Porquê ela?
O primeiro filme aguentava-se à conta da verve britânica, de diálogos minimamente expeditos, de uma certa desfaçatez que soava com alguma frescura. "O Novo Diário..." serve os mesmos ingredientes, mas o prazo de validade passou: as mesmas personagens, as mesmas conversas, as mesmas preocupações, em versão esvaída e escanzelada. Bastante mais apalermada, também: se Bridget Jones, no primeiro filme, já parecia meia-tontinha, agora está completamente parvinha, degenerescência que afecta todas as personagens (salva-se, vá lá, Colin Firth, que continua a ser um senhor, em perfeito domínio da arte de passar por um filme sem sujar os sapatos).
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O primeiro filme aguentava-se à conta da verve britânica, de diálogos minimamente expeditos, de uma certa desfaçatez que soava com alguma frescura. "O Novo Diário..." serve os mesmos ingredientes, mas o prazo de validade passou: as mesmas personagens, as mesmas conversas, as mesmas preocupações, em versão esvaída e escanzelada. Bastante mais apalermada, também: se Bridget Jones, no primeiro filme, já parecia meia-tontinha, agora está completamente parvinha, degenerescência que afecta todas as personagens (salva-se, vá lá, Colin Firth, que continua a ser um senhor, em perfeito domínio da arte de passar por um filme sem sujar os sapatos).
Temos então Bridget quatro semanas depois de ter começado a namorar com a personagem de Firth (que era como acabava o filme anterior), em espiral obsessiva e maníaca: ele é tão culto e inteligente ("um advogado de direitos humanos"), tão "upper class", tão conservador, que mais tarde ou mais cedo vai perceber que Bridget é pouco interessante e vai trocar por outra. Os fantasmas de Bridget precipitam os acontecimentos, rupturas, zangas, reconciliações, mais rupturas, Hugh Grant (tão "obnoxious" quanto consegue ser), uma viagem à Tailândia, a prisão (claro, na Tailândia tinha que ser), a tomada de consciência (momento supremamente ridículo) e depois, bom, depois o fim do filme.
Durante todo o tempo, muita conversa sobre "shags" (não sabemos se se pode escrever o equivalente português num jornal de referência), que no universo de Bridget parecem ser uma medida, quantitativa mais do que qualitativa, da felicidade romântica (mas nem chega a ser uma descontrução da dita felicidade, e é muito menos "libertário" do que parece; aliás, não há nada de libertário aqui, bem pelo contrário).
É um ponto: o "fenómeno Bridget Jones", que passou de uma coluna de jornal para uma "franchise" cinematográfica, nasceu pela identificação gerada junto de uma faixa do público feminino, que se sentia retratada na personagem e nas suas angústias, e "libertada" no seu comportamento e na sua "franqueza" de linguagem - e isto é, pelo menos, o que nos contam e podemos ler aqui e ali. Ora, medos, inseguranças e angústias, fantasmas e obsessões, temos todos, homens e mulheres, solteiros, casados e etc e tal; a pergunta que se põe é: Bridget Jones porquê? A crise na auto-estima feminina anda assim tão aguçada?