Chirac e Bush com divergências sobre o Iraque ainda por resolver
Após um encontro de cerca de 45 minutos nas instalações da delegação norte-americana no seio da ONU, Chirac disse em conferência de imprensa ter objectivos comuns com os Estados Unidos para a paz e a reconstrução do Iraque, mas reconheceu que existem "igualmente divergências".
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Após um encontro de cerca de 45 minutos nas instalações da delegação norte-americana no seio da ONU, Chirac disse em conferência de imprensa ter objectivos comuns com os Estados Unidos para a paz e a reconstrução do Iraque, mas reconheceu que existem "igualmente divergências".
Porém, o chefe de Estado francês sublinhou que apesar dos dois países não partilharem a mesma posição sobre determinadas questões relacionadas com o Iraque, a França não irá "barrar o caminho" aos Estados Unidos.
Segundo um oficial norte-americano, os dois presidentes "falaram sobre as suas diferenças, mas comprometeram-se a trabalhar em conjunto". "O Presidente francês afirmou que não irá barrar o caminho, mas obviamente que a França gostaria de tentar ajudar", disse a mesma conte, citada pela Reuters.
Se por um lado Chirac exige que a transferência da soberania do Iraque seja feita rapidamente, Bush reafirmou esta tarde no seu discurso na Assembleia Geral da ONU que o processo deverá ser feito de forma ordeira e sem pressas, o que poderá levar meses.
Questionado sobre se os dois chefes de Estado tinham feito progressos para tentar resolver as suas diferenças, o oficial afirmou que Washington irá "continuar a trabalhar nesse sentido".
As divergências entre os dois países seriam vincadas no discurso de Chirac perante a Assembleia Geral da ONU. O Presidente francês começou por denunciar a guerra unilateral dos estados Unidos no Iraque, afirmando que "ninguém pode agir só em nome de todos", numa referência à decisão de Washington e Londres avançarem com uma ofensiva no território iraquiano sem o aval das Nações Unidas.
Chirac voltou a apelar à transferência imediata do poder político ao povo iraquiano, com base num calendário "realista e sob a égide da ONU". "Num mundo aberto, ninguém pode isolar-se, ninguém pode agir a solo em nome de todos e ninguém pode aceitar a anarquia de uma sociedade sem regras. Não há alternativa nas Nações Unidas", sustentou.
Defendendo que os "iraquianos devem ser os únicos responsáveis pelo seu destino" e que a transferência de soberania é "indispensável à estabilidade e à reconstrução" do Iraque, Chirac considera que "cabe à ONU dotar de legitimidade esse processo", bem como "acompanhar a transferência progressiva das responsabilidades administrativas e económicas para as instituições iraquianas actuais".
O Presidente francês defendeu ainda o multilateralismo como garantia da "legitimidade e da democracia, particularmente quando se trata de decidir o recurso à força". "Ninguém deverá arrogar-se o direito de o utilizar uniteralmente e preventivamente", continuou o chefe de Estado.
O alto responsável disse também que para as Nações Unidas serem mais eficazes será necessário que iniciem "uma reforma profunda". Chirac defendeu ainda o alargamento do Conselho de Segurança da ONU a novos membros permanentes, o reforço do Comissariado para os Direitos do Homem e a criação de um "novo seio político" que seria encarregado de uma governação económica, social e ambiental.
Quanto à proliferação de armas de destruição maciça, o chefe de Estado exigiu ao Irão "que assine e coloque em prática sem condições e sem adiamentos um acordo de garantias reforçadas com a Agência Internacional de Energia Atómica. Nesse âmbito, propôs uma reunião do Conselho de segurança para estabelecer um "plano de acção" contra a proliferação".