Vilar de Mouros despediu-se com a maior enchente desta edição

Houve quem dissesse que havia pó a mais - e havia, o recinto do Festival de Vilar de Mouros esteve bem mais irrespirável do que nas edições anteriores - e houve quem dissesse que havia gente a menos; houve quem se queixasse dos mosquitos (mais ou menos 600 pessoas, números oficiais) e houve quem se queixasse de Bob Dylan. O balanço oficial do Vilar de Mouros 2004, porém, é peremptoriamente "muito positivo", garantiu ontem ao PÚBLICO, minutos depois de Macy Gray encerrar mais uma edição do festival, o responsável da Música no Coração, Álvaro Covões.

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Houve quem dissesse que havia pó a mais - e havia, o recinto do Festival de Vilar de Mouros esteve bem mais irrespirável do que nas edições anteriores - e houve quem dissesse que havia gente a menos; houve quem se queixasse dos mosquitos (mais ou menos 600 pessoas, números oficiais) e houve quem se queixasse de Bob Dylan. O balanço oficial do Vilar de Mouros 2004, porém, é peremptoriamente "muito positivo", garantiu ontem ao PÚBLICO, minutos depois de Macy Gray encerrar mais uma edição do festival, o responsável da Música no Coração, Álvaro Covões.

Com uma audiência que oscilou entre as 16 mil pessoas de sexta-feira e as 24 mil de anteontem - a noite do meio teve a audiência intermédia de 21 mil aderentes - e que encaixa na média normal de espectadores em Vilar de Mouros (15 a 25 mil pessoas), o festival foi, pelo menos para a organização, "uma vitória", sobretudo num "ano difícil" com "grandes eventos atrás de grandes eventos". "Depois das emoções fortes que vivemos nos últimos dois meses, conseguir que as pessoas tivessem predisposição para vir a festivais já foi um feito", sublinhou Álvaro Covões. A enchente do último dia acabou por equilibrar as contas.

Números à parte, a quinta edição consecutiva do festival viveu sobretudo à custa dos concertos acima da média de Chemical Brothers, Peter Gabriel, The Cure e PJ Harvey, divisão internacional, Toranja e Clã, entre os portugueses. Poucas novidades, portanto, o que teve vantagens e desvantagens: o alinhamento foi redundante - Peter Gabriel quase ainda não tinha saído do Rock in Rio e já estava a entrar em Vilar de Mouros; PJ Harvey picou o ponto em Paredes de Coura há menos de um ano; e os Cure, depois de duas visitas ao Sudoeste, começam a ser recorrentes em matéria de festivais de Verão -, mas o festival acabou por estar melhor nas mãos de quem o público português já conhece do que nas mãos de cabeças de cartaz menos assíduos, como Bob Dylan. O que avaliza a estratégia "jogar pelo seguro" que parece ter sido adoptada uniformemente para toda a temporada (Paredes de Coura é, para já, ser a única excepção à regra), mas ameaça transformar os festivais de Verão numa espécie de SIC Gold em que se baralham para voltar a dar os melhores concertos dos últimos anos.

Pó e mosquitos

Uma coisa é certa: ao contrário do que chegou a circular nos últimos dias, Vilar de Mouros é mesmo para repetir no ano que vem. O rumor de que esta seria a última edição do festival foi desmentido pela Música no Coração e pelo presidente da Junta de Freguesia de Vilar de Mouros, Carlos Alves, que no princípio do Outono vai reunir com os promotores "para preparar a edição de 2005", a sexta em outros tantos anos.

"Já apalavrámos algumas ideias, mas no geral queremos manter o formato de 2004, com o palco principal para os grandes nomes e, tal como fizemos este ano pela primeira vez, com o palco secundário de entrada livre, para atrair finalmente as pessoas à cultura popular do Alto Minho e consolidar a aposta nas novas bandas", frisou o autarca. Covões prometeu também ajudar a rever a "estranha" e inexistente divulgação do palco dois no sítio oficial do certame e na página da cervejeira patrocinadora.

Por melhorar ficam ainda aspectos como a parca iluminação nas zonas de campismo, a falta de sinalização, o facto de haver uma só cabine telefónica na aldeia, a gestão dos convites para os 850 moradores da freguesia - este ano, e ao contrário do que tem sido normal, só puderam entrar gratuitamente num dos três dias do evento - e, principalmente, a prevenção face aos mosquitos. E o pó, claro, que foi talvez a imagem de marca desta edição: a erva rasteira que cobria o recinto até sexta-feira foi substituída no sábado por um amontoado de raízes e por uma camada de pó ao nível dos joelhos. No domingo, a camada de pó já estava acima do nariz. Tal como no Rock In Rio Lisboa, na Zambujeira do Mar ou no Ermal, os espectadores voltaram a não ter um piso à altura. O que, diga-se, até nem é difícil nem oneroso em termos de manutenção.

A praga de mosquitos e melgas, por sua vez, fez quase 600 vítimas. Ironicamente, o sítio oficial do festival até tem um jogo que consiste em... matar mosquitos com uma raquete! Na aldeia, que não tem repelentes à venda, o corpo de emergência do festival teve de ser reforçado para 50 efectivos e, mesmo assim, dez casos mais problemáticos de alergia tiveram de seguir para o centro de saúde. O mesmo posto acolheu ainda quase 200 indivíduos a recuperar de excesso de álcool, dos quais uma meia dúzia acabou por seguir viagem para o hospital de Viana do Castelo.