A outra face das estrelas

Escândalos e o reforço dos controlos "antidoping" surpresa afastaram de Atenas 2004 vários candidatos às medalhas

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Kelli White foi suspensa e perdeu os títulos mundiais dos 100 e 200m Thomas Kienzle/AP

No ano passado, a Agência "Antidoping" dos EUA descobriu, a partir de uma denúncia anónima, que o laboratório californiano Balco (Bay- Área Co-Operative Laboratory) criara um esteróide sintético para atletas de elite e desenvolveu uma técnica de despiste. A Agência Mundial Antidopagem (AMA) temia que a tetrahidrogestrinona (THG) já estivesse disseminada a nível internacional, mas a teoria não se confirmou com a reanálise de inúmeras amostras armazenadas. No entanto, a investigação foi suficiente para fazer uma limpeza na equipa olímpica norte-americana.

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No ano passado, a Agência "Antidoping" dos EUA descobriu, a partir de uma denúncia anónima, que o laboratório californiano Balco (Bay- Área Co-Operative Laboratory) criara um esteróide sintético para atletas de elite e desenvolveu uma técnica de despiste. A Agência Mundial Antidopagem (AMA) temia que a tetrahidrogestrinona (THG) já estivesse disseminada a nível internacional, mas a teoria não se confirmou com a reanálise de inúmeras amostras armazenadas. No entanto, a investigação foi suficiente para fazer uma limpeza na equipa olímpica norte-americana.

Regina Jacobs, recordista mundial dos 1500m em pista coberta, Kevin Toth (peso), Melissa Price (martelo) e John McEwen (martelo) foram suspensos devido a testes positivos. Outras provas serviram para pressionar atletas suspeitos de ligações à Balco, entre os quais Kelli White, que não resistiu à pressão e aceitou uma suspensão de dois anos, renunciando aos títulos mundiais dos 100 e 200m e reconhecendo publicamente que se dopara com esteróides e eritropoietina (EPO).

Tim Montgomery, recordista mundial dos 100m, e a sua companheira, Marion Jones, vencedora de cinco medalhas em Sydney 2000, foram também incluídos na extensa lista de atletas investigados - o velocista já foi acusado formalmente de dopagem -, mas nestes e noutros casos os resultados completaram o trabalho das autoridades antidopagem: Marion Jones apurou-se apenas para os 4x100m e Montgomery apresentou-se nas provas norte-americanas de apuramento como um atleta mediano, o mesmo que, segundo o próprio contou à justiça dos EUA, há vários anos foi transformado no recordista mundial através de um plano de dopagem específico, concebido pela Balco.

Quando terminaram os campeonatos de apuramentos, o Comité Olímpico norte-americano precipitou-se ao garantir uma ruptura com o passado, levando a Atenas 2004 uma comitiva limpa. Não esperavam que testes a Calvin Harrison e a Torri Edwards detectassem estimulantes e afastassem dos Jogos Olímpicos o campeão mundial nos 4x400m e a nova líder dos 100m, desde a desclassificação de White.

A incógnita sobre as disciplinas de velocidade no atletismo não é causada apenas pela revolução causada pela mudança da mentalidade norte-americana relativamente ao uso de dopantes. Na Europa, várias estrelas ficaram também pelo caminho, como os casos de Anastasia Kapachinskaya, a russa de herdou de Kelli White o título dos 200m mas que, pouco tempo depois, chumbou num teste efectuado nos Mundiais de pista coberta, e de Vita Pavlysh, ucraniana campeã mundial do lançamento do peso que foi banida do desporto por insistir em usar esteróides.

Da lista de ausências importantes fazem ainda parte o espanhol Albert Garcia, campeão da Europa dos 3000m em pista coberta e 5000m ao ar livre que está suspenso por consumir EPO, o britânico Dwain Chambers, cor-recordista europeu dos 100m que usou THG, a romena Mihaela Melinte, recordista mundial do martelo, e o ciclista escocês David Millar, um dos alvos dos investigadores responsáveis por um inquérito ao tráfico de dopantes no ciclismo profissional francês.