Morreu José Carreira, impulsionador do sindicalismo na PSP

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O activista morreu de doença prolongada André Kosters/Lusa

O presidente da Associação Sócio Profissional da Polícia (ASPP), Alberto Torres, disse que José Carreira "tinha uma doença que se prolongava já há algum tempo, e nos últimos tempos teve várias complicações".

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O presidente da Associação Sócio Profissional da Polícia (ASPP), Alberto Torres, disse que José Carreira "tinha uma doença que se prolongava já há algum tempo, e nos últimos tempos teve várias complicações".

José Carreira foi internado no Curry Cabral há 15 dias, acabando por falecer hoje, por volta das 08h30, disse o responsável da ASPP.

O corpo vai estar em câmara ardente na Igreja de S. Maximiano, em Chelas, e a missa de corpo presente realiza-se amanhã pelas 09h30, seguindo o funeral para o cemitério do Alto de São João.

Vida de activista

José Carreira foi um dos principais responsáveis pelo movimento de representação sindical e laboral na polícia. Ficou também na história da PSP como protagonista do episódio do Terreiro do Paço que opôs polícias a polícias, conhecido como a história dos "secos e molhados".

A 10 de Março de 1989 a ASPP organizou, pela mão de José Carreira, o primeiro encontro nacional de polícias. Eram mais de mil, fardados e à paisana, juntos em Lisboa, numa atitude reivindicativa — algo inédito. Em Fevereiro desse ano, José Carreira, com apenas 33 anos, fora eleito por unanimidade para o cargo de coordenador nacional da associação sindical da PSP. Foi ele que, em 1982, se dirigiu ao Ministério do Emprego para apresentar o estatuto do sindicato para registo. Só em 1989 o movimento pró-associação sindical da PSP levaria o empurrão definitivo.

A 8 de Abril de 1989, a ainda pró-associação profissional da PSP convocava um segundo encontro nacional para dia 21 de Abril, às 16h00, na Voz do Operário, também em Lisboa.

Nesse dia, na Praça do Comércio, os activistas ganharam a batalha entre "secos e molhados", ou seja, entre polícias e agentes do Corpo de Intervenção, chamados pelo ministro da Administração Interna, Silveira Godinho, para rechaçar os colegas que se manifestavam à porta da tutela pelos seus direitos laborais.

José Carreira dizia ao PÚBLICO, em Março de 2002, que lembrava de forma "muito intensa" os acontecimentos de 1989. "Valeu a pena, obtivemos conquistas muito importantes", reconhecia o carismático líder, que muitas vezes pôs em causa e em suspenso a sua carreira profissional pela luta sindical.

Treze anos depois dos "secos e molhados" e muitos ministros depois, os polícias já se podiam manifestar, com a entrada em vigor da lei que permite o sindicalismo na polícia.

José Carreira começou a trabalhar aos 12 anos na indústria têxtil de Mira d'Aire. No fim da década de 70, entrou na Escola de Polícia e começou a participar em algumas reuniões pró-sindicalização.

Com mais de dez anos na presidência da maior associação de polícia, José Carreira decidiu abandonar em 1998 aquele cargo, por motivos de saúde, revelando gratidão pelos "muitos secos que aderiram à ASPP e se juntaram à luta profissional".