para já, pois a Microsoft só lá para finais deste ano é que lançará um sistema operativo de 64 bits para computadores-clientes.