ONG denuncia casos de pedofilia na Madeira ao Parlamento Europeu
Cláudia Neves, a dirigente nacional da ONG que avançou ao PÚBLICO, há cerca de três semanas, que existem estrangeiros a fazer filmes pornográficos com crianças da Madeira e que vários menores chegam mesmo a sair da ilha para entrar em circuitos pedófilos internacionais, vai participar na iniciativa, onde pretende mostrar que esta é uma realidade, não só naquele arquipélago, mas de norte a sul do país, incluindo os Açores.
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Cláudia Neves, a dirigente nacional da ONG que avançou ao PÚBLICO, há cerca de três semanas, que existem estrangeiros a fazer filmes pornográficos com crianças da Madeira e que vários menores chegam mesmo a sair da ilha para entrar em circuitos pedófilos internacionais, vai participar na iniciativa, onde pretende mostrar que esta é uma realidade, não só naquele arquipélago, mas de norte a sul do país, incluindo os Açores.
A responsável denunciou à edição de 11 de Janeiro do PÚBLICO "que há crianças em perigo, que há redes, que há estrangeiros que vão lá [Madeira] fazer filmes pornográficos". Cláudia Neves deu o exemplo de um menino alemão, que contou ter estado na ilha a rodar cenas de sexo e que acabou por ser resgatado de uma rede pedófila pela Inocência em Perigo.
Apesar das denúncias da dirigente da ONG, a Polícia Judiciária disse desconhecer casos concretos da existência de redes organizadas de pedofilia na Madeira ou de prostituição infantil. Porém, o coordenador da PJ no Funchal, Vítor Alexandre, admitiu que "uma coisa é a realidade e outra a realidade conhecida". Afirmou ainda que sem registo de crianças desaparecidas, pode "haver pais que mascaram a saída de filhos para o estrangeiro.
Um dos casos sobre práticas ligadas à pedofilia na ilha que ficou mais conhecido foi o que envolveu, em 1991, o holandês Albert Mullenders, condenado a quatro anos de prisão pelo Tribunal do Funchal pela prática do crime de associação criminosa, que consistia na angariação de menores e jovens para a prática de actos sexuais, cenas que eram gravadas em vídeo para reprodução e comercialização em circuitos pedófilos.
Os jovens provinham das zonas mais pobres da ilha, como Câmara de Lobos, e a rede era constituída por outros cinco homens, entre os quais um português e dois belgas.
Apesar de mais de doze anos volvidos sobre este caso, Cláudia Neves diz que esta é ainda uma realidade, mas "mais escondida".
"Na Madeira, a realidade chocante da pobreza facilita a vida aos pedófilos para que estes seduzam as crianças. Isso acontece hoje como antes", acrescentou a responsável à Lusa, frisando que o objectivo é trazer "todos os responsáveis pelos abusos à justiça e não apenas alguns, como aconteceu anteriormente".
Amanhã, em Bruxelas, Cláudia Neves irá participar na audição com o tema "Tráfico de crianças para fins de exploração sexual numa Europa alargada", onde a dirigente da ONG pretende mostrar também um filme que mostra uma alegada rede de venda de crianças por cidadãos de nacionalidade romena, em Lisboa.
Além da Inocência em Perigo, que se fará representar também pelo coordenador do PCP-Madeira, Edgar Silva, estarão presentes no encontro três deputadas do grupo parlamentar da Esquerda Unida do Parlamento Europeu, entre as quais a portuguesa Ilda Figueiredo. Outras das presenças confirmadas será a do comissário europeu da Justiça e Assuntos Internos, António Vitorino, e de especialistas nesta matéria provenientes de outros países europeus.