Desastre do Columbia mudou o curso da exploração espacial
Assim sendo, apenas alguns engenheiros da NASA, no centro de controlo das missões em Houston, no Texas, estavam preocupados em assegurar que os sete tripulantes regressassem sãos e salvos. Mas o desfecho trágico da última viagem do Columbia pode ter mudado o curso das últimas décadas da exploração espacial.
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Assim sendo, apenas alguns engenheiros da NASA, no centro de controlo das missões em Houston, no Texas, estavam preocupados em assegurar que os sete tripulantes regressassem sãos e salvos. Mas o desfecho trágico da última viagem do Columbia pode ter mudado o curso das últimas décadas da exploração espacial.
Tão pouca atenção estava a ser prestada a esta missão que os dois radares em solo norte-americano que poderiam estar a controlar a reentrada na atmosfera do Columbia estavam desligados, diz William Langewiesche num extenso artigo publicado em Novembro na revista "The Atlantic Monthly" ("O último voo do Columbia").
A tragédia - que parecia uma reedição impossível da explosão do vaivém Challenger, em 1986 - foi alvo de uma investigação de meses. A comissão de inquérito do acidente revelou que a NASA era uma agência governamental paralisada pelo tamanho, pelos cortes orçamentais e por uma rotina que travava a tomada de decisões, por mais urgentes que fossem - como pedir a outra agência federal imagens do lançamento do Columbia, onde fosse possível verificar se o pedaço de espuma isolante que se soltou tinha danificado as telhas de protecção térmica que cobriam a asa esquerda do vaivém.
Este retrato desanimador da NASA revelava também uma crise profunda nos próprios objectivos da agência que é o principal motor mundial da exploração humana do espaço. Uma das recomendações do painel que investigou o acidente prendia-se com a necessidade de analisar e reformular as actividades da NASA.
É neste contexto, e com as eleições presidenciais norte-americanas a aproximarem-se, que o Presidente dos EUA parece ter ganho um interesse pelo espaço que antes não se lhe conhecia.
Em 2000, antes das eleições, Bush não foi mais além de falar da necessidade de exercer uma fiscalização apertada sobre o projecto da ISS. Revelador de que não existia propriamente uma bolsa fervilhante de ideias relativamente à exploração espacial era o facto de Al Gore, o seu rival democrata, também não propor mais do que completar a estação.
Mas, no final de 2003, começaram a surgir boatos mais ou menos entusiasmantes - ou preocupantes, dependendo das opiniões - de que a Administração Bush ia propor um regresso à Lua. Em Janeiro, a menos de um mês do aniversário da tragédia do Columbia, Bush propôs mesmo um regresso da exploração tripulada do sistema solar, e não apenas de permanências na órbita da Terra. A Lua e Marte voltam à ribalta.
Bush sublinhou que não pretende lançar uma nova corrida espacial, como a que opôs os EUA e a União Soviética na década de 60, e abriu portas à colaboração internacional. Manifestações de interesse pelos planos norte-americanos já surgiram - as empresas e cientistas russos mostram um ansiedade notória para serem incluídos, a Europa está entre o receio e o interesse por novas possibilidades, a Índia ansiosa e outros novos candidatos a potências espaciais aguardam para ver.
Só a China, que se tornou o terceiro país a pôr um astronauta em órbita, pelos seus próprios meios, se mantém reservada, com os seus próprios planos de missões tripuladas à Lua.
Mas a verdade é que tudo isto são ainda castelos nas nuvens: falta ainda saber planos concretos da NASA e também números em dólares. Só amanhã esses planos, com contas feitas, deverão ser apresentados ao Congresso dos EUA pelo administrador da agência espacial norte-americana, Sean O'Keefe.
A recepção, no entanto, não deverá ser das mais entusiasmadas: tanto os políticos como o público têm recebido o proposto regresso das viagens interplanetárias com um sobrolho algo carregado. Por mais que Bush e O'Keefe digam que os novos planos espaciais são compatíveis com a necessidade de reduzir o défice e até com a presença norte-americana no Iraque e no Afeganistão, essas declarações têm sido temperadas com umas pitadas de cepticismo.