Antigo campeão da Volta a Portugal admitiu envolvimento no tráfico de dopantes

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Lelli mostrou-se «aliviado por tirar o peso do ‘doping’ dos seus ombros» Laurent Rebours/AP

Segundo fontes judiciais, citadas pela Reuters e pela AFP, recaem sob o corredor italiano as suspeitas de “aquisição, posse e transporte de substâncias venenosas”, “incitação e facilitação do uso de produtos dopantes” e “cumplicidade na importação de substâncias venenosas”. Lelli, que no interrogatório se mostrou “aliviado por tirar o peso do ‘doping’ dos seus ombros”, está a apenas um passo de ser acusado formalmente e encontra-se proibido de contactar outros membros da Cofidis, inclusive direcção e funcionários.

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Segundo fontes judiciais, citadas pela Reuters e pela AFP, recaem sob o corredor italiano as suspeitas de “aquisição, posse e transporte de substâncias venenosas”, “incitação e facilitação do uso de produtos dopantes” e “cumplicidade na importação de substâncias venenosas”. Lelli, que no interrogatório se mostrou “aliviado por tirar o peso do ‘doping’ dos seus ombros”, está a apenas um passo de ser acusado formalmente e encontra-se proibido de contactar outros membros da Cofidis, inclusive direcção e funcionários.

O ciclista de 36 anos foi detido na terça-feira, na sede da equipa, em Lille, na sequência de testemunhos de David Millar e Philipe Gaumont, ciclistas já demitidos pela Cofidis que admitiram publicamente e perante Pallain que se dopavam e que têm colaborado com os investigadores, encarregues de levar a tribunal uma rede de traficantes, formada quase na totalidade por antigos ou actuais membros da principal formação do ciclismo francês.

A detenção de Lelli tornou-se praticamente inevitável, principalmente devido à forma pormenorizada como Gaumont, medalha de bronze no contra-relógio por equipas dos Jogos Olímpicos de 1992, e Millar, ontem penalizado com uma suspensão de dois anos e a perda do título mundial do contra-relógio, descreveram as actividades do italiano. Segundo extractos de uma das actas judiciais, recentemente publicados pelo jornal "L’Équipe", Millar revelou perante Richard Pallain que, em 2001, o italiano o aconselhou a dopar-se para se "preparar bem para a Volta à Espanha": "Ele via-me mal com a equipa e comigo mesmo. Entendi o que ele queria dizer. (…) Fiquei com Lelli na sua casa [em Itália] durante duas semanas, em Agosto, e comprámos EPO a vários fornecedores. Eu ficava no carro e dava-lhe 400 francos [60,98 euros] por cada seringa. Era ele quem comprava e foi ele quem me ensinou como administrar injecções subcutâneas no antebraço", contou o escocês.

No total, a polícia gaulesa já deteve para interrogatório nove suspeitos de “infracção à legislação sobre produtos estupefacientes” e “infracção à legislação sobre substâncias venenosas”. O primeiro foi Marek Rutkiewicz (ex-Cofidis, agora na RAGT Semences), detido no dia 13 de Janeiro, quando regressava da Polónia na posse de dopantes. Seguiram-se Bogdan (Bob) Madejak, massagista da Cofidis e alegado cérebro da rede, e Jean-Jacques Menuet, médico da equipa de Lille, entretanto libertado sem ter sido presente ao juiz Pallain. Uma semana depois foram detidos os ciclistas Cédric Vasseur, entretanto readmitido na Cofidis, e Gaumont, em cujo domicílio foi apreendida pela polícia uma quantidade significativa de dopantes (EPO, hormona de crescimento, anfetaminas, esteróides, etc.) e que forneceu à justiça dados para uma posterior detenção do clínico Menuet.

Desde aí, foram também envolvidos Médéric Clain, corredor suspenso pela Cofidis, Oleg Kozlitine, director desportivo de uma equipa de III Divisão, e David Millar, que durante os vários interrogatórios que enfrentou também apontou a Jesús Losa, médico da Euskaltel que lhe terá ministrado EPO em 2003.