Meta de tratar três milhões de infectados com HIV até 2005 não deve ser alcançada

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Além da distribuição de fármacos, é preciso encontrar financiamentos para infraestruturas sanitárias e pessoal de saúde EPA

Joep Lange, subsecretário do evento e presidente da International Aids Society disse à BBConline que a meta assumida pela OMS, em Dezembro do ano passado, é "inflaccionada" e "irrealista". A OMS escusou-se a comentar.

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Joep Lange, subsecretário do evento e presidente da International Aids Society disse à BBConline que a meta assumida pela OMS, em Dezembro do ano passado, é "inflaccionada" e "irrealista". A OMS escusou-se a comentar.

Para o responsável, o compromisso não será cumprido. "Penso que é impossível", uma posição que é expressa por muitos observadores presentes na cimeira, regista a BBConline. A ser verdade, significa que uma das grandes iniciativas para travar o crescimento da doença terá falhado. Só no passado surgiram cinco milhões de novas infecções, o que perfaz 38 milhões de infectados no mundo. "Avançar com um número sem assegurar que as estruturas existem para fazer cumprir esse plano não é forma mais produtiva de fazer as coisas", continou Lange, numa crítica directa à estratégia das Nações Unidas de combate à sida.

Em comunicado divulgado ontem, a OMS destaca que, seis meses depois de a organização ter lançado a estratégia "Três milhões de pessoas tratadas até 2005", em conjunto com a agência das Nações Unidas para o VIH/sida (Onusida), foram alcançados "progressos consideráveis". Mas o número de pessoas que recebe actualmente tratamento, cerca de 440 mil, é inferior às 500 mil fixadas pela estratégia.

É o próprio director executivo da Onusida, Peter Piot quem admite que o projecto de fornecimento de medicamentos contra a sida está a ser demasiado lento. O progresso lento fica a dever-se, em parte, à falta de verbas, em particular do Global Fund to Fight Aids, lançado há três anos. Por isso, foi ontem lançado um pedido de contribuições financeiras. Além da distribuição de fármacos, é preciso encontrar financiamentos para infraestruturas sanitárias e pessoal de saúde.

A cimeira começa com sinais de alarme no continente onde tem lugar. O relatório da Onusida, conhecido na semana passada, refere que é na Ásia que a doença está a crescer a ritmo mais acelerado - apesar de a África continuar a ser a parte do globo mais afectada - um dado preocupante tendo em conta que 60 por cento da Humanidade vive naquela região. À margem do evento, haverá diversas reuniões de ministros da saúde de 34 países da região para discutir formas de combater a doença que afecta 7,4 milhões de pessoas no continente asiático.

Sintomático é o facto de o primeiro ministro chinês, Wen Jiabao, ter admitido, numa declaração de invulgar franqueza, que na China a doença já afecta todos os sectores da sociedade, nomeadamente as áreas rurais onde vive a maior parte da população, refere a Reuters. Foi só no passado que a China reconheceu que a sida era um problema no país. Cerca de dez milhões de chineses poderão estar infectados nos próximos seis anos.

Mas não basta enviar medicamentos quando não existe pessoal especializado para fazer uma aplicação rigorosa da medicação. Uma deficiente aplicação pode implicar a criação de resistências à medicação, alerta na Internet a TREAT Asia (Therapeutics Research, Education, and AIDS Training in Asia), uma rede de médicos e hospitais liderada pela American Foundation for AIDS Research, com sede em Nova Iorque. Segundo a Reuters, a China tem menos de 200 médicos preparados para aplicar a terapêutica a cerca 840 mil pessoas infectadas.

Começam também a surgir como prioridade os testes de despistagem da doença, tendo em conta que 90 por cento dos doentes com sida ignoram estar infectados, refere a AFP. Embora não se vá ao ponto de defender testes obrigatórios, vários peritos sociais e médicos presentes na conferência defendem que passem de meramente voluntários "a rotina", sempre que alguém procure tratamento para uma qualquer doença sexualmente transmissível ou quando procure cuidados pré-natais, concordou Peter Piot.

A conferência, que se realiza bianualmente, reunirá na capital tailandesa cerca de 20 mil pessoas, entre cientistas, activistas, especialistas de saúde pública, lideres governamentais, doentes com HIV, jornalistas e até celebridades de Hollywood como Richard Gere.