Guta Moura Guedes deverá ser a nova administradora cultural do CCB

Foto
O CCB é um dos maiores equipamentos culturais do país António Pedro Valente (Arquivo)

O cargo foi ocupado por Miguel Vaz até à passada segunda-feira, dia em que o gabinete da ministra da Cultura, Maria João Bustorff, divulgou um comunicado que oficializava a sua exoneração e também a da administradora financeira, Adelaide Rocha, na sequência de divergências com o presidente da instituição, Fraústo da Silva. E apenas cinco dias depois de ter informado pessoalmente os dois administradores da sua saída.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

O cargo foi ocupado por Miguel Vaz até à passada segunda-feira, dia em que o gabinete da ministra da Cultura, Maria João Bustorff, divulgou um comunicado que oficializava a sua exoneração e também a da administradora financeira, Adelaide Rocha, na sequência de divergências com o presidente da instituição, Fraústo da Silva. E apenas cinco dias depois de ter informado pessoalmente os dois administradores da sua saída.

Guta Moura Guedes, 39 anos, é formada em gestão hoteleira, mas tem desenvolvido trabalho na área do “design”, tanto na produção como na divulgação. No âmbito da associação Experimenta, a que preside desde a sua criação, em 1998, dirigiu já três bienais de “design” de Lisboa (1999, 2001 e 2003). Actualmente membro do conselho de administração (CA) da Colecção Francisco Capelo, em exposição no CCB (o acervo constitui o Museu do Design) e adquirida pela Câmara Municipal de Lisboa, Guta Moura Guedes está ainda a preparar uma licenciatura em Design para a Universidade Autónoma.

A “designer”, que trabalhou durante oito anos na gestão de uma empresa turística e desde 1996 tem vindo a participar em diversas exposições colectivas, sucede a Miguel Vaz num clima de crise interna no CCB — as demissões no CA do Centro Cultural de Belém chegam numa altura em que o orçamento para 2005 está por definir e a programação cultural que dele depende ainda por fechar.

Miguel Vaz trabalhou no CCB apenas oito meses e não teve ainda tempo para apresentar a programação. Já Adelaide Rocha dirigiu as finanças da instituição nos últimos oito anos e foi reconduzida em Dezembro de 2003 a pedido do presidente do CCB, quando Fraústo da Silva viu renovado o mandato por mais três anos. O substituto de Adelaide Rocha está ainda a ser discutido.

A demissão de ambos põe fim a um clima de tensão que separava os dois administradores de Fraústo da Silva e que culminou na reunião do conselho em que se opuseram a uma proposta do presidente. Fraústo queria um novo estudo prévio para a criação da Biblioteca das Artes do Espectáculo e os dois vogais não consideraram oportuno o investimento.

Em declarações ao PÚBLICO no sábado, Fraústo da Silva definia o episódio como “a gota de água” na relação com Miguel Vaz e Adelaide Rocha e assegurava que a biblioteca “não é nenhum projecto megalómano”. A demissão dos vogais levou já à saída do assessor para a programação musical, o compositor António Pinho Vargas, que anteontem manifestou o desejo de cessar funções, embora queira ver ainda apresentada a programação para o próximo ano.

“O CCB é um ponto de chegada”

Até à hora do fecho desta edição, o Ministério da Cultura não esteve disponível para fazer qualquer comentário sobre a provável nomeação de Guta Moura Guedes, que também se recusou a prestar declarações. Fraústo da Silva, Miguel Vaz e Adelaide Rocha optaram igualmente pelo silêncio. O PÚBLICO tentou ainda falar com representantes dos partidos com assento parlamentar sobre a crise no CCB, mas foi apenas possível falar com o Bloco de Esquerda e o Partido Socialista.

Para João Teixeira Lopes, do bloco, a Casa da Música e a crise no CCB são “exemplos da clara instabilidade que este Governo tem trazido ao sector da Cultura”. E acrescenta: “No caso do CCB é particularmente grave por causa dos problemas financeiros que a instituição enfrenta. Não se compreende por que razão esta ministra ‘invisível’, da qual se conhecem poucas opiniões, decidiu afastar duas pessoas com um currículo reconhecido.” O socialista Augusto Santos Silva também comentou a situação. “Acompanho a crise do CCB com bastante preocupação até porque me parece que o motivo próximo [a Biblioteca das Artes do Espectáculo] só pode ser entendido como a gota de água que transbordou do copo”, disse, elogiando o trabalho de Fraústo da Silva, nomeado em 1996.

“A estabilidade foi perturbada com a saída de Miguel Lobo Antunes [administrador cultural entre 1996 e 2001] e acabou por não se recuperar mais. Espero que o CCB consiga resolver os problemas de instabilidade e recupere a dinâmica que perdeu nos últimos tempos”, acrescentou o ex-ministro da Cultura. Quanto a Guta Moura Guedes, Santos Silva diz apenas: “Em abstracto, o CCB tem uma história, uma dimensão de actividades e um orçamento que recomendariam personalidades com experiência e provas dadas em matéria de gestão cultural e administração. O CCB é um ponto de chegada, não é um ponto de partida.”