Kraftwerk: os robôs pedalam até Lisboa

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Ao longo dos anos, os Kraftwerk mudaram diversas vezes de formação, mas Florian Schneider e Ralf Hütter têm-se mantido à frente do projecto DR

Em Outubro do ano passado regressaram com o álbum "Tour de France Soundtracks" - o seu primeiro registo de originais em mais de uma década -, mas no primeiro espectáculo em Portugal vão apresentar também os temas mais emblemáticos.

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Em Outubro do ano passado regressaram com o álbum "Tour de France Soundtracks" - o seu primeiro registo de originais em mais de uma década -, mas no primeiro espectáculo em Portugal vão apresentar também os temas mais emblemáticos.

Ao longo dos anos, mudaram diversas vezes de formação - o produtor português Fernando Abrantes integrou a formação em 1991 -, mas Florian Schneider e Ralf Hütter têm-se mantido à frente do projecto. Este último, o líder e porta-voz, raramente dá entrevistas e quando o faz revela o menos possível, como o PÚBLICO confirmou. Afinal, o mito tem que persistir.

PÚBLICO - Num dos poucos espectáculos que deram nos últimos anos, em 1998, no Festival Sónar de Barcelona, utilizavam projecções vídeo, animações infográficas e robôs que se diluíam por entre os músicos. O que mudou desde então?


RALF HÜTTER

- Em 2004, temos os Kraftwerk em versão computador-portátil. Todo o nosso material analógico foi reconvertido para o formato digital e essa é a grande diferença. Até há pouco tempo era-nos praticamente impossível transportar todo o nosso material dos estúdios Kling Klang. Era difícil viajar com tecnologia tão pesada. Hoje, com os portáteis e com a cultura digital, é mais fácil realizar uma digressão mundial como aquela que estamos a fazer.

P.- Nos espectáculos desta digressão têm tocado os temas mais conhecidos. É isso que irá suceder em Portugal?

R.- Será uma mistura desses temas com as novidades de "Tour de France Soundtracks". Será uma atmosfera muito audiovisual, com as projecções sincronizadas com a música. Estivemos na Escandinávia recentemente e foi maravilhoso! As pessoas entendem a música electrónica, mas foi óptimo quebrar um pouco mais o gelo... [risos]. Já passámos pelo Japão, regressámos à Europa e segue-se Portugal. Na era digital, podemos viajar e tudo funciona na perfeição.

P.- Mudaram para o digital, mas o imaginário do último álbum, "Tour de France Soundtracks", mantém-se. Mais do que um grupo, são um conceito de imagem-som perfeitamente definido, o que também cria resistências por quem espera que mudem.

R.- O conceito Kraftwerk, tal como foi definido por mim e por Florian [Schneider] nos anos 70, não sofreu grandes alterações. É essa a nossa identidade e não a queremos perder, mas isso não quer dizer que não estamos atentos ao que se passa à nossa volta e que não tentamos transformar-nos à nossa maneira. A nossa música electrónica tem vindo, gradualmente, a mudar. Está mais energética e "Tour de France Soundtracks" reflecte isso.

P.- Ao longo dos anos, sofreram alterações na formação, mas você e Florian Schneider mantiveram-se na liderança desde 1968. Qual o segredo da longevidade dessa relação?

R.- Já lá vão 40 anos. Somos como Kling e Klang... [risos]. É um casamento electrónico perfeito.

P.- No último álbum regressaram ao conceito do ciclismo. Não é propriamente a primeira imagem que nos ocorre quando imaginamos o futuro. De onde vem esse fascínio?

R.- Adoro andar de bicicleta. As bicicletas representam energia, progresso sustentado e atento aos valores humanos, andar para a frente, o entendimento perfeito entre homem e máquina. Não podemos fazer marcha atrás com bicicletas. Com a música acontece o mesmo - o que interessa é andar para a frente, estar atento ao tempo e espaço, manter o balanço certo e encontrar o nosso ritmo. O ano passado, quando estávamos a terminar o álbum, tivemos um convite do director da Volta à França para seguir algumas etapas de helicóptero e no carro oficial. Foi magnífico e permitiu-nos desenvolver as últimas ideias com total confiança no conceito que estávamos a desenvolver. Quando o "Tour" terminou em Paris, tínhamos o disco pronto.

P.- Fala em ritmo e energia, mas nos espectáculos são conhecidos pelas expressões impassíveis e pelos movimentos reduzidos ao essencial. É apenas a música que tem que ser dinâmica?

R. - Ah! Mas nós somos superactivos, emocionalmente e fisicamente. Estamos completamente despertos, mas a manipulação dos computadores e dos teclados é muito sensível e não nos deixa espaço para grandes movimentações. Temos que estar concentrados para não cometer erros.

P.- São um dos grupos mais influentes da música popular e um dos mais citados pelas novas gerações. Como é que lidam com frases como os "Beatles electrónicos"?

R.- É uma energia muito positiva que nos é transmitida por pessoas mais novas. É bom chegar aos 50 anos e, onde quer que vamos, seja a Jamaica ou o Japão, sermos bem recebidos, o que prova que a música electrónica, apesar das diferentes linguagens, ultrapassa eventuais diferenças culturais. É uma forma de comunicação que se impôs, o que, para nós, é um enorme cumprimento. Quando começámos, no final dos anos 60, estávamos confinados às galerias de arte ou às universidades e é gratificante vermos como as coisas mudaram desde então.

P.- O ano passado entrevistámos Fernando Abrantes, que integrou os Kraftwerk em 1991. Dizia-nos ele que, depois dos concertos, era comum deslocarem-se a clubes de música de dança para tomarem contacto com o que se andava a ouvir. Continuam a fazê-lo?

R.- Sim, depois dos espectáculos, normalmente existe sempre alguém que nos convida para ir a clubes de música. É óptimo para praticarmos um pouco da nossa dança robótica e para ouvirmos o que se anda a fazer. Esperamos que em Portugal alguém nos convide. Recordo-me bem do Fernando [Abrantes], fez uma digressão connosco, é um excelente músico, e é muito amigo de um dos nossos engenheiros electrónicos, Fritz Hilpert.

P.- Diz-se que esta será a última oportunidade para ver os Kraftwerk ao vivo, mas também existe quem diga que irá ser lançado um álbum ao vivo depois do final da digressão. Corresponde à verdade ou vão estar mais dez anos parados?

R.- O álbum ao vivo é uma possibilidade e vamos, sem dúvida, editar mais discos. Em Junho, depois da última data da digressão, em Moscovo, vamos parar e decidir o que vamos fazer, mas estivemos tanto tempo sem lançar nenhum disco, devido ao trabalho de masterização e catalogação do material antigo, que estamos desejosos de voltar a estúdio para criar material novo.

KRAFTWERK

LISBOA, Coliseu dos Recreios. R. Portas St. Antão. Tel.: 213240580


Hoje às 22h00. Bilhetes a 25 euros.