Mergulhadores da Marinha atingiram profundidade recorde em Portugal
Antes, o Destacamento de Mergulhadores Sapadores, na Base Naval do Alfeite, perto de Lisboa, tinha capacidade detectar, identificar e destruir minas - ou para trabalhar em ambiente de guerra de minas, como lhe chamam os militares - até aos 54 metros, usando equipamento desenvolvido na Alemanha.
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Antes, o Destacamento de Mergulhadores Sapadores, na Base Naval do Alfeite, perto de Lisboa, tinha capacidade detectar, identificar e destruir minas - ou para trabalhar em ambiente de guerra de minas, como lhe chamam os militares - até aos 54 metros, usando equipamento desenvolvido na Alemanha.
Para os mergulhadores poderem ir até aos 81 metros foram comprados, em 2001, cinco equipamentos de mergulho profundo autónomo que funcionam em circuito semi-fechado, fabricados no Canadá. Há, assim, saída de gás para o exterior do equipamento, que pode utilizar uma mistura de hélio com oxigénio ou de azoto com oxigénio, explica Paulo Martins. Abaixo dos 42 metros, usa-se hélio com oxigénio, para evitar o efeito de narcose, ou embriaguez do mergulhador, criado pelo azoto: é como se o mergulhador tivesse bebido dois vodkas.
No novo equipamento de mergulho - que chegou a Portugal em 2002 e custou cerca de 45 mil euros -, a mistura dos gases é feita automaticamente, à medida que se vai descendo. No equipamento alemão, que usa só azoto e oxigénio, a mistura era feita previamente tendo em conta a profundidade a que se pretendia ir.
Depois, foi a vez de dois oficiais mergulhadores irem a Halifax, no Canadá, fazer um curso de formação neste tipo de mergulho, entre Dezembro de 2002 e Agosto deste ano. Paulo Martins foi um desses oficiais, que ficou, tal como o seu colega, apto a mergulhar aos 81 metros. Seguiram-se, em Portugal, treinos para operar o equipamento e testar os procedimentos de emergência até uma profundidade de 18 metros. Depois, foi um mergulho, no mar, aos 30 metros. E, agora, foi a vez de cinco mergulhadores obterem, em Portugal, uma certificação de mergulho profundo a 81 metros. Ali, a pressão é equivalente a nove atmosferas.
A água parece gelatinosaOs cinco mergulhadores, um sargento e quatro praças, tiveram então de alcançar três patamares de profundidade - 45, 60 e 69 metros, mais ou menos três metros -, o que foi feito entre os dias 4 e 11 de Dezembro. Os mergulhadores descem sempre aos pares, por questões de segurança. Bastava chegar aos 69 metros para obterem a certificação de mergulho até aos 81 metros: "Quando um mergulhador chega a essa profundidade também vai aos 80 metros."
Porém, no dia 11, fizeram-se dois mergulhos até aos 81 metros. No total - incluindo os tempos da descompressão, em que uma parte foi feita numa câmara hiperbárica a bordo do navio militar "Baptista de Andrade" -, esses mergulhos demoraram 76 minutos.
"A partir deste momento, os mergulhadores ficaram ao nível das outras marinhas da NATO no âmbito de operações de guerra de minas", diz Paulo Martins. "Há mergulhadores civis que vão a profundidades maiores. Foi a Marinha que alcançou a capacidade de ir ate aos 81 metros, que antes não tinha."
Este recorde da Marinha portuguesa não servirá apenas para trabalhar em cenários de guerra com minas. "Em caso de necessidade, também temos capacidade de actuar no âmbito da segurança marítima - ou seja, de actuar em busca de náufragos a essa profundidade. Também podemos actuar em operações de recolha de droga lançada ao mar", frisa Paulo Martins.
E o que passa pela mente de alguém que desce tanto? "É um mergulho que requer muita concentração. Há muitos procedimentos a fazer. Como é um mergulho com um risco mais elevado, há mais adrenalina." E o que se sente? "Nota-se um arrefecimento da água. Parece que se torna mais densa e que é gelatinosa."