Sida: Portugueses temem contaminação em transfusões de sangue nos hospitais
O inquérito — que pretendeu avaliar o conhecimento que os portugueses têm sobre a sida — foi elaborado pelo Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP), em colaboração com a Comissão Nacional de Luta Contra a Sida (CNLCS), tendo sido apresentado hoje na Figueira da Foz, durante o congresso "Pandemias na Era da Globalização".
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O inquérito — que pretendeu avaliar o conhecimento que os portugueses têm sobre a sida — foi elaborado pelo Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP), em colaboração com a Comissão Nacional de Luta Contra a Sida (CNLCS), tendo sido apresentado hoje na Figueira da Foz, durante o congresso "Pandemias na Era da Globalização".
Segundo o inquérito, 57 por cento dos entrevistados considera que existe um "grande risco" de contrair a doença através de transfusões de sangue nos hospitais.
Por faixas etárias, os mais preocupados são os inquiridos com idades compreendidas entre os 50 e 59 anos (73 por cento), seguida dos que integram o grupo dos 60 aos 69 anos (65 por cento), sendo os mais jovens (15 a 19 anos) os menos preocupados (39 por cento).
Face aos dados apresentados, o sociólogo Fausto Amaro, coordenador de estudo, considerou que o receio das transfusões de sangue "está relacionado com o imaginário das pessoas". "Num país como o nosso, que tem o sistema de sangue controlado, o risco é mínimo. Sangue, sexo e drogas são três palavras carregadas de significado que fazem as pessoas reagir de forma emocional e irracional", defendeu.
A mesma posição foi sustentada por Meliço Silvestre, presidente da CNLCS, que acredita que "este problema resulta mais do imaginário das pessoas que da realidade".
Outros dados levam os investigadores a concluir que existe ainda entre a população portuguesa "muito desconhecimento" sobre a forma de transmissão do vírus.
A questão da picadela do mosquito, que Fausto Amaro considerou como "um dos mitos da sida desde o início da epidemia", foi ainda assim referida por 21 por cento dos entrevistados como sendo um factor de "grande risco" na transmissão da doença.
A percentagem sobe para os 37 por cento em relação ao uso de sanitários públicos, enquanto a partilha de uma refeição com uma pessoa portadora de HIV é factor de risco para 18 por cento dos inquiridos.
Quanto ao comportamento sexual, dos 16 por cento de entrevistados que disseram ter tido mais de um parceiro sexual ou pelo menos um parceiro ocasional no ano anterior, 62 por cento responderam que nunca usavam (20 por cento) ou que usavam às vezes (42 por cento) o preservativo — números considerados "preocupantes" por Meliço Silvestre.
Já Fausto Amaro frisou que os números demonstram que existe "uma diferença entre aquilo que as pessoas acham que se deve fazer e aquilo que fazem na realidade". "Esta situação é das mais preocupantes já que quando perguntámos se era muito perigoso ter relações sexuais não protegidas com uma prostituta, toda a gente disse que era", exemplificou.
Para o sociólogo, os dados recolhidos "exigem encontrar uma estratégia de grande perserverança na luta contra a sida".
O estudo, realizado a 17 e 18 de Abril questionou mil indivíduos, com idades entre os 15 e 69 anos de idade, residentes em Portugal continental, através de entrevistas pessoais complementadas por um questionário confidencial, com uma margem de erro de 3 por cento e nível de confiança de 95 por cento.