Adeus, pai
Depois de uma adaptação de J. G. Ballard em "Aparelho Voador a Baixa Altitude", estreado no ano passado, que abria uma interessante e convincente hipótese de ficção científica numa cinematografia onde o género tem estado ausente, Nordlund regressa agora com "A Filha". Tendo a relação complexa entre o cinema português e o público como pano de fundo, a realizadora manifesta uma espécie de programa, no "press release" distribuído à imprensa: "Gostaria que este filme conseguisse atingir um outro público além do público reduzido que normalmente vê cinema português. Acho que é importante que se rompa o fosso entre o público e o cinema português - que haja um diálogo." Intenções assumidas, refira-se que "A Filha" está próximo de um registo de telefilme, ganhando um perturbante eco de actualidade, à luz dos recentes escândalos de pedofilia em Portugal - embora a realizadora afirme que a história do filme a persegue há dez anos. Sem nunca procurar uma colagem forçada a essa actualidade, "A Filha" joga, como em muita da filmografia de Nordlund, numa tensão entre o plano da realidade e do efabulatório, sem nunca resolver isso muito bem.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Depois de uma adaptação de J. G. Ballard em "Aparelho Voador a Baixa Altitude", estreado no ano passado, que abria uma interessante e convincente hipótese de ficção científica numa cinematografia onde o género tem estado ausente, Nordlund regressa agora com "A Filha". Tendo a relação complexa entre o cinema português e o público como pano de fundo, a realizadora manifesta uma espécie de programa, no "press release" distribuído à imprensa: "Gostaria que este filme conseguisse atingir um outro público além do público reduzido que normalmente vê cinema português. Acho que é importante que se rompa o fosso entre o público e o cinema português - que haja um diálogo." Intenções assumidas, refira-se que "A Filha" está próximo de um registo de telefilme, ganhando um perturbante eco de actualidade, à luz dos recentes escândalos de pedofilia em Portugal - embora a realizadora afirme que a história do filme a persegue há dez anos. Sem nunca procurar uma colagem forçada a essa actualidade, "A Filha" joga, como em muita da filmografia de Nordlund, numa tensão entre o plano da realidade e do efabulatório, sem nunca resolver isso muito bem.
Um famoso produtor de televisão, Ricardo Monteiro (Nuno Melo), recebe um ultimato da filha: se não voltar a casa a tempo de celebrar o aniversário dela, nunca mais a verá. Falhando o compromisso, Ricardo tenta encontrar a filha, acabando por se cruzar com uma aspirante a apresentadora de um dos seus concursos, Sara (Joana Bárcia), disposta a tudo. Cada vez mais alienado pela perda, Ricardo começa a ver na figura de Sara a imagem da sua filha e a relação entre os dois revelará a torturada relação entre pai e filha: uma história doentia de abusos sexuais e dominação.
Com ecos de "Boxing Helena" (1993), único filme de Jennifer Lynch (filha de David) e "Misery" - O Capítulo Final" (1990), de Rob Reiner, há em "A Filha" uma incapacidade de criar uma espessura, um universo, um ambiente, ficando-se por um realismo de pacotilha, telenovelesco, que banaliza tudo e não permite que se estabeleça a ambiguidade (que seria, porventura, mais interessante) na relação entre Ricardo e Sara. Há outras limitações, e a menor delas não será o trabalho dos actores: Nuno Melo é um óbvio erro de "casting", num registo que não é o seu, sem "pathos" e involuntariamente carregando a sua prestação de ironia; Joana Bárcia, não obstante as suas inspiradas interpretações em "O Rio do Ouro" e "António, um Rapaz de Lisboa", carrega nos ombros o peso dos estereótipos (rapariga pobre resgatada do submundo, arrivista com sonho de estrela), sem contenção nem subtileza.