Berardo comprou mais um Picasso para a sua colecção
A compra por Joe Berardo deste segundo Picasso ocorre num momento particularmente delicado quanto ao futuro da sua colecção. "Sinto-me completamente perdido. Toda a gente gosta da ideia mas ninguém quer tomar decisões. Não sei o que fazer", disse ontem ao PÚBLICO Joe Berardo.
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A compra por Joe Berardo deste segundo Picasso ocorre num momento particularmente delicado quanto ao futuro da sua colecção. "Sinto-me completamente perdido. Toda a gente gosta da ideia mas ninguém quer tomar decisões. Não sei o que fazer", disse ontem ao PÚBLICO Joe Berardo.
O comendador, de 59 anos, tem vindo a discutir com o primeiro-ministro, José Manuel Durão Barroso, e com o ministro da Cultura, Pedro Roseta, a ida da sua colecção - a mais importante de arte moderna e contemporânea com mais de 1000 obras e sede em Portugal - para o Centro Cultural de Belém (CCB), Lisboa.
Sobre as conversas que tem tido com Durão Barroso, Berardo afirma: "Tem sido muito simpático, mas diz que é uma prioridade e há mais de um ano que não deixa de ser isso e só - prioridade." Sobre Roseta diz que "não tem capacidade política de decisão".
Fonte do Ministério da Cultura respondeu, ontem, que "as modalidades definitivas e concretas a pôr em prática exigem uma reflexão conjunta com o senhor comendador que não é possível fazer em pouco tempo".
Joe Berardo confessa a sua mágoa. "Como é que Portugal pode andar para a frente? Não compreendo." O empresário madeirense ligado a vários sectores de actividade financeira, como o próprio confirmou ao PÚBLICO, recebeu uma proposta "muito atractiva" de uma instituição com sede em Miami, EUA: "É verdade, mas não vejo a minha colecção fora do país. Espero nunca ter de vender! E muito menos para fora de Portugal. Fiz esta colecção a pensar em Portugal."
Nos bastidores, diz outra fonte governamental, a posição do Governo é clara: "A Colecção Berardo deve ir para o CCB e as negociações devem começar." Mas para isso acontecer, o ministro da Cultura terá primeiro de o dizer publicamente.
Desde que Manuel Maria Carrilho foi ministro da Cultura (Berardo confirma que as primeiras conversas sobre esta questão com o poder datam de 1996) que se falou sobre a hipótese de a Colecção Berardo passar a ser exposta, de forma permanente, no CCB (onde aliás muitas das obras estão depositadas ou em exposição como acontece neste momento). Mas mais tarde uma certa resistência da instituição (que não quereria transformar-se num "Centro Capelo Berardo") terá afastado a hipótese. Há uns meses, Joe Berardo falou publicamente sobre a possibilidade de colocar a colecção no Pavilhão de Portugal, hipótese que não estará ainda completamente posta de lado.
Para o Governo, um dos problemas a discutir numas negociações futuras é a questão da sucessão, ou seja, que garantias vai o Estado ter de que a colecção se vai manter una e em Portugal. O Executivo quer evitar que se repita o longo processo da Colecção Capelo (de design) que terminou há uns meses com a compra-surpresa do espólio pela Câmara Municipal de Lisboa.
Berardo não desarma: "Estou preocupado com o futuro da colecção. Não é uma questão de sítio que me preocupa. Sítios é o que não faltam."