Invasão turca de Chipre foi há 30 anos
A operação foi justificada pela necessidade de proteger a população cipriota turca (cerca de um terço dos habitantes da ilha) das perseguições infligidas pela guerrilha dos ultranacionalistas cipriotas gregos da EOKA-B. Planeada em duas fases, implicou a partilha do território e serviu para confirmar a ingerência e manipulação das grandes potências, numa região de decisiva importância estratégica.
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A operação foi justificada pela necessidade de proteger a população cipriota turca (cerca de um terço dos habitantes da ilha) das perseguições infligidas pela guerrilha dos ultranacionalistas cipriotas gregos da EOKA-B. Planeada em duas fases, implicou a partilha do território e serviu para confirmar a ingerência e manipulação das grandes potências, numa região de decisiva importância estratégica.
Ao considerar Chipre como uma “causa nacional”, o então primeiro-ministro turco, Bullent Ecevit, emitiu a ordem de intervenção militar na noite de 19 de Julho, utilizando os direitos dos países “garantes” da independência de Chipre em 1960, para proteger “oficialmente” a minoria turca.
As forças militares turcas conquistam Kirénia (Girne em turco) em 22 de Julho, e nessa mesma noite Ancara aceitou a decisão do Conselho de Segurança da ONU sobre um cessar-fogo. Após esta primeira investida turca, a Junta Militar em Atenas e o “Governo” ultranacionalista cipriota grego dirigido por Nicos Sampson entram em colapso. A democracia regressava à Grécia.
Em paralelo, os ministros dos Negócios Estrangeiros das potências “garantes” da independência de Chipre (Reino Unido, Grécia e Turquia) promovem duas conferências a partir de 25 de Julho em Genebra, na sequência da decisão da ONU.
No entanto, a Turquia decide desencadear uma segunda operação militar entre 14 e 16 de Agosto, que na prática vai implicar a ocupação de 37 por cento do território e a consumação da divisão em dois sectores. 200 mil cipriotas refugiados gregos deslocam-se para Sul, enquanto algumas dezenas de milhares de cipriotas turcos seguem o caminho inverso. Foi imposta uma “linha verde” de 180 quilómetros, controlada por capacetes azuis da ONU e que até hoje divide a ilha de Leste a Oeste.
A “crise de Chipre”, que se arrastava na prática desde 1963, permitiu ao então secretário de Estado dos EUA, Henry Kissinger, e ao Presidente Richard Nixon, utilizarem uma “diplomacia dupla”, expondo uma linha política em público, enquanto secretamente adoptavam outra. E quando se intensificavam os apelos de Kissinger para a “estabilidade da frente Sudeste da NATO”.
Investigações recentes revelaram que no decurso da crise cipriota os Estados Unidos encorajaram em privado os coronéis gregos de Atenas a fomentarem um golpe de Estado em Chipre, ao mesmo tempo que forneciam uma implícita “luz verde” para a posterior invasão da Turquia. Kissinger também foi acusado de incentivar Ancara para a segunda e decisiva invasão de Agosto de 1974.
Este “jogo duplo”, num contexto de Guerra Fria e caracterizado por grandes tensões no Mediterrâneo Oriental, foi então utilizado pelos EUA em vários cenários mundiais apesar da crise interna motivada pelo desfecho do “caso Watergate”, que vai implicar a resignação de Nixon.
Em 1959, tinha sido Eisenhower, então Presidente dos EUA, a pressionar o Reino Unido para a concessão da soberania à ilha de Chipre em troca de bases militares e foi Washington quem negociou secretamente o acordo que legitimou a independência, sob os auspícios das três potências “garantes” do compromisso.
Mas já em 1964 os EUA tinham planos para a divisão de Chipre que previam uma limitada ocupação turca da ilha, e mesmo propostas concretas para obrigar as arqui-inimigas Grécia e a Turquia, membros da NATO desde 1953, a dividirem o território. E durante a ditadura dos coronéis (1967-74) reforçaram-se os laços militares entre a Junta militar de Atenas e os Estados Unidos de Richard Nixon, o que terá encorajado o general Ioannides a prosseguir as suas aventuras militares em Chipre.
Em diversas entrevistas, Henry Kissinger, também secretário de Estado do Presidente Gerald Ford, assegurou que nunca considerou o então Presidente de Chipre, o arcebispo Makarios, como o “Castro do Mediterrâneo Oriental”, e negou qualquer “estratégia” para a sua deposição. Mas admitiu recear que Makarios “conduzisse Chipre para o Bloco de Leste”. E nos planos dos golpistas cipriotas gregos e gregos incluía-se o assassínio do Presidente cipriota grego, que consegue escapar no limite, regressando à ilha apenas em finais de 1974.