Problema da freguesia de Canas de Senhorim é um "caso político e não de polícia"

Foto
Canas de Senhorim vive mais um período da sua longa luta pela ascensão a concelho Paulo Novais/Lusa

O assessor do Presidente da República, João Gabriel, afirmou ontem à noite que "as posições enunciadas pelo movimento constituem um desafio à democracia" e que as manifestações realizadas durante todo o dia em Canas de Senhorim constituem "apenas um caso de polícia".

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

O assessor do Presidente da República, João Gabriel, afirmou ontem à noite que "as posições enunciadas pelo movimento constituem um desafio à democracia" e que as manifestações realizadas durante todo o dia em Canas de Senhorim constituem "apenas um caso de polícia".

Mas Luís Pinheiro afirma hoje, em resposta, que "o problema de Canas é um caso político e não um caso de polícia. E se houve algum atentado à democracia foi a força policial brutal que enviaram para Canas de Senhorim, só visível antes do 25 de Abril, e o facto de o Presidente da República estar a fugir ao diálogo. Nós só lhe pedimos isso, diálogo".

Luís Pinheiro criticou as declarações do assessor de Jorge Sampaio, afirmando que "[João Gabriel] não deve estar a par do que Jorge Sampaio se comprometeu com o movimento" e recordou que, após o veto da lei-quadro que permitiria criar novos municípios, no Verão passado, "o movimento soube esperar" até conseguir falar com o Presidente.

Segundo João Gabriel, nesse encontro Jorge Sampaio sublinhou que "a não criação do concelho de Canas de Senhorim não significa menor atenção aos problemas da população" e que a freguesia "tem o mesmo direito ao desenvolvimento do restante território nacional e a sua população deve ser tratada pelas autoridades locais e nacionais em condições de igualdade".

O líder do movimento contrapõe: "De facto ele [Jorge Sampaio] disse isso, mas ainda não se viu qualquer consequência. Mas foi mais longe, disse que a situação de Canas só poderia ser resolvida com a criação do concelho, até nos comparou à Bósnia, e garantiu que ia fazer os contactos necessários para resolver a situação".

Pinheiro lamentou que depois disso só tenha havido "silêncio", o que levou a população a voltar aos protestos, primeiro em Lisboa, e desde a semana passada em Canas de Senhorim.

Ontem registaram-se confrontos entre populares e militares da GNR, no decorrer de uma acção dos populares da freguesia que tinha como objectivo reivindicar uma audiência com o Presidente da República para discutir o tema da elevação da freguesia a concelho.

Os populares, concentrados desde as primeiras horas da manhã junto às instalações da Empresa Nacional de Urânio (ENU), tentaram sem sucesso impedir a saída de dois camiões carregados com urânio. Durante a tarde resolveram cortaram a linha ferroviária da Beira Alta.

"Se ele nos tem recebido, nada disto teria acontecido. Não vale a pena transformar Canas num barril de pólvora, basta falar connosco. Se isso não acontecer, temo o pior e o culpado do que vier a acontecer é ele [Jorge Sampaio]", frisou o líder do movimento.

Os populares decidiram na terça-feira à noite, em comício, dar "uma semana de trégua" para que o Presidente aceite recebê-los.

Caso tal não aconteça, os protestos serão retomados na próxima terça-feira, dia em que se prevê a saída do terceiro carregamento de urânio da ENU com destino à Alemanha.