Liderança do PS: Manuel Alegre admite candidatar-se a primeiro-ministro

Foto
Alegre propôs a despenalização da Interrupção Voluntária da Gravidez André Kosters/Lusa

"Se eu ganhar o congresso assumirei todas as minhas responsabilidades", afirmou, questionado pelos jornalistas sobre se admitia candidatar-se a primeiro-ministro. Até agora, Manuel Alegre tinha evitado comentar essa hipótese. "Um líder do PS é candidato a tudo,", frisou, sublinhando, no entanto, que "o mais importante" no momento actual é "o PS ter uma liderança".

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

"Se eu ganhar o congresso assumirei todas as minhas responsabilidades", afirmou, questionado pelos jornalistas sobre se admitia candidatar-se a primeiro-ministro. Até agora, Manuel Alegre tinha evitado comentar essa hipótese. "Um líder do PS é candidato a tudo,", frisou, sublinhando, no entanto, que "o mais importante" no momento actual é "o PS ter uma liderança".

Manuel Alegre falava no final da apresentação da sua moção política, intitulada "Mais igualdade, melhor democracia", que decorreu no Hotel Altis, em Lisboa.

Insistindo que o que está em causa no próximo congresso dos socialistas não é o cargo de primeiro-ministro, Manuel Alegre criticou o seu adversário José Sócrates, por se apresentar desde já como candidato à chefia do Governo. "E eu pergunto-lhe quem é o candidato a secretário-geral do Partido Socialista?", ironizou.

Na sua intervenção, Manuel Alegre comprometeu-se a, se for eleito secretário-geral, convocar um novo congresso antes das legislativas de 2006, "para balanço da legislatura, dos resultados eleitorais, da actividade partidária e para aí deliberar então sobre um novo programa do governo".

Na sua intervenção, Manuel Alegre criticou um dos seus adversários na corrida à liderança por "não querer um PS do contra e da resistência", mas nunca referiu o nome do candidato em causa, José Sócrates. "Ouvi e não quis acreditar. O PS nasceu contra a ditadura e fundou-se na resistência", afirmou, defendendo que "o PS tem novamente de se afirmar contra a direita política e dos interesses e na resistência ao desmantelamento do Estado social".

Apresentando a sua moção política como "um acto de inconformismo", Manuel Alegre defendeu que o PS não deve fazer coligações pré-eleitorais, mas sim disputar sozinho as legislativas de 2006 e tentar obter a maioria absoluta. "Contudo, se conseguir uma maioria relativa, deve assumir a responsabilidade de criar condições estáveis de governabilidade. E deve fazê-lo negociando com as forças parlamentares de esquerda", defendeu.

Bastante aplaudido pelos apoiantes, que quase encheram a sala, Manuel Alegre propôs um "novo conceito de Estado, o Estado estratega", "nascido da consciência das falhas do mercado que ao Estado compete corrigir e também da consciência dos limites da intervenção do Estado na economia". "Se a direita diaboliza o Estado, ainda que no nosso país procure viver e crescer à sua custa, a esquerda não pode diabolizar a iniciativa empresarial", disse.

Entre as medidas que defende na sua moção política, Manuel Alegre destacou a "prioridade total" para a mudança na educação, cultura, qualificação, produção e divulgação científica e inovação tecnológica.

Na área da saúde, Alegre propôs o "acesso à saúde reprodutiva para todos" e a despenalização da Interrupção Voluntária da Gravidez, "respeitando obviamente a liberdade de consciência individual", e recusou que os hospitais possam ser geridos por privados.

Aludindo a uma proposta de José Sócrates, que defendeu "um choque tecnológico" para o país, Manuel Alegre considerou que tal proposta "pode existir no domínio do 'marketing', mas não na realidade". "Um processo de mudança acelerada" assentará em três eixos: preparar o desenvolvimento científico e tecnológico, facilitar a transposição do conhecimento para o domínio da realização empresarial competitiva e "incrementar a capacidade de gerir a mudança", sustentou.

A área do trabalho foi também destacada pelo candidato a secretário-geral do PS, que recusou a ideia de que "a adaptação às actuais condições do mercado implique a precarização sistemática dos trabalhadores, em especial dos jovens, e a liberalização dos despedimentos".

Vários socialistas marcaram presença na apresentação da moção de Alegre, entre os quais Manuel Maria Carrilho, Jorge Lacão, Helena Roseta, Maria de Belém e Henrique Neto.

O congresso do PS realiza-se em Guimarães a 1, 2 e 3 de Outubro, depois do secretário-geral do partido ser eleito pelos militantes a 24 e 25 de Setembro. Para além de Alegre e de Sócrates, João Soares também está na corrida à liderança.

Os três candidatos vão intensificar a partir de agora a campanha interna, com reuniões com militantes e debates nalgumas federações. Haverá um debate com os três candidatos na federação de Lisboa, a 6 de Setembro, e outro na federação do Porto, a 18 de Setembro.

Está ainda previsto um debate a três na SIC Notícias, no dia 21 de Setembro. Neste canal de televisão haverá ainda entrevistas com cada um dos candidatos no princípio de Setembro e um único frente-a-frente entre João Soares e Manuel Alegre (a 16 de Setembro), depois de José Sócrates ter recusado participar nos debates a dois.