Directores de informação contra uso de gravações não autorizadas
"É absolutamente inaceitável fazer gravações sem que isso seja acertado com a pessoa com quem se está a conversar. Permitir que essas gravações vão ter à mão de terceiros é ainda mais grave", afirma Cáceres Monteiro, director da "Visão". O jornalista diz que, em 35 anos de profissão, nunca recorreu a essas práticas nem se lembra que isso tenha acontecido nas redacções por onde passou. Por isso, garante que jamais publicaria as informações obtidas pelo jornalista do "Correio da Manhã" Octávio Lopes. José António Saraiva, do director do "Expresso", defende a mesma posição. "Não devemos publicar material obtido de forma ilícita. Acho gravíssimo se algum jornal publicar isso".
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"É absolutamente inaceitável fazer gravações sem que isso seja acertado com a pessoa com quem se está a conversar. Permitir que essas gravações vão ter à mão de terceiros é ainda mais grave", afirma Cáceres Monteiro, director da "Visão". O jornalista diz que, em 35 anos de profissão, nunca recorreu a essas práticas nem se lembra que isso tenha acontecido nas redacções por onde passou. Por isso, garante que jamais publicaria as informações obtidas pelo jornalista do "Correio da Manhã" Octávio Lopes. José António Saraiva, do director do "Expresso", defende a mesma posição. "Não devemos publicar material obtido de forma ilícita. Acho gravíssimo se algum jornal publicar isso".
O interesse público é apontado por vários directores como a única justificação possível para uma eventual publicação. "Admitimos referir o conteúdo de alguma passagem, se tiver interesse público", reconhece Cáceres Monteiro. Essa é uma excepção salvaguardada no Estatuto do Jornalista, que prevê a recolha de imagens e sons por meios não autorizados, quando "se verifique um estado de necessidade para a segurança das pessoas envolvidas e o interesse público o justifique".
Também José Manuel Fernandes, director do PÚBLICO, considera que "há situações em que os jornais entendem que devem pisar o risco". "São situações limite, que implicam que os directores e os jornalistas assumam que poderão vir a ser julgados por isso." Mas o caso das cassetes roubadas não é, em sua opinião, uma situação limite. Apesar de ter tido acesso a excertos das gravações, o diário considera que o eventual interesse público dos mesmos não justifica a publicação.
José Rocha Vieira, director executivo da revista "Focus", objecto de uma providência cautelar que impediu a publicação de extractos das gravações, disse ao PÚBLICO que "o depoimento de Adelino Salvado [ex-director da Polícia Judiciária], seria o único com interesse público e político". A publicação permitiria "demonstrar que as violações do segredo de Justiça começam antes dos jornalistas".
O director do "Expresso" considera, porém, que mesmo que um determinado órgão utilize o argumento do interesse público, este "esconde um interesse comercial, e isso é gravíssimo".
A decisão de publicar estas informações é, na opinião de Pedro Tadeu, director do "24 Horas", "altamente discutível". O jornalista considera que se está perante uma situação injusta para o público, já que "grande parte dos jornalistas e dos políticos" tiveram acesso privado às informações, ao contrário do "cidadão comum". Apesar disso, depois de ter tido acesso a uma hora de gravações, Pedro Tadeu assumiu que "99,9 por cento não tinha interesse público". "Até agora, somos solidários com a reserva da identidade das pessoas e decidimos não propagar um crime de gravação ilícita", acrescenta.
O subdirector da SIC, José Gomes Ferreira, afirma que se está em presença de várias infracções. "Se tomássemos a decisão de publicar, estaríamos a violar o sigilo do jornalista, o direito à protecção das fontes e a ser coniventes com crimes de violação de segredo de justiça e de roubo de informação", disse ao PÚBLICO.
Para José Manuel Fernandes, a partir de agora, "algumas fontes vão passar a ter mais cuidado, e isso é positivo". "Há pessoas que dizem coisas aos jornalistas que nunca deveriam dizer, escudando-se no sigilo profissional", e no facto de ser "o jornalista a dar a cara quando há violação do segredo de justiça". Na opinião dos restantes directores, esta situação poderá contribuir para o descrédito do jornalismo. "O jornalismo não funciona sem fontes", afirmou José António Saraiva.