Delfim Sardo é o novo director do Centro de Exposições do CCB
Num ano “de resistência” no CCB, como diz a chefia da instituição, em que o financiamento estatal à fundação desceu seis por cento (meio milhão de euros), o que obrigou a cortes de 24 por cento na programação, Sardo diz que aceitar o convite “não foi uma decisão difícil”.
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Num ano “de resistência” no CCB, como diz a chefia da instituição, em que o financiamento estatal à fundação desceu seis por cento (meio milhão de euros), o que obrigou a cortes de 24 por cento na programação, Sardo diz que aceitar o convite “não foi uma decisão difícil”.
Não há “situações ideais”, diz optimista, e, quanto ao seu percurso pessoal, assume o cargo no “momento certo”.
Aos 41 anos (n. 1962, em Aveiro), formado em Filosofia pela Universidade de Coimbra e a trabalhar na área da crítica e do comissariado de arte contemporânea desde 1991, Sardo desenvolveu até agora um percurso assinalável.
Consultor do Serviