Nova árvore de crescimento rápido pode vir para Portugal

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Espécie em análise cresce mais depressa que o eucalipto e dá madeira de qualidade Paulo Ricca/PÚBLICO

É o primeiro processo de autorização de uma espécie exótica de árvore no país desde a aprovação, em 1999, de uma legislação para controlar a introdução de plantas e animais que não existem em Portugal. Não há registo, até agora, de nenhum pedido de introdução de exóticas que tenha sido aprovado desde então. Pelo contrário, vários processos foram chumbados pelo Instituto da Conservação da Natureza (ICN).

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É o primeiro processo de autorização de uma espécie exótica de árvore no país desde a aprovação, em 1999, de uma legislação para controlar a introdução de plantas e animais que não existem em Portugal. Não há registo, até agora, de nenhum pedido de introdução de exóticas que tenha sido aprovado desde então. Pelo contrário, vários processos foram chumbados pelo Instituto da Conservação da Natureza (ICN).

Há cerca de um ano que este processo está a ser analisado pelo ICN e pela Direcção-Geral de Florestas. A ideia começou a germinar durante uma viagem à Flórida, na qual Manuel Barros, da empresa Barros e Filhos, Lda., sediada no concelho de Monção, viu algumas plantações de paulónia. Mais tarde, uma empresa espanhola ofereceu-lhe a exclusividade da venda da árvore em Portugal. As plantas são produzidas nos Estados Unidos e depois passam por um período de quarentena no arquipélago espanhol das Canárias.

Já existem alguns exemplares de uma espécie de paulónia em Portugal, como árvores ornamentais. O que se pretende introduzir, porém, é um híbrido jamais plantado no país - que combina as espécies Paulownia fortunei e Paulownia elongata. Esta planta cresce com incrível rapidez. Em condições de muita humidade e calor, pode ser cortada em apenas cinco anos, produzindo madeira de boa qualidade. No clima português, espera-se que possa estar pronta para ser aproveitada em oito anos. O corte pode ser repetido oito vezes. Um eucalipto, em comparação, é abatido ao fim de dez anos e depois do terceiro corte a toiça já não dá mais árvores de qualidade.

Ser uma árvore exótica e de crescimento rápido não é o melhor passaporte para uma aceitação fácil da paulónia em Portugal - dado o passado polémico dos eucaliptos e os problemas da introdução de plantas invasoras, como as acácias e o incenso (ver caixa). O ecólogo José Vingada, da Universidade do Minho - autor do estudo de impacte que acompanha o pedido de plantação da paulónia - diz que não é possível garantir a cem por cento que não haverá problemas, até porque as árvores demoram várias décadas até se comportarem como pragas. Mas a paulónia, segundo Vingada, não tem características para se tornar invasora.

O híbrido que se quer importar é estéril e a ideia é plantá-lo num regime agro-florestal - em terrenos que podem, simultaneamente, ser cultivados - e não em regime de monocultura, com povoamentos industriais. "A lógica da sua plantação é ter poucas árvores e boas, e não muitas e baratas. É o contrário dos eucaliptos", afirma José Vingada.

O ICN ainda não está convencido da inocuidade da paulónia. Há referências de que a Paulownia fortunei - uma das espécies que compõem o híbrido em causa - pode ser uma praga nalgumas zonas da Austrália. Nos Estados Unidos, existem preocupações quanto à Paulownia tomentosa, a espécie que já existe em alguns jardins em Portugal e que, curiosamente, pode ser introduzida livremente no país, uma vez que é legalmente considerada como sendo de interesse para a arborização.

Quem dará a palavra final à plantação do híbrido estéril de paulónia é a Direcção-Geral das Florestas. O pedido inicial era para a importação de 30 mil pés da planta. Mas, neste momento, está a ser avaliada a possibilidade de se fazerem, previamente, campos de ensaios.

"Mercado precisa de madeira nobre"

De acordo com José Vingada, foram propostos campos experimentais em duas áreas da zona norte do país. Mas o ecólogo afirma que, para se avaliar melhor o comportamento da planta em Portugal, seria necessário fazer ensaios em mais pontos do território. De qualquer forma, José Vingada acredita que cultivar a paulónia é uma boa ideia. "Vale a pena, porque o nosso mercado precisa de madeira nobre", afirma. Neste sentido, a paulónia poderia até substituir a madeira que vem de florestas tropicais.


A introdução da paulónia agrada ao botânico Fernando Catarino, ex-director do Jardim Botânico de Lisboa, desde que sejam tomados cuidados, como não fazer grandes plantações contínuas e não as cultivar de modo que consumam toda a água. "Pode ser interessante para quebrar a monotonia das nossas exóticas", avalia.

Jorge Paiva, da Universidade de Coimbra, alerta para os riscos da introdução de espécies exóticas em geral. "Hoje, que se sabe mais sobre os efeitos [das espécies exóticas], deve-se tomar muito cuidado com introdução quer de plantas, quer de animais", afirma.

Embora não seja esta a ideia principal, o empresário Manuel Barros até brinca que a paulónia pode servir para "erradicar os eucaliptos". Barros inicialmente achava que era mais fácil importar as plantas. O seu primeiro pedido, feito em Agosto do ano passado, era para trazer o híbrido de paulónia para Portugal logo no mês seguinte, em Setembro. Mas, como já investiu na compra da exclusividade da sua comercialização, não vai agora desistir. "Neste país é difícil fazer algo de novo", afirma.