Vírus do Nilo: casos de febre súbita no Algarve devem ser considerados suspeitos

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O vírus é transmitido através da picada de mosquito, pelo que as zonas de águas paradas oferecem maior risco DR

A circular normativa foi enviada ontem pela Divisão das Doenças Transmissíveis da DGS a todos os médicos do país, na sequência do "diagnóstico de infecção por vírus do Nilo Ocidental em dois cidadãos irlandeses". Os dois turistas – um homem de 54 anos e uma mulher de 51 anos – estiveram a passar férias no Algarve, região "da provável transmissão da infecção", segundo a DGS.

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A circular normativa foi enviada ontem pela Divisão das Doenças Transmissíveis da DGS a todos os médicos do país, na sequência do "diagnóstico de infecção por vírus do Nilo Ocidental em dois cidadãos irlandeses". Os dois turistas – um homem de 54 anos e uma mulher de 51 anos – estiveram a passar férias no Algarve, região "da provável transmissão da infecção", segundo a DGS.

Na sequência do diagnóstico a estes dois turistas, a DGS accionou um dispositivo de vigilância multidisciplinar que abrange três áreas: vigilância humana, entomológica (insectologia) e animal.

No caso da vigilância humana, o objectivo do dispositivo é "diagnosticar precocemente casos sintomáticos de infecção por vírus do Nilo Ocidental em seres humanos".

A população alvo desta vigilância é, no sentido mais restrito, "qualquer pessoa que tenha visitado ou permanecido no Algarve na zona de estadia dos doentes irlandeses (Ria Formosa) e num perímetro de 20 quilómetros". No entanto, a DGS considera igualmente como população alvo qualquer pessoa que "tenha passado ou resida no Algarve em zonas particularmente povoadas de mosquitos".

A DGS considera que é um "caso suspeito" qualquer pessoa da população alvo definida por este organismo que "procure cuidados médicos por febre de início súbito e manifestações neurológicas sugestivas de encefalite ou de meningite, ou por febre com início súbito e qualquer manifestação neurológica aguda atípica, sem nenhuma causa identificada".

Esta informação da DGS está a ser distribuída a todos os médicos portugueses, embora se destine principalmente aos médicos do Algarve, onde, em princípio, "se encontra a população exposta a maior risco, em comparação com o resto do país".

"Todos os médicos devem estar atentos ao aparecimento de casos suspeitos", alerta a DGS, recordando que, "dada a mobilidade populacional verificada sobretudo nesta época do ano, pode contrair-se a doença no Algarve e a mesma ser detectada em qualquer outro local".

Assim que foi conhecida a suspeita de infecção, a 22 de Julho, a DGS constituiu um "gabinete de crise" integrado ainda pela Direcção-Geral de Veterinária (DGV), o Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge e o Instituto de Higiene e Medicina Tropical.

A primeira prioridade foi identificar os locais, nalgumas zonas da Ria Formosa, onde poderiam existir animais infectados, com especial incidência nas imediações de regiões com águas paradas. Foi efectuada uma colheita de sangue em aves, que constituem os principais reservatórios do vírus, e um levantamento de animais domésticos mais sensíveis, como cavalos, cães e gatos.

Apesar destas precauções, as autoridades sanitárias consideram que risco da presença do vírus do Nilo Ocidental em Portugal é relativamente baixo.

Causada por um vírus da família do flavivírus (que inclui, entre outros, os da febre amarela e do dengue), identificado pela primeira vez em 1937 no Uganda, a doença, transmitida através da picada de mosquito, ressurgiu na década de 1990, na sequência de um período de seca em África. Aves migratórias terão transportado o vírus para os EUA, onde em 1999 foram detectados os primeiros casos, na cidade de Nova Iorque.

A doença é assintomática em 80 por cento dos casos, sendo que nos restantes, provoca sintomas semelhantes à gripe, podendo evoluir para uma inflamação cerebral (encefalite ou meningite), o que se estima acontecer em menos de um por cento dos casos. Dores de cabeça intensas, febre, rigidez do pescoço, desorientação, convulsões são sinais de alerta.

Os especialistas acreditam que não há razões para alarme na Europa, ainda que a doença esteja em expansão e tenham surgido focos nos últimos anos, nomeadamente na Roménia, em 1996, na Rússia, em 1998 e no Sul de França, no ano passado.