Investigadores portugueses identificam etapa da infecção por malária
Os resultados do trabalho serão publicados na edição de Novembro da revista científica norte-americana "Nature Medicine".
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Os resultados do trabalho serão publicados na edição de Novembro da revista científica norte-americana "Nature Medicine".
O estudo, realizado no Laboratório de Biologia Celular da Malária e conduzido por Maria Mota, identificou, pela primeira vez, um mecanismo de interacção entre o hospedeiro e o parasita que causa a malária (plasmodium).
A investigadora explicou à Lusa que a descoberta partiu de uma simples interrogação. "Na altura em que fiz o meu pós-doutoramento na Universidade de Nova Iorque, em colaboração com colegas norte-americanos, demonstrei que o parasita [que após infectar o hospedeiro se dirige para o fígado] atravessa várias células até se instalar numa delas", contou.
"Surgiu então a pergunta. Porque razão isso acontecia, porque é que o parasita despendia energia a atravessar várias células e não se fixava logo na primeira", explicou.
O que os investigadores do IGC descobriram é que as células do fígado que são atravessadas pelo parasita produzem e libertam uma substância que torna as células vizinhas mais vulneráveis ao parasita.
"Ao atravessar as células, o parasita causa uma ruptura na membrana plasmática, tornando-as mais susceptíveis à infecção", explicou "O parasita usa então o hospedeiro para seu próprio benefício", acrescentou.
A substância libertada pelas células perfuradas chama-se Hepatocyte Growth Factor (factor de crescimento dos hepatócitos, HGF). Quando é libertado, o HGF liga-se ao seu receptor (MET) em células vizinhas, induzindo alterações na célula que facilitam a sua infecção pelo parasita.
Experiências desenvolvidas no Laboratório do IGC conseguiram reduzir já substancialmente a infecção bloqueando a ligação do HGF ao MET e actividade do MET.
Maria Mota sublinhou à Lusa que companhias farmacêuticas trabalham actualmente no desenvolvimento de um inibidor deste receptor, também implicado no aparecimento do cancro.
Os resultados obtidos pelos investigadores do IGC sugerem, então, a possibilidade desses inibidores serem utilizados também no tratamento da malária.
Sabia-se já que células feridas libertam substâncias que funcionam como sinais para as células vizinhas, mas a molécula em causa e a identificação do mecanismo foi descoberto pela equipa do IGC.
Antes de atingir a corrente sanguínea, e causar os sintomas da doença, o plasmodium passa obrigatoriamente pelo fígado. É durante esta passagem que o parasita se reproduz mais eficazmente. Por cada parasita que infecta uma célula do fígado são produzidos cerca de 30 mil que infectam em seguida os glóbulos vermelhos do sangue.
Quase metade da população mundial corre o risco de contrair malária, registando-se entre 200 a 500 milhões de casos por ano, de que resultam um a dois milhões de mortos.
A grande maioria dos casos, e das mortes, ocorre em países em vias de desenvolvimento, com grande impacto na saúde pública e na economia destes países.