O lado longínquo do mundo Green Peace
Ao mesmo tempo, é bem verdade que há um lado anódino na filmografia de Weir, que fez filmes célebres e famosos ("O Clube dos Poetas Mortos" deve ser o melhor exemplo), é certo, mas que nunca fez um filme memorável, algo que dê especial vontade de rever ou que acorra com frequência à lembrança. No seu melhor (aqui se calhar o melhor é convocar "A Testemunha"), é um cineasta capaz de levar a rotina às suas máximas virtudes; no seu pior, é um cineasta capaz de afundar na rotina projectos que, à partida, teriam algo de especial e anti-rotineiro ("Truman Show" entra aqui).
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Ao mesmo tempo, é bem verdade que há um lado anódino na filmografia de Weir, que fez filmes célebres e famosos ("O Clube dos Poetas Mortos" deve ser o melhor exemplo), é certo, mas que nunca fez um filme memorável, algo que dê especial vontade de rever ou que acorra com frequência à lembrança. No seu melhor (aqui se calhar o melhor é convocar "A Testemunha"), é um cineasta capaz de levar a rotina às suas máximas virtudes; no seu pior, é um cineasta capaz de afundar na rotina projectos que, à partida, teriam algo de especial e anti-rotineiro ("Truman Show" entra aqui).
O que torna "Master and Comandes - O Lado Longínquo do Mundo" um objecto minimamente interessante é o facto de ele parecer corporizar - sem nunca se decidir verdadeiramente, o que é pena - esse conflito entre o cumprimento da rotina e a procura de algo de mais excêntrico. Aparentemente, estamos numa atmosfera de género épico, durante as guerras napoleónicas, a bordo do navio inglês do qual Russell Crowe é "master and commander".
Com relativa banalidade, e até previsibilidade, seguimos as manobras estratégicas navais, o confronto com um "navio fantasma" francês, a vida no navio, as relações entre os oficiais e os marujos, e por aí adiante - tudo tutelado pela figura de Crowe, a ensaiar outra vez a pose heróica "bigger than life" de "Gladiador", com as necessárias adaptações. Tudo bastante aborrecido, incapaz de fazer esquecer por que razão o subgénero de "aventura naval" se esgotou há décadas. Mas a certa altura, o próprio Weir parece hesitar: continuar a cumprir esse programa ou, como a personagem do médico do navio (Paul Bettany, o actor de "Dogville"), perfeito e porventura deliberado émulo de Charles Darwin, deixar-se cativar pelo "paraíso" das Ilhas Galápagos e pela sua inaudita fauna (e fazer um "Green Peace" depois de ter feito um "Green Card"?).
De certa maneira, e sem que se consiga resgatar, o mais interessante do filme é o seu movimento final para o anti-clímax, quando a questão do eventual regresso e estadia nas Galápagos se sobrepõe ao desejo de "mais acção". Não chega a tempo de salvar coisa nenhuma, mas o último plano do filme, Crowe e Bettany em dueto musical, equivale a uma espécie de "que se lixe" que não parece nada isento de ironia. Pena que fossem precisas mais de duas horas para Weir lá chegar.