Google dá brado nos meios bolsistas
A fim de cumprir as condições impostas pela Security and Exchange Commission (SEC) da Bolsa de Nova Iorque, a Google teve que revelar publicamente os seus dados financeiros (ver caixa), que revelam uma saúde uma pujança invejável mesmo para empresas de outros sectores: Vendas em 2003 de 961,9 milhões de dólares (contra 347,8 milhões em 2002) e lucros líquidos no mesmo ano de 105,6 milhões de dólares (99,7 milhões em 2002). E as vendas do primeiro trimestre deste ano - 389,6 milhões de dólares (contra 178,9 milhões um ano antes) - bem como os lucros de 64 milhões de dólares (mais do dobro de um ano antes) "transpiram" uma solidez invejável no seu crescimento, tudo isto numa desfavorável conjuntura económica norte-americana e mundial.
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A fim de cumprir as condições impostas pela Security and Exchange Commission (SEC) da Bolsa de Nova Iorque, a Google teve que revelar publicamente os seus dados financeiros (ver caixa), que revelam uma saúde uma pujança invejável mesmo para empresas de outros sectores: Vendas em 2003 de 961,9 milhões de dólares (contra 347,8 milhões em 2002) e lucros líquidos no mesmo ano de 105,6 milhões de dólares (99,7 milhões em 2002). E as vendas do primeiro trimestre deste ano - 389,6 milhões de dólares (contra 178,9 milhões um ano antes) - bem como os lucros de 64 milhões de dólares (mais do dobro de um ano antes) "transpiram" uma solidez invejável no seu crescimento, tudo isto numa desfavorável conjuntura económica norte-americana e mundial.
Para muitos, no entanto, estes números não serão sustentação suficiente das pretensões dos actuais accionistas da Google, pois os 2700 milhões de dólares estão muito acima dos montantes conseguidos há uns anos por duas outras empresas que são, também elas ainda hoje, símbolos de que nem tudo na Internet foram sonhos sem fundamento. Em Maio de 1997, a Amazon.com angariou "apenas" 54 milhões de dólares na sua primeira operação pública de venda e, no ano seguinte, a eBay - desde sempre o maior sítio de leilões na Web - não foi além dos 64 milhões de dólares.
Mas ninguém poderá negar à Google um trajecto bem singular, não só em termos do seu sucesso como da visão que tem presidido à sua evolução e às suas apostas para o futuro. E a confirmá-lo está também a contratação, em Abril de 2001, de Eric Schmidt (na foto) para "chief executive officer" (CEO) e presidente do conselho de directores da empresa. Schmidt, que abandonara então a chefia executiva da Novell, sucedeu na Google a um dos seus fundadores, Sergey Brin, então com 27 anos (e que passou a presidente da empresa).
Disse-se então que Schmidt fizera uma grande aposta no futuro da Google, e que esta o escolhera devido às provas por ele dadas na concepção e desenvolvimento de tecnologias novas e promissoras - nomeadamente no Computer Science Lab do Palo Alto Research Center (PARC), da Xerox, e como "chief technology officer" (CTO) da Sun Microsystems. "Eric é bem conhecido como tecnólogo brilhante e gestor eficiente. Estas qualidades, bem como o seu espírito empreendedor, conjugam-se bem com a cultura da Google e fazem dele a aquisição perfeita para o nosso conselho de directores", disse na altura Larry Page, o outro fundador da empresa.
A Google foi lançada em Setembro de 1998 por dois jovens - Sergey Brin, de 23 anos, e Larry Page, de 25 anos (na foto da pág. 2) - ambos estudantes da Universidade de Stanford, na Califórnia (e por muitos considerada o cadinho, nos anos 40, do que viria a ser o Silicon Valley), com um capital inicial de 1 milhão de dólares. Haviam-se conhecido em 1995 mas só ano seguinte, nos bancos da universidade, é que começaram a amadurecer a ideia de uma ferramenta que potenciasse o uso da Internet e do cada vez mais inesgotável manancial de informação que ela punha ao alcance dos utilizadores. Essa ferramenta deveria assentar num conjunto de algoritmos capazes de "varrer" em poucos segundos todos os milhares de milhões de páginas disponíveis na Web.
