Termina hoje ultimato da ONU ao Sudão para travar as milícias do Darfur
Só na próxima quinta-feira, dia 2 de Setembro, é que o secretário-geral das Nações Unidas, Kofi Annan, deverá apresentar ao Conselho um ponto da situação. Desde já se prevê que o assunto se vá arrastar por mais algumas semanas, já que Cartum soube torpedear a resolução de há um mês e fazer com que tão depressa não seja alvo de sanções.
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Só na próxima quinta-feira, dia 2 de Setembro, é que o secretário-geral das Nações Unidas, Kofi Annan, deverá apresentar ao Conselho um ponto da situação. Desde já se prevê que o assunto se vá arrastar por mais algumas semanas, já que Cartum soube torpedear a resolução de há um mês e fazer com que tão depressa não seja alvo de sanções.
Durante os últimos dias, o marechal de campo Al-Bashir, há 15 anos no poder, tratou de desarmar 30 por cento das suas Forças de Defesa Popular (uma milícia de reservistas), de modo a dar a entender que melhorou a situação no Darfur, onde segundo o especialista norte-americano Eric Reeves teriam morrido nos últimos 18 meses, por meios violentos, mais de 100 mil pessoas.
O representante das Nações Unidas no Sudão, o holandês Jan Pronk, assistiu na sexta-feira em Geneina, no Darfur ocidental, à cerimónia do desarmamento de uma parte das milícias populares, de modo a que, esta semana, possa comunicar ao Conselho de Segurança que alguma coisa já está a ser feita por Bashir.
Segundo Reeves e diplomatas acreditados em Nova Iorque, o Conselho não vai tão depressa fazer nada de concreto para aplicar quaisquer sanções às autoridades de Cartum. Prefere dar-lhe mais algum tempo; até porque o Sudão conta com o direito de veto por parte de certas potências, como a China e a Rússia.
Um "Plano de Acção"Há a notar que, dias depois da resolução impulsionada pelos Estados Unidos, as autoridades sudanesas arranjaram maneira de assinar com a ONU um "Plano de Acção" que lhes concedia mais dois meses para garantir a segurança de todas as pessoas que estão a viver em acampamentos. Agora, o Conselho de Segurança deverá preferir deixar nas próximas semanas o assunto ao cuidado da União Africana (UA), que tem no terreno 120 observadores e 155 soldados para os protegerem.
Uma centena e meia de militares nigerianos deverão seguir para Darfur nos próximos dias, a juntar-se aos ruandeses que já lá estão. Cartum tem-se manifestado renitente em que as tropas da UA, apoiadas pela comunidade internacional, assumam o estatuto de força de manutenção da paz.
O Movimento de Justiça e Igualdade (JEM islamista) e o Exército de Libertação do Sudão (SLM, secular), os dois grupos de rebeldes que, na capital nigeriana, estão actualmente em contacto com representantes de Bashir, não aceitam desarmar os seus guerrilheiros enquanto não houver um compromisso político. Exigem que a elite instalada na capital deixe de aplicar uniformemente as suas leis a todos os povos do país que é o maior de África.
As reivindicações daqueles movimentos radicam num manuscrito que apareceu em Maio de 2000 e que foi chamado de "Al Kitab al Aswad", ou "Livro Negro", um vasto repositório de iniquidades que teriam sido cometidas por sucessivos governantes, todos oriundos de uma zona entre Cartum e Dongola, distantes cerca de 650 quilómetros.
A maior parte dos 15 autores da obra são muçulmanos das tribos negras do Darfur que se formaram pelas universidades da capital, segundo explicou este mês o diário britânico "Financial Times".