Cavaco explica hoje o que entende ser a função de Presidente da República
No livro, ao relatar o que foram as suas duríssimas relações com o então Presidente da República, Cavaco Silva explicará - "para quem souber ler politicamente", afirma um apoiante da candidatura presidencial do ex-primeiro-ministro - qual o seu entendimento do que devem ser os poderes presidenciais.
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No livro, ao relatar o que foram as suas duríssimas relações com o então Presidente da República, Cavaco Silva explicará - "para quem souber ler politicamente", afirma um apoiante da candidatura presidencial do ex-primeiro-ministro - qual o seu entendimento do que devem ser os poderes presidenciais.
Cavaco Silva negará o potencial intervencionismo excessivo que alguns lhe apontam ao denunciar - como já o fez durante aquela turbulenta coabitação - as interferências de Mário Soares na esfera de acção do Governo. É, pelo menos, disto que os seus apoiantes estão à espera - de que hoje, ao lançar o segundo volume da autobiografia política, Cavaco defina o que entende como o "perfil ideal do Presidente da República", muito antes, naturalmente, de qualquer anúncio oficial de candidatura às presidenciais de 2006.
No entanto, Cavaco Silva pode surpreender mesmo os seus apoiantes: a 10 de Outubro de 1995, quando anunciou a sua primeira candidatura a Presidente da República, contra Jorge Sampaio, Cavaco Silva colou-se explicitamente ao mandato de Soares, que nos anos anteriores tinha renegado. "Os portugueses em geral apoiam, gostaram, gostam da forma como o dr. Mário Soares tem exercido a sua magistratura", disse Cavaco Silva no dia em que formalizou o seu avanço para Belém, fazendo tábua rasa do passado recente.
O "tacticismo" desta declaração explica que, hoje, para manter a porta aberta em relação a uma candidatura presidencial, o antigo presidente do PSD possa vir a não ser muito duro com Soares na sua versão dos acontecimentos da negra coabitação. Segundo sectores do PSD, esta táctica servirá a Cavaco para manter alguma simpatia que as sondagens dizem que os eleitores de esquerda têm em relação à sua candidatura e, em última análise, porque há figuras destacadas do PS que têm, em privado, impulsionado o avanço de Cavaco Silva.
PSD cada vez mais convencido que Cavaco avançaO PSD, por seu lado, está cada vez mais convencido que Cavaco Silva avança para as presidenciais em 2006. Depois do vice-presidente do PSD, Santana Lopes, ter vindo anunciar a sua disponibilidade para ser candidato, vários dirigentes sociais-democratas que, à partida, preferiam ver Santana em Belém, são da opinião que o mais provável é que seja Cavaco a apresentar-se a eleições.
No entanto, na sessão de lançamento do livro, na FNAC-Chiado, em Lisboa, é natural que Cavaco Silva continue a alimentar o seu tabu sobre a candidatura presidencial. Na semana passada, quando participou num debate sobre a Europa, na Assembleia da República, foi questionado sobre se tencionava falar de presidenciais no dia de hoje e respondeu apenas que vai "apresentar aquilo que se costuma chamar memórias políticas". O receio no PSD é de que Cavaco continue a dar "sinais contraditórios", como tem estado a fazer.
As memórias sobre as relações difíceis entre o primeiro-ministro Cavaco Silva e o seu então secretário de Estado da Cultura, Pedro Santana Lopes, irão ser também objecto de grande curiosidade. Entretanto, Santana Lopes já se antecipou à divulgação do livro e na semana passada reafirmou, através do semanário "Independente", a sua versão sobre os motivos da sua saída do Governo. Santana diz que saiu do cargo de secretário de Estado da Cultura, em Dezembro de 1994, porque não aceitava o tabu a que Cavaco então amarrou o PSD sobre a sua intenção de se candidatar às presidenciais de 1996.
Santana Lopes tentou condicionar o ex-primeiro-ministro, quando, em recente entrevista ao "Expresso", disse que o prazo para o candidato presidencial da direita se assumir é logo depois das europeias. Os cavaquistas garantem que não têm ainda a certeza se Cavaco vai avançar ou não, mas o "timing" que pretendem não é este. De qualquer forma, está tudo a postos para, que assim que Cavaco Silva dê luz verde, seja constituída a comissão de candidatura. O ex-primeiro-ministro sabe disso.
Se Cavaco avançar, a incógnita será o que vai fazer Santana. No PSD, um dos cenários que é equacionado é o de que o autarca de Lisboa não deverá suspender as tréguas com Durão e que a sua ambição é a de, depois do papel de putativo candidato a Belém em que vai coleccionando apoios, ganhar cada vez mais peso no PSD. Havendo congresso do partido no final do ano, Santana ajudaria a formar uma comissão política que lhe seja favorável. O risco, alertam alguns sociais-democratas, é o PSD vir a tornar-se um partido hostil ao (eventual) futuro Presidente da República (Cavaco Silva).