Sergey Brin era filho de russos que haviam emigrado de Moscovo para os EUA no fim dos anos 70 e Larry Page viera do estado norte-americano do Michigan, onde o pai ensinava informática numa universidade local. E a designação Google derivou da palavra "googol", que significa um grande número - 1 seguido de uma centena de zeros.
Conforme relatos citados pela AFP, os primeiros algoritmos foram desenvolvidos e ensaiados em computadores pessoais vulgares e baratos, acessíveis na universidade. Só mais tarde começaram a ser usados em computadores e plataformas de processamento mais poderosas e capazes de os levar aos seus limites de indexação.
Em Maio de 2002, a Google - já então uma das poucas estrelas sobreviventes das empresas da Internet no Silicon Valley - anunciou um acordo com a America Online (AOL) que viria reforçar a sua condição de motor de busca mais usado na Internet. A AOL passou, assim, a usar o Google como o seu serviço de pesquisa geral na Internet, em vez do motor de busca Inktomi. A Google estava então a reintroduzir os Overture Services, conhecidos como GoTo, para serviços de listagens pagas, uma forma de anunciar na Internet em que as empresas pagam para serem incluídas nos resultados das pesquisas. Este seu investimento nas pesquisas pagas estava a ser bem sucedido e a criar dificuldades ao seu principal concorrente de então, a empresa Overture.
A EarthLink, um importante fornecedor de acesso à Internet, acabou por abandonar a Overture e chegou a acordo com a Google - que então se juntou à AOL para adicionar o seu motor de busca aos novos serviços de pesquisa pagos. Uma tentativa da Overture de processar judicialmente a Google - , alegando que esta não respeitara os seus direitos sobre uma patente relativa a pesquisas pagas - revelar-se-ia infrutífera.
O sucesso da Google prosseguiu, galopante, e ainda recentemente a analista Esther Dyson (e colunista de Computadores) se interrogava sobre qual seria, depois deste motor de busca, a próxima "big thing" que a Internet traria aos utilizadores. E são cada vez mais aqueles que olham para a Google, como um completíssimo centro de informação a nível global. É que o seu motor de busca consegue, numa fracção de segundo, localizar qualquer conjunto de dados alguma vez publicados "on-line" ou sobre alguém sobre quem tenha sido escritas duas linhas. Como referia um colaborador de Computadores há dois anos, "ainda recentemente me bastaram apenas 10 segundos para localizar um colega da escola secundária com quem perdera contacto havia 35 anos - e tudo porque ele vinha referido numa 'newsletter' da sua igreja local, do outro lado do mundo".
O ambiente de trabalho na Google sempre foi, como em muitas empresas do Silicon Valley nos anos 80 e 90, de grande descontracção e informalidade, mesmo nos processos de tomada de decisão. "Nós encorajamos a criatividade e toleramos o caos", confessou na passada semana Wayne Rosing, um dos vice-presidentes da empresa, à revista norte-americana "Business Week".
Quando interrogados sobre a raiz do sucesso da Google, Page et Brin falam sempre da matéria cinzenta e das condições a preservar para a criatividade. Às centenas de engenheiros que hoje trabalham na empresa, os seus fundadores e demais responsáveis continuam a exigir que cada um deles dedique pelo menos um dia por semana aos seus próprios projectos de investigação.
Segundo a AFP, terá sido também esta radical filosofia de trabalho que terá convencido, em 1999, duas importantes empresas de capital de risco a procederem a avultados investimentos na Google. Nesse ano, elas participaram num aumento de capital desta empresa privada (o que, nos EUA, significa não cotada em bolsa, passando a Kleiner Perkins Caufield & Byers - talvez a mais famosa das empresas de capital de risco do Silicon Valley - e a Sequoia Capital a deter, cada uma, 10 por cento das acções da Google. Alguns analistas admitem que, quando a projectada operação em bolsa estiver concluída, o valor bolsista da Google chegue aos 20 mil milhões de dólares.