Ernâni Lopes: modelo estratégico da economia portuguesa está esgotado

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O antigo ministro das Finanças do Bloco Central defende que o turismo deve ser uma das apostas de futuro DR

Intervindo num debate subordinado ao tema "Portugal e a Estratégia Atlântica", incluído no programa do encontro nacional da Associação dos Oficiais da Reserva Naval (AORN), que decorre até amanhã naquela cidade, Ernâni Lopes manifestou as suas dúvidas de que o mar possa vir a integrar o bloco de áreas do modelo estratégico que defende.

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Intervindo num debate subordinado ao tema "Portugal e a Estratégia Atlântica", incluído no programa do encontro nacional da Associação dos Oficiais da Reserva Naval (AORN), que decorre até amanhã naquela cidade, Ernâni Lopes manifestou as suas dúvidas de que o mar possa vir a integrar o bloco de áreas do modelo estratégico que defende.

"O modelo estratégico da economia portuguesa hoje está esgotado, acabou, tornou-se repetitivo", frisou o professor universitário, perante uma plateia de cerca de uma centena de oficiais da Armada, dos cerca de três mil que constituem a AORN.

No final do painel, em declarações aos jornalistas, Ernâni Lopes explicou esta afirmação salientando que "não se trata, a título algum, de firmar uma posição de mera declaração que há esse esgotamento e não há saída".

"Isso recuso", disse, acrescentando que as "vias possíveis" para um modelo estratégico passam "por quatro grandes blocos": turismo, ambiente, cidades e desenvolvimento e serviços de valor acrescentado.

Defendendo um "desenvolvimento estruturado" do turismo, o ex-ministro das Finanças do Governo do bloco central destacou ainda o ambiente "que vai ver aumentar o volume de investimentos em várias áreas, da água ao combate à poluição.

"Se não aproveitarmos, aproveitam outros e nós limitamo-nos a assistir", sublinhou.

As cidades em desenvolvimento, "em que está quase tudo por fazer", são outro vértice do modelo defendido por Ernâni Lopes.

Já nos serviços de valor acrescentado, o professor universitário destaca a área da saúde, que considerou "fonte de criação de riqueza naturalmente ilimitada", e a educação, onde reclama uma "aprendizagem permanente ao longo da vida, longe do modelo das universidades clássicas".

Para Ernâni Lopes, "a grande questão é saber se faz sentido que a economia do mar, a relação do mar com a economia portuguesa, pode constituir um quinto bloco".

"De momento não sei a resposta. Gostava que sim, mas para isso é preciso suscitar o debate dentro da sociedade civil. A tendência espontânea, mais ou menos voluntarista, porque idealizá-lo não tem custos, é achar que sim , mas a resposta só a saberemos dentro de uma década", frisou.

O professor considerou as actividades ligadas ao mar como um "hiper-cluster da economia": "O mar é um domínio de grande complexidade. A indústria automóvel, uma das mais poderosas a nível mundial, é ao pé disto um pequeno exercício de aquecimento", exemplificou.

Dirigindo-se à assistência no debate, Ernâni Lopes incentivou-a a dedicar "trabalho e empenhamento" na ligação de Portugal ao mar, considerando que a questão tem "uma janela de dez anos" para ser resolvida".

"Novos não somos, mas estamos naquela fase do limite de ainda valer a pena, não podemos estar a gaguejar mais uma década. O que proponho é nós começarmos, porque se esperamos pelo Estado, há cem anos que esperamos", avisou.

Para tal, o antigo titular da pasta das Finanças quer que a relação de Portugal com o mar passe de "equívoca e irrelevante" para outra, "sadia e objectiva".

"Já sei que fizemos os Descobrimentos, é motivo de orgulho, mas o verdadeiro orgulho é aquele que não se diz. Estamos a falar no século XXI, não do século XV. Temos de passar do lírico para a prática, isto não é um assunto para satisfação psicológica de meia dúzia de tipos que dizem que amam o mar", afirmou.

Para Ernâni Lopes, o mar "é fonte de riqueza e poder". A questão, disse, é "ver se temos o sucesso e a coragem de conjugar o emotivo com o racional", concluiu.