Durão quis demissão de Lynce depois do escândalo no acesso ao Superior

Foto
Lynce demitiu-se ontem depois de o primeiro-ministro lhe ter explicado que já não tinha condições para continuar a ocupar o cargo António Cotrim/Lusa

Mais: o primeiro-ministro soube do caso apenas na sexta-feira, quando foi divulgado pela SIC, e não terá gostado de não ter sido avisado pelo seu próprio Governo daquela situação.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Mais: o primeiro-ministro soube do caso apenas na sexta-feira, quando foi divulgado pela SIC, e não terá gostado de não ter sido avisado pelo seu próprio Governo daquela situação.

A intenção foi a de remendar os estragos. Durão Barroso ainda participou na sexta-feira à noite num jantar no Palácio de Queluz com o presidente cessante do Banco Central Europeu e governadores de outros bancos centrais da União Europeia. Nessa noite, ficou decidido que Lynce teria que dar explicações públicas na Assembleia da República sobre o despacho da filha de Martins da Cruz o mais rápido possível porque o silêncio seria "insustentável".

A demissão só se consuma na sexta-feira de manhã e Lynce leva a notícia aos deputados. O ministro demissionário percebe que não tem condições para continuar e sai sem ficar contrariado. A altura de contestação dos estudantes contra as propinas ajuda à decisão, uma vez que este caso seria mais um motivo de ataque. A personalidade de Lynce é elogiada pelo primeiro-ministro e por vários membros do Governo, mas a percepção do núcleo duro do Executivo de Durão é a de que a saída seria inevitável.

Quanto ao ministro dos Negócios Estrangeiros, colocou o lugar à disposição ao primeiro-ministro, mas este entendeu que devia continuar no Executivo.

No Governo, Martins da Cruz não sai ileso nesta história. Apesar do primeiro-ministro ter reiterado confiança neste ministro, as opiniões estão divididas e há elementos que consideram que Martins da Cruz ficou numa posição muito fragilizada e que o anúncio de que a sua filha não ocupará a vaga na Universidade Nova não é suficiente para apagar a imagem de favorecimento.

O facto de ser amigo pessoal de Durão, da sua presença ser necessária na Conferência Inter-Governamental que hoje arranca em Roma e de formalmente não ter sido apontada responsabilidade neste caso são apontadas como razões para que o primeiro-ministro tenha optado pela sua permanência no Governo.

A hipótese de fazer uma remodelação alargada já foi rejeitada pelo primeiro-ministro, que está agora preocupado com a discussão do Orçamento do Estado. O Governo e o PSD andaram agitados no Verão a falar em remodelação. Para calar as críticas, o primeiro-ministro resolveu dar posse à nova secretária de Estado da Segurança Social, há três semanas. Isto depois de se ter recusado a fazê-lo mais cedo quando o ministro Bagão Félix não segurou a demissionária Margarida Aguiar.

O anúncio de Durão Barroso, ontem à saída do Palácio de Belém, de que anunciará o nome do sucessor de Lynce no início da próxima semana, foi visto como um sinal para os sociais-democratas que não vale a pena alimentar especulações.

A hipótese do ministro da Educação, David Justino, acumular a pasta de Lynce parece afastada, uma vez que este Governo quis marcar uma diferença com a separação das questões de educação. Recorrente é o nome de Valadares Tavares, presidente do Instituto Nacional de Administração, que já era indicado na altura da formação de Governo. Certo, segundo o Governo, é que o novo ministro manterá a política de Lynce numa "lógica da continuidade".

Depois do encontro com o Presidente da República, Jorge Sampaio, a quem apresentou formalmente a proposta de exoneração do ministro da Ciência e do Ensino Superior, o primeiro-ministro afirmou estar convencido de que o ministro da Ciência e do Ensino Superior agiu de "absoluta boa fé e honestidade".

"Esta questão foi das decisões mais difíceis que já tomei na minha vida política. Tenho um grande apreço por ele [Pedro Lynce] e pelas suas excepcionais qualidades humanas", afirmou Durão Barroso, para quem o ministro demissionário "assumiu esta questão com grande sentido de Estado e de dignidade".

Durão Barroso reiterou a sua "plena confiança" em Martins da Cruz, salientando que "o que está em causa é a decisão do senhor ministro da Ciência e Ensino Superior, pode concordar-se ou não com ela". E acrescentou ter "todas as razões para acreditar naquilo que ambos os ministros [Martins da Cruz e Pedro Lynce] disseram" sobre o caso do alegado favorecimento da filha do titular dos Negócios Estrangeiros no acesso ao ensino superior. O procurador-geral da República admitiu ontem analisar o despacho do ministro da Ciência e Ensino Superior.

Na altura, o primeiro-ministro revelou ainda que o nome do substituto de Pedro Lynce deverá ser apresentado ao Presidente da República no início da próxima semana. Durão regressa hoje ao fim do dia a Lisboa e só a partir dessa altura deverá começar a trabalhar na remodelação.