Fome na Coreia do Norte em 2004 pode matar três milhões
Números de várias agências da ONU dizem que em 2004 haverá 6,5 milhões de norte-coreanos vulneráveis à escassez de alimentos, sendo que três a quatro milhões podem morrer. Algumas estimativas indicam que a população do Estado comunista mais fechado do mundo desceu de 25 milhões para 22 milhões desde 1995, em consequência de fomes sucessivas, e que em algumas das áreas mais duramente atingidas 15 por cento dos residentes morreram.
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Números de várias agências da ONU dizem que em 2004 haverá 6,5 milhões de norte-coreanos vulneráveis à escassez de alimentos, sendo que três a quatro milhões podem morrer. Algumas estimativas indicam que a população do Estado comunista mais fechado do mundo desceu de 25 milhões para 22 milhões desde 1995, em consequência de fomes sucessivas, e que em algumas das áreas mais duramente atingidas 15 por cento dos residentes morreram.
Há alguns meses, os Estados Unidos forneceram à Coreia do Norte 40 mil toneladas de bens alimentares, mas disseram que as outras 60 mil só seriam libertadas depois de haver informações sobre a sua correcta distribuição, isto depois de relatos que indicavam que a ajuda estava a ser encaminhada não para as populações necessitadas mas para os altos funcionários do regime, com os militares à cabeça.
O anúncio do Departamento de Estado sobre a disponibilização de mais ajuda não faz qualquer referência ao facto de ter sido entretanto confirmada a correcta distribuição dos bens. Só diz que o Presidente George W. Bush continua preocupado com a sorte dos civis norte-coreanos dependentes da ajuda internacional. Quando se procura fixar um novo encontro para discutir o programa nuclear da Coreia do Norte (ver caixa) este gesto norte-americano, mesmo que não directamente relacionado com os passos diplomáticos, tem um evidente significado político; mas será também um sinal de como Washington considera sérios os avisos das organizações internacionais de que se avizinha um ano catastrófico no norte da Península da Coreia.
O último apelo internacional, feito pelo Programa Alimentar Mundial (PAM) em meados deste mês, falava da necessidade de donativos de 171 milhões de dólares para o lançamento de actividades de emergência, por se ter chegado a um ponto em que a Coreia do Norte nem sequer tinha meios para continuar a fornecer bens racionados a cerca de três milhões de pessoas.
O PAM, segundo o seu director-executivo, James Morris, continua sem informações transparentes sobre a distribuição de alimentos. "Queremos muito simplesmente uma lista de para onde vai a comida" - declarou há poucas semanas. "Ao fim de dois anos, ainda não foram capazes de nos dar essa lista. E esta é uma questão básica de credibilidade e confiança com os nossos dadores."
Os piores meses, se não houver uma mudança de cenário, serão os de Abril e Maio, quando até um produto básico como a farinha poderá faltar. O Gabinete das Nações Unidas para a Coordenação de Questões Humanitárias calcula que, neste momento, 40 por cento das crianças norte-coreanas sofra de malnutrição; setenta mil encontrar-se-ão tão mal que necessitam de estar hospitalizadas.
O país vive em tal estado de carência desde meados dos anos 90 que, mesmo com ajuda internacional abundante e uma distribuição correcta, só daqui a alguns anos será possível ultrapassar uma situação de emergência humanitária crónica. E, entretanto, os danos em pelo menos uma geração de norte-coreanos ter-se-ão tornado irreversíveis.