Presidente de Moçambique acusado de conhecer previamente conspiração para assassinar Samora Machel
A alegação, já veementemente desmentida por Joaquim Chissano, foi feita por um antigo general das dissolvidas Forças de Defesa sul-africanas, Tienie Groenewald. Numa entrevista ao jornal "Sowetan Sunday World", Groenewald assegura que o chefe de Estado moçambicano fez parte de uma rede de pessoas, em conluio com o ex-regime de "apartheid" e do Bureau de Cooperação Civil (CCB), cujo objectivo era fazer cair o avião em que Machel seguia. O primeiro Presidente de Moçambique independente morreu em Outubro de 1986. O então ministro sul-africano dos Negócios Estrangeiros, Pik Botha, foi igualmente acusado de conhecer o plano.
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A alegação, já veementemente desmentida por Joaquim Chissano, foi feita por um antigo general das dissolvidas Forças de Defesa sul-africanas, Tienie Groenewald. Numa entrevista ao jornal "Sowetan Sunday World", Groenewald assegura que o chefe de Estado moçambicano fez parte de uma rede de pessoas, em conluio com o ex-regime de "apartheid" e do Bureau de Cooperação Civil (CCB), cujo objectivo era fazer cair o avião em que Machel seguia. O primeiro Presidente de Moçambique independente morreu em Outubro de 1986. O então ministro sul-africano dos Negócios Estrangeiros, Pik Botha, foi igualmente acusado de conhecer o plano.
As acusações contra o sucessor de Machel foram prontamente desmentidas pelo adido de imprensa da Presidência da República, em Maputo, António Matonse: "Não houve comissões de inquérito do lado do governo sul-africano e das autoridades russas. [...] Chissano não foi mencionado por nenhuma das comissões."
Para Grroenewald, porém, "os moçambicanos souberam desde o primeiro ao último dia dos planos para fazer cair o avião. Alguns oficiais moçambicanos tinham fortes ligações com elementos do regime do 'apartheid'".
Um antigo responsável da investigação levada a cabo pela Comissão da Verdade e Reconciliação na África do Sul, o advogado Dumisa Ntsebenza, disse também ao "Sowetan Sunday World" que as declarações de Groenewald "parecem credíveis". Acrescentou ainda: "Está agora claro por que é que o Comité Central da Frelimo [o partido no poder em Moçambique] nunca levou a cabo um inquérito à morte de Machel."
O ano passado, quando Joaquim Chissano abandonou a liderança da Frelimo, abdicando também de se candidatar às eleições presidenciais de 2004, o Presidente moçambicano viu reforçado o seu capital político. Deixou uma aura de estadista comprometido com causas suprapartidárias e lançando sementes para uma intervenção mais vocacionada para a resolução de conflitos no continente africano.
Alguns sectores da opinião pública moçambicana concordam, implicitamente, com a existência de uma figura nacional que servisse de conciliador no caso de o processo democrático ficar refém das posições duras de Armando Guebuza, o novo líder da Frelimo, e de Afonso Dhlakama, o chefe da Renamo, principal partido da oposição e antigo movimento armado. Outros analistas consideram, todavia, que Chissano investiu mais num futuro político internacional do que doméstico. A realização da cimeira da União Africana (UA, sucessora da Organização de Unidade Africana/OUA), no próximo mês de Julho, é fruto desse empenho do Presidente de Moçambique. Ele tem, aliás, participado activamente em múltiplas iniciativas de pacificação em África.
Em todo o caso, o abandono da liderança da Frelimo não foi pacífico. Fontes do partido confirmaram ao PÚBLICO que Chissano pretendia deixar no seu lugar alguém que partilhasse a sua política, a exemplo do actual presidente da Assembleia da República, Eduardo Mulémbwé. Quem venceu a guerra de bastidores foi, no entanto, Guebuza, um veterano da luta pela independência, considerado um representante da linha dura e um nacionalista radical convertido ao capitalismo - tem inúmeros interesses empresariais e é defensor de uma burguesia negra como instrumento de conquista da soberania económica.
Logo após a ascensão de Guebuza, Chissano multiplicou as suas "presidências abertas" no interior do país, quase apagando as operações de marketing político lançadas por Guebuza, um ilustre desconhecido das massas. O chefe de Estado multiplicou igualmente as suas visitas ao estrangeiro.
Muitos analistas locais estranharam o ímpeto com que Chissano fazia as "presidências abertas", sobretudo o facto de essas acções visarem os mesmos locais por onde Guebuza passava. A imagem de Chissano começou, porém, a ficar degradada entre os sectores urbanos de Moçambique. O alegado envolvimento do seu filho no assassínio do jornalista Carlos Cardoso foi mais explorada não pela Renamo mas por uma certa oposição dentro da Frelimo.