Estádio de Alvalade: cinco concertos para ajudar à demolição

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Marilyn Manson teve o público nas mãos DR

As condições de som não foram sempre as melhores, mas a temperatura ideal da noite, a relva a voar por cima das cabeças e o clima de festival que se viveu em plena Lisboa compensaram os presentes, cerca de 15 milhares, de acordo com a organização.

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As condições de som não foram sempre as melhores, mas a temperatura ideal da noite, a relva a voar por cima das cabeças e o clima de festival que se viveu em plena Lisboa compensaram os presentes, cerca de 15 milhares, de acordo com a organização.

Sublinhe-se que não eram muitos os presentes quando os portugueses Primitive Reason subiram ao palco para trazer o seu som contagiante e incatalogável, porque filiado em várias culturas. Culpa da hora a que começou o festival – 17h00 –, condicionante absoluta para que tudo estivesse concluído à meia-noite. E assim foi.

Só que num dia de semana isso equivale a frustrar muito boa gente trabalhadora, que corre mas não chega a tempo de ver uma ou outra banda. Quando chegou a vez dos Disturbed, a plateia já estava mais cheia, mas nem por isso a banda conseguiu grande adesão, embora seja inevitável bater o pé (ou abanar a cabeça) ao ritmo do seu metal incisivo e gutural. Fizeram questão de repetir várias vezes “We are Disturbed”.

O certo é que a partir do final do horário laboral, o recinto começou a compor-se, com uma plateia de dimensão assinalável (e, já agora, com tendência para arrancar bocados do relvado e usá-los como armas de arremesso). O certo é que a maior parte das pessoas queria ver mesmo Deftones e Marilyn Manson.

Mas um grande grupo estava ali para outra coisa: testemunhar a nova vida conjunta do ex-Soundgarden Chris Cornell e dos ex-Rage Against The Machine Tim Commerfor (baixo), Tom Morello (guitarra) e Brad Wilk (bateria). O mesmo é dizer Audioslave.

As cinzas fermentaram e serviram de berço a uma nova banda que se revelou excelente em palco. Coesa, potente e em grande sintonia com a plateia. Os temas passaram pelo álbum de estreia homónimo (recorde-se o arrepiante “Like a stone”), com direito também a uma versão dos Clash, em homenagem ao recentemente desaparecido Joe Strummer.

Deficiências sonoras à parte, foi um grande concerto. Cornell: “Há doze anos que não vinha a Portugal. Nessa altura tinha outra banda, mas estou a divertir-me mais com esta. Respeito.” Garante que os Audioslave vão ainda fazer muitos álbuns e nunca deixarão de voltar cá para os mostrar. A recepção adivinha-se calorosa como a de ontem.

Não é possível deixar de notar que o facto de os Audioslave figurarem no terceiro lugar do alinhamento soa um pouco como uma despromoção. É certo que ainda só têm um álbum, mas também é indubitável a influência que as suas bandas anteriores tiveram sobre grande parte da música que hoje ouvimos, incluindo as outras bandas do festival. Mas é uma nova vida. O primeiro álbum dos Audioslave já foi por muitos considerado como um dos melhores do ano. Ao vivo são o que são. Resta-lhes fazer história a partir daqui.

Faltavam 20 minutos para as 21h00 quando chegaram os muito aguardados Deftones, regressados dois anos depois da última visita para apresentar o seu recém-lançado novo álbum, homónimo. A prestação foi simplesmente incendiária, com os fãs rendidos a cantar os temas de fio a pavio.

Pontos altos: “Minerva”, com um coro gigante no lugar do vocalista Chino Moreno, e “Headup”, em que subiu ao palco um elemento da plateia para cantar com Moreno e que, em boa verdade, pouco ou nada lhe ficou a dever em termos de presença em palco. O único senão foi mesmo a brevidade do concerto, cerca de uma hora.

O mesmo é válido para os Marilyn Manson. Mas já se sabe que o músico da Califórnia não é adepto de concertos intermináveis. Vai directo ao assunto, condensa a música num espectáculo onde nada é redundante. Tinha prometido um “freakshow”, mas ficou-se pela evocação do grotesco de que vive o seu último álbum, justamente “The Golden Age of Grotesque”. Foi um concerto maculado novamente pelo mau som, mas que satisfez e fez render os fãs à partida, deixando a Brian Warner (Marilyn Manson quando não está maquilhado nem com indumentárias estranhas) poucos motivos para se esforçar mais do que o necessário.

Qual pastor de ares demoníacos, conduziu o seu rebanho à vontade, com a plateia na mão. Para quem fez de “provocação” o seu nome do meio não esteve ontem à noite particularmente provocante (nem nudez, nem simulações de sexo, nem Bíblias rasgadas...), mas ainda assim montou um espectáculo visualmente apelativo, com destaque para as duas bailarinas voluptuosas (uma loira, outra morena, a lembrar o universo cinematográfico de David Lynch) que percorriam o palco em poses eróticas e contorcionismos impossíveis.

Quanto à música, centrou-se no último álbum (“mOBSCENE”, “The golden age of grotesque”, “This is the new shit”), mas para felicidade dos fãs não esqueceu temas como “Disposable teens”, “Sweet dreams”, “Rock is dead”, “Tainted love”, “White world”, “Dope show”, e, claro, “Beautiful people”, recrutado para um final em grande.

As luzes brancas súbitas despertam a multidão. Acabou. A dez minutos da meia-noite, como se queria. Consta que para o ano há mais. Em 2004 será no Parque das Nações, já que nessa altura este estádio será apenas uma memória.