Maioria dos partidos desiste dos habituais comícios de "rentrée"

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Os comícios costumavam ser uma ocasião simbólica para os partidos marcarem o reinício da actividade parlamentar Tiago Petinga/Lusa

A excepção é o PCP, que, como é habitual, vai realizar um comício na Festa do Avante!, que decorre entre 3 e 5 de Setembro, na Quinta da Atalaia, Seixal. Neste comício, o secretário-geral comunista, Carlos Carvalhas, aproveita para fazer o balanço da situação política e apresentar as iniciativas e prioridades do PCP para o próximo ano.

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A excepção é o PCP, que, como é habitual, vai realizar um comício na Festa do Avante!, que decorre entre 3 e 5 de Setembro, na Quinta da Atalaia, Seixal. Neste comício, o secretário-geral comunista, Carlos Carvalhas, aproveita para fazer o balanço da situação política e apresentar as iniciativas e prioridades do PCP para o próximo ano.

O PSD, que, no ano passado, fez uma festa-comício em Caminha e uma universidade de Verão em Portalegre, resolveu reeditar este ano a segunda iniciativa, na primeira quinzena de Setembro, mas não repetirá a primeira. O programa será apresentado pelo secretário-geral do PSD, Miguel Relvas, na próxima semana.

Do lado do CDS-PP, partido que integra a coligação governamental, não está sequer definida qualquer iniciativa para assinalar a chamada "rentrée", disse o secretário-geral, Pedro Mota Soares. Até ao ano passado, os populares escolhiam habitualmente a cidade de Aveiro para o comício que marca o regresso à actividade. Para o porta-voz do CDS-PP, Pires de Lima, "já não faz sentido" a realização dos habituais comícios de Setembro.

Por seu lado, o PS, em luta interna pela liderança do partido após a demissão de Ferro Rodrigues, tem o mesmo entendimento. O porta-voz socialista, Vieira da Silva, afirmou que antes da marcação do Congresso socialista, que se realiza entre 1 e 3 de Outubro, em Guimarães, já havia uma orientação política para não se fazer qualquer comício. "Antes de se dar a circunstância da marcação do Congresso, tínhamos previsto outro tipo de iniciativa, a universidade de Verão, que seria o momento de arranque", afirmou.

No ano passado, o PS realizou um comício em Portimão e também uma universidade de Verão que juntou dirigentes, autarcas, deputados e ex-ministros. O porta-voz do PS disse que foi feita uma avaliação do impacte político do comício e concluiu-se que ele "já não tinha a importância política que já teve noutros tempos".

Devido à situação interna do partido, a ideia da realização da universidade de Verão acabou por ser também abandonada, já que os socialistas andarão empenhados "em acções que têm que ver com o Congresso", frisou Vieira da Silva.

À semelhança do ano passado, o Bloco de Esquerda assinalará a "rentrée" política também com a realização de uma universidade de Verão entre os dias 10 e 12 de Setembro, na Escola Superior de Educação de Setúbal.

O dirigente bloquista Fernando Rosas considerou que a realização de debates "abertos a quem neles se queira inscrever" é "mais útil". Haverá sessões plenárias e círculos de debate sectoriais que abordarão os temas da saúde, educação, trabalho, imigração e minorias sexuais.

Para a sessão de abertura, o Bloco de Esquerda convidou o escritor paquistanês Tariq Ali, um académico de esquerda que falará sobre globalização. "Nunca fizemos comícios de 'rentrée'. Para quê? Acabaria por ser só mais um. Pensamos que a escola de Verão é mais útil, é um momento para fazer o balanço e ao mesmo tempo perspectivar os grandes desafios do momento para o país. É uma orientação que tem a ver com a nossa filosofia política", explicou Rosas.

Apesar da chamada "rentrée" ser essencialmente uma ocasião simbólica para os partidos se mostrarem ao país quando se reinicia a actividade parlamentar, a desvalorização do comício enquanto comunicação com os militantes e com o eleitorado tem acontecido tanto em Portugal como no estrangeiro, explicou o sociólogo André Freire.

Os comícios, como outras formas tradicionais de comunicação com o eleitorado, tenderão a "ser cada vez mais desvalorizados no futuro", verificando-se desde há algum tempo a alteração das formas de mobilização e comunicação com o eleitorado, acrescentou.

Os partidos do centro começam a privilegiar outras formas de comunicação, tanto para fora como para os militantes, como a utilização dos meios de comunicação social para passar a mensagem, que é cada vez mais apoiada em estudos de especialistas em "marketing" político e sondagens e menos na máquina partidária, precisou o sociólogo.

André Freire sublinhou ainda que, sendo a mobilização nos comícios da responsabilidade do aparelho e das estruturas regionais, a sua desvalorização é um dos exemplos do enfraquecimento da importância dessas estruturas na ligação do partido ao eleitorado. "Caminhamos para partidos assentes em especialistas em comunicação política, em que a estrutura partidária tem menos peso na ligação à sociedade e menos importância no transmitir do sentimento das populações à cúpula do partido".

Para este especialista em Sociologia e Ciência Política, "a desconfiança que as pessoas sentem em relação aos políticos" — que se mede pelos níveis de abstenção eleitoral — é também uma consequência do enfraquecimento da ligação dos partidos à sociedade. Por outro lado, se os partidos se deparam com um tipo novo de eleitorado, eventualmente menos sensível às manifestações de rua ou grandes mobilizações, "haveria que reformular as formas de comunicação e adaptá-las aos anseios das populações", aconselha.