Senado americano divulga documentos do McCarthismo

No início dos anos 50, o senador do Wisconsin Joe McCarthy tornou-se célebre por lançar uma cruzada contra os espiões comunistas infiltrados dentro da Administração americana; McCarthy falava de "centenas de comunistas" dentro do Departamento de Estado. No início da guerra fria, as suas acusações tiveram grande impacto.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

No início dos anos 50, o senador do Wisconsin Joe McCarthy tornou-se célebre por lançar uma cruzada contra os espiões comunistas infiltrados dentro da Administração americana; McCarthy falava de "centenas de comunistas" dentro do Departamento de Estado. No início da guerra fria, as suas acusações tiveram grande impacto.

O Congresso criou uma Comissão de Actividades Anti-Americanas (HUAC), presidida por McCarthy, que convocou centenas de indivíduos a depor sobre as suas tendências políticas. Muitos deles eram funcionários governamentais, mas os mais famosos eram artistas, sobretudo ligados à indústria cinematográfica.

Perante a HUAC compareceram pessoas como os dramaturgos Bertold Brecht e Arthur Miller, os escritores Dashiell Hammett e Lansgton Hughes, os compositores Leonard Bernstein e Aaron Copland, os cineastas Elia Kazan e Charlie Chaplin. Estas audiências eram públicas e acompanhadas atentamente pelos media.

No entanto, em muitos casos McCarthy tinha encontros à porta fechada com as testemunhas que iam depor. Segundo o historiador Donald Ritchie, os documentos agora revelados mostram que McCarthy usava estas audiências privadas para "testar" as testemunhas.

"Quem enfrentasse McCarthy à porta fechada, e o fizesse eloquentemente, não era chamado a depor em público", disse Ritchie ao "New York Times". "McCarthy só queria pessoas que conseguisse humilhar publicamente." Aaron Copland, por exemplo, nunca foi chamado a depor em público; na transcrição do seu interrogatório, o compositor dá uma série de respostas evasivas até que McCarthy perde a paciência e pergunta: "Por outras palavras, você nunca teve uma ideia firme sobre nada?" Resposta de Copland: "Inclino-me a deixar essa questão aos docentes da [minha] universidade."

Havia de facto espiões comunistas no aparelho de Estado americano, mas eram muito menos que os que McCarthy acusava existir, e no início dos anos 50 a maior parte já havia sido detectada. A "caça às bruxas" acabou apenas por destruir inúmeras carreiras de indivíduos que recusaram testemunhar ou que foram "denunciados" por outros.

Ironicamente, McCarthy também foi destruído pela "caça às bruxas". Horrorizado pelos métodos de McCarthy, o então Presidente Dwight Eisenhower (tal como ele, um republicano) proibiu o senador de alargar a sua investigação ao Exército; ainda em 1954, McCarthy foi censurado pelo Senado. Caído em desgraça, McCarthy (que tinha graves problemas de alcoolismo) morreu em 1957, com apenas 47 anos.

O "McCarthismo" durou apenas dois anos, mas a "caça às bruxas" de McCarthy entrou na história política dos EUA. "Estes documentos contêm muitas lições sobre a importância de um governo aberto e transparente, que respeita os direitos do indivíduo", disse esta semana à Reuters o senador Carl Levin. "Esperemos que estas lições nunca sejam esquecidas."