conde jim
Sejam o que forem as suas histórias, elas parecem condensar material de diversas origens, literárias (Dickens, Poe, contos de fadas) e cinematográficas (do fantástico ao filme de aventuras), e consubstanciarem-se num "compêndio" gótico sub- "timburtoniano" - mas com bastante charme e muita panache. Brad Silberling, que foi o realizador de "Moonlight Mile", parece ter ficado mais sólido: é comparar "Uma Série de Desgraças" com a sua outra incursão no universo "infanto-juvenil", o pobrezinho "Casper" de há uns dez anos.
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Sejam o que forem as suas histórias, elas parecem condensar material de diversas origens, literárias (Dickens, Poe, contos de fadas) e cinematográficas (do fantástico ao filme de aventuras), e consubstanciarem-se num "compêndio" gótico sub- "timburtoniano" - mas com bastante charme e muita panache. Brad Silberling, que foi o realizador de "Moonlight Mile", parece ter ficado mais sólido: é comparar "Uma Série de Desgraças" com a sua outra incursão no universo "infanto-juvenil", o pobrezinho "Casper" de há uns dez anos.
Uma das particularidades do filme e da narrativa é o facto de não dispensarem uma visão cruel e enegrecida do mundo, pouco comum em objectos apontados às faixas etárias a que aqui presumivelmente se aponta. Aliás, começa logo de maneira engenhosa, com o início do genérico de um filme chamado "The Littlest Elf", interrompido pelo narrador que nos avisa que lamentavelmente não é aquele o filme que vamos ver, mas uma coisa mais trágica, e que se quisermos histórias sobre elfos e mundos de fantasia as devemos ir procurar noutro lado. Depois, dedica-se à "difícil tarefa" de contar a saga dos irmãos Baudelaire, três miúdos a quem os pais acabam de morrer num incêndio. Num registo de viagem semi-maravilhosa semi-monstruosa, por entre cenários que misturam anacronismos vários e um estilo "realisticamente fantasioso" (ou vice-versa), a imaginação visual funciona a todo o vapor, sem ser apanhada em falso - e se é para falar de "magia", sim, em alguns momentos sente-se um eco do carisma dos Disneys clássicos (que por sinal, como "Branca de Neve", tinha "níveis" mais perversos do que os Disneys mais recentes).
O elenco está à altura, e tem "invenções" inesperadas. De Timothy Spall (actor de Mike Leigh) a Meryl Streep (uma viúva paranóica e maníaca da gramática). Passando, claro, pelo centro aglutinador, Jim Carrey, na pele do malvadíssimo Conde Olaf. É um espectáculo à parte, sem deixar de ser um espectáculo "dentro" do filme (coisa que tem tido dificuldade para encontrar ao longo da sua carreira). Desdobra-se em maneirismos, vocais e faciais, remodela o corpo de plano para plano, como se fosse feito de plasticina. E, sem deixar de ser o Conde Olaf mascarado, "re-inventa-o" em duas personagens de impostor que são, por si mesmas, duas criações espantosas (a do Sr. Stefano, italiano especialista em cobras, é um achado). O que tem piada é que, sendo a profissão do Conde Olaf actor, a representação e o cabotinismo permanentes, a noção da "performance" fazem não só todo o sentido na definição da personagem com assentam que nem uma luva ao estilo de Carrey. Que tem aqui o seu melhor papel (e o seu melhor filme) desde o "Homem na Lua" de Milos Forman.