Croatas escolhem hoje "o mal menor"
Mesmo cansados, desinteressados, os eleitores enfrentam uma decisão importante: manter no poder o actual primeiro-ministro social-democrata ou apostar no partido nacionalista que governou o país com mão-de-ferro durante nove anos?
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Mesmo cansados, desinteressados, os eleitores enfrentam uma decisão importante: manter no poder o actual primeiro-ministro social-democrata ou apostar no partido nacionalista que governou o país com mão-de-ferro durante nove anos?
A resposta das últimas sondagens não agrada aos diplomatas ocidentais, nem à União Europeia: a União Democrática Croata (HZD, nacionalista), do ex-Presidente Franjo Tudjman, deverá ser o mais votado dos 55 partidos e 50 listas independentes que concorrem. Poderá mesmo chegar aos 27 por cento dos votos, mais oito por cento que o Partido Social Democrata (SDP) do actual primeiro-ministro, Ivica Racan. Sem uma maioria, tanto o HDZ como o SDP terão de contar com o partido de direita HSS, que de resto já é parceiro da actual coligação.
Racan orgulha-se de ter conduzido o país para uma verdadeira democracia e liderado um crescimento económico de 5,3 por cento - um dos mais altos da Europa - desde que chegou ao Governo, em 2000. Abriu também as negociações com Bruxelas para a integração na União Europeia, que poderá acontecer já em 2007. Os investidores estrangeiros estão a apostar no país, o turismo cresce, as auto-estradas alargam-se. "Afastámos a Croácia do abismo económico", resumiu Racan numa entrevista à AP.
Desemprego e desilusãoMas os nacionalistas - que terão poucas alternativas ao avanço das reformas - criticam o Executivo por não ter conseguido deter o alto nível de desemprego, que afecta 18,3 por cento da população activa. E apontam para a dívida externa, que chegou aos 19 mil milhões de euros, 70 por cento do PIB.
Talvez seja nestes números que os croatas pensam quando dizem que estão desiludidos. Muitos sentem que o seu nível de vida não melhorou.
Para conquistar a confiança dos eleitores, investidores e líderes europeus, o líder do HDZ, Ivo Sanader, assegura ter transformado o partido (identificado com corrupção e nepotismo durante o seu período de governação, desde a independência em 1991 até 2000) numa formação moderna, membro desde 2002 do Partido Popular Europeu. E afirma desejar continuar com as negociações com a UE, embora esteja ainda por provar que estarão dispostos a cooperar totalmente com o Tribunal Penal Internacional da ONU, um critério indispensável para a adesão. "Os responsáveis em Bruxelas nunca o dirão explicitamente, mas não existem dúvidas de que preferem a coligação de centro-esquerda aos nacionalistas 'reformados'", escreve o correspondente da BBC.
Para o jornalista do "Jutarnji List" Davor Butkovic, os croatas não escolherão o partido que gostariam: "Seria uma ilusão pensar que alguém gosta deste Governo. Mas a realidade é que as pessoas também não gostam do HDZ. As pessoas vão votar pelo mal menor", disse à estação britânica.
As sondagens indicam que cerca de 30 por cento dos 4,3 milhões de eleitores não irão às urnas. Serão os desiludidos com as querelas políticas da coligação. Mais disciplinados, os apoiantes dos nacionalistas não deverão faltar. E o HDZ poderá beneficiar ainda com os croatas da diáspora - cerca de 400 mil pessoas, metade da Bósnia -tradicionalmente seus apoiantes, e que podem eleger até 12 deputados.