Assassinato de Ahmad Yassin: Sharon felicita forças de segurança

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O assassinato de Yassin terá consequências imprevisíveis para a situação na região Alaa Badarneh/EPA

O primeiro-ministro israelita justificou o raide aéreo que reduziu a pedaços o xeque Ahmad Yassin, quando este saía da mesquita após a primeira oração da manhã, como necessário para eliminar "o primeiro entre os assassinos e terroristas palestinianos".

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O primeiro-ministro israelita justificou o raide aéreo que reduziu a pedaços o xeque Ahmad Yassin, quando este saía da mesquita após a primeira oração da manhã, como necessário para eliminar "o primeiro entre os assassinos e terroristas palestinianos".

Numa breve declaração aos deputados do seu partido, o Likud, Sharon congratulou-se com a morte de Ahmad Yassin, considerado por Israel como um dos principais mentores das ofensivas do Hamas, e realçou que os objectivos de vida do líder espiritual do grupo radical islâmico Hamas eram "o assassinato e a morte de judeus, estivessem eles onde estivessem, e a destruição do Estado de Israel".

O xeque foi morto num ataque perpetrado por três helicópteros das forças de segurança israelitas, que lançaram, cada um, um míssil, causando a morte a outros sete palestinianos e ferindo 17.

Ariel Sharon afirmou ainda que o combate contra o terrorismo vai continuar "diariamente, em todo o lado".

Vários ministros israelitas congratularam-se também com o sucedido, afirmando que a operação militar demonstra que "não há imunidade para o terrorismo", nas palavras do ministro das Finanças e antigo primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu.

"Nenhum indivíduo implicado no terrorismo beneficia de imunidade. Pouco importa o seu estatuto. Quer se trate de um xeque ou não, se ele está ligado ao terrorismo, é um terrorista", sustentou Netanyahu, reconhecendo que o assassinato de Yassin poderá gerar, a curto prazo, "reacções vivas do Hamas", mas acreditando que, a longo prazo, "enfraquecerá o Hamas e as outras organizações terroristas, porque ficaram a saber que os seus dirigentes podem ser abatidos".

O vice-ministro da Defesa, Zeev Boim, também considerou que Yassin "merecia a morte" pela sua responsabilidade no assassinato de centenas de israelitas desde o início da segunda Intifada, em Setembro de 2000. O responsável israelita adiantou ainda que outros raides poderão ser efectuados contra dirigentes palestinianos radicais.

O ministro da Segurança estimou, por seu lado, que o raide contra Yassin foi uma mensagem indiciadora de que Israel não está disposto a tolerar o assassinato dos seus cidadãos. "A operação que o Exército israelita realizou esta manhã mostrou, sem equívocos, que o Estado de Israel está determinado a cobrar aos chefes do Hamas o preço pelas mortes indiscriminadas de um milhar dos seus cidadãos em três anos e meio de terrorismo demente", declarou Tzahi Hanegbi, salientando que o xeque era "um dos piores inimigos do Estado de Israel" e "o principal instigador e ideólogo dos 'kamikazes' assassinos".

Ao contrário, o líder trabalhista, Shimon Peres, considerou o ataque "um erro".

Temendo represálias — que já começaram, com a explosão de um carro armadilhado que não provocou vítimas e com manifestações maciças na Cisjordânia e Faixa de Gaza —, Israel ordenou o encerramento das fronteiras com os territórios autónomos e proibiu a circulação dos palestinianos.

UE alerta contra escalada de violência no território

A União Europeia condenou o ataque contra o xeque Yassin, alertando para as consequências de tal acto. Numa declaração comum, os chefes da diplomacia europeia consideram que o "assassinato extrajudicial" aumentará a escala de violência no território.

O antigo enviado especial da UE para o Médio Oriente, Miguel Angel Moratinos, considerou que a situação na região tornar-se-á ainda mais "catastrófica" depois do sucedido. "Ninguém tem uma grande simpatia pelo movimento islâmico Hamas", mas "essas acções extrajudiciais, essas operações selectivas" vão "inflamar ainda mais uma situação já terrivelmente volátil", analisou Moratinos.

As preocupações da UE são partilhadas pela generalidade dos Estados e dirigentes islâmicos. O Presidente sírio, Bachar al-Assad, já criticou "o vil crime" de Israel contra o povo palestiniano e considerou o assassinato de Yassin um acto de "escalada perigosa". O chefe de Estado apelou ainda à comunidade internacional para denunciar a política de assassinatos selectivos seguida por Israel — que tem sido frequentemente utilizada contra vários líderes palestinianos, mas que nunca atingiu uma figura com um simbolismo tão forte como o xeque do Hamas. "Sejam quais forem os pretextos avançados pelo Governo [israelita], esse acto é uma violação flagrante do direito internacional", sustentou Al-Assad.

Também a Turquia criticou o homicídio de Yassin, estimando que "esse género de acções não serve a paz nem a tranquilidade". Ao contrário, "vai embrenhar a região numa atmosfera de confronto da qual será difícil sair".

O líder da Liga Árabe, Amr Mussa, foi mais longe e criticou o "terrorismo de Estado na sua forma mais hedionda". "Essa operação revela as intenções agressivas de Israel e traduz incontestavelmente a sua recusa de um eventual regresso à calma", acrescentou Mussa, recordando que o assassinato ocorre em vésperas da cimeira árabe de Tunes, marcada para 29 e 30 de Março.

O líder palestiniano Yasser Arafat já tinha classificado o ataque como "um crime bárbaro" e decretou três dias de luto pela morte de Yassin nos territórios palestinianos.

EUA garantem que não sabiam de nada

Entretanto, os EUA, que já foram acusados de terem sido coniventes com o assassinato de Yassin, já garantiram que não sabiam de nada. Washington declarou não ter sido informado por Sharon das suas intenções. "Os EUA não foram avisados previamente", disse a conselheira presidencial para a segurança nacional, Condoleezza Rice.

Em declarações à cadeia Fox, a responsável da Casa Branca lançou um apelo à calma na região e garantiu que o Presidente dos EUA não teve nada a ver com o assassinato de Yassin.

O Hamas acredita que Washington deu luz verde a Sharon para liquidar o líder espiritual do movimento islâmico.

O primeiro-ministro britânico, Tony Blair, já condenou a liquidação do líder espiritual do Hamas, considerando-o um "revés" para o processo de paz na região.

As Brigadas Izz al-Din al-Qassam, o braço militar do Hamas, já prometeram vingança sob a forma de um "tremor de terra", matando "centenas" de israelitas para vingar o assassínio do seu líder espiritual. "Aquele que tomou a decisão de assassinar o xeque Ahmad Yassin decidiu, de facto, matar centenas de sionistas", dizem em comunicado.