Durão Barroso emerge como o grande favorito à sucessão de Romano Prodi
O nome do primeiro-ministro foi seriamente ponderado por vários países durante a cimeira de lideres da União Europeia (UE) que decorreu na quinta e sexta-feira passada, em Bruxelas, e que se saldou por um impasse em torno da escolha do novo presidente da Comissão Europeia que assumirá funções a 1 de Novembro.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
O nome do primeiro-ministro foi seriamente ponderado por vários países durante a cimeira de lideres da União Europeia (UE) que decorreu na quinta e sexta-feira passada, em Bruxelas, e que se saldou por um impasse em torno da escolha do novo presidente da Comissão Europeia que assumirá funções a 1 de Novembro.
Apoiada nomeadamente pelo primeiro-ministro britânico, Tony Blair, a candidatura portuguesa foi fazendo o seu caminho ao longo dos dois dias da cimeira, depois de ter ficado claro que nenhum dos dois candidatos iniciais - o primeiro ministro belga, Guy Verhofstadt, e o comissário europeu britânico Chris Patten - conseguiria obter um consenso.
Segundo vários responsáveis europeus, o perfil do chefe do governo português corresponde aos critérios preferidos pela generalidade dos Vinte Cinco: é um dos membros do "clube" exclusivo dos primeiros-ministros, é originário de um pequeno país e pertence à família política de centro direita, o PPE, que ganhou as eleições europeias de 13 de Junho. Barroso preenche mesmo os critérios particularmente exigentes fixados pelo Presidente francês, Jacques Chirac: o seu país é membro da zona euro e do espaço Schengen para a livre circulação de pessoas. E, acima de tudo, fala bem francês, a exigência absoluta de Paris.
A candidatura portuguesa conta no entanto com um "senão" : a presença do primeiro-ministro na "cimeira de guerra" dos Açores entre George W. Bush, Tony Blair, José Maria Aznar e Durão Barroso em que foi decidida a intervenção militar no Iraque contra Saddam Hussein, em Março de 2003.
"Durão Barroso reúne as condições necessárias, mas a cimeira dos Açores pesa contra si", reconheceu um diplomata europeu. "É a fotografia que estraga tudo", reconheceu.
As dificuldades ligadas aos Açores foram sobretudo colocadas pelo primeiro-ministro espanhol, José Luiz Rodrigues Zapatero, que não parece particularmente confortável com a escolha de um líder que aparece fotografado ao lado do seu antecessor e ex-adversário político, José Maria Aznar.
Os espanhóis "não querem ninguém da fotografia dos Açores", confirmou outro diplomata europeu.
A posição espanhola traduz, de forma clara, a noção de que o debate entre os Vinte Cinco sobre a sucessão de Prodi se transformou no segundo episódio do confronto entre partidários e opositores da guerra do Iraque que dividiu profundamente a UE no ano passado. De um lado, os países anti-guerra - França, Alemanha, Bélgica, Holanda, Luxemburgo e, desde a queda de Aznar, a Espanha - apoiavam o primeiro-ministro belga; já os aliados dos Estados Unidos preferiam a candidatura alternativa do conservador Chris Patten. O confronto entre os dois campos foi tal que provocou a retirada das duas candidaturas na sexta-feira à noite, colocando as discussões na estaca zero.
Em contrapartida, ninguém tem conhecimento de qualquer tipo de oposição por parte do Presidente francês a Durão Barroso, o mesmo acontecendo com o chanceler alemão, Gerhard Schroeder. O primeiro-ministro poderia mesmo aparecer como uma boa solução para os dois países, em pleno processo de reconciliação com os Estados Unidos.
Apesar da oposição espanhola, os defensores da candidatura portuguesa insistem em manter o seu nome na corrida, na esperança de conseguirem demover as resistências do recém-empossado novo chefe do governo, que participou em Bruxelas na sua primeira cimeira europeia.
Segundo outro diplomata, "a única coisa que a cimeira [de lideres] permitiu clarificar foi que não será possível impôr um candidato ao PPE". Isto aniquila as chances dos dois candidatos socialistas melhor colocados, o comissário português, António Vitorino, e o chefe da diplomacia da UE, o espanhol Javier Solana.
Os outros candidatos do PPE
Hans-Gert Poettering, o democrata-cristão alemão que preside ao grupo do PPE no Parlamento Europeu, afirma, numa entrevista a publicar hoje pelo jornal Die Welt, que o presidente da Comissão terá de ser um de quatro nomes: Durão Barroso, Michel Barnier, ministro francês dos negócios estrangeiros, Wolfgang Schuessel, primeiro-ministro da Áustria, e Jean-Claude Juncker, chefe do governo do Luxemburgo.
Barnier é considerado impossível porque um outro francês, Jean-Claude Trichet, já preside ao Banco Central Europeu, sob pena de provocar uma inflação de franceses em lugares de topo. Schuessel está fora da corrida devido à sua muito contestada coligação governamental com a extrema-direita. Juncker, o candidato que até há pouco reunia um apoio praticamente unânime dos Vinte Cinco, continua a recusar porque prometeu aos eleitores que o reelegeram a 13 de Junho cumprir o mandato até ao fim.
A menos que Juncker mude de posição - o que ninguém está em condições de excluir - resta o primeiro-ministro português. Ora, responsáveis governamentais voltaram ontem a garantir que Durão Barroso não é candidato.
A presidência irlandesa da UE precisou por outro lado ontem que logo que obtiver a garantia de que poderá haver um consenso em torno de um candidato, convocará uma nova cimeira de líderes para o confirmar. Que poderá ocorrer nos dias 27 ou 30 de Junho, precisou um porta-voz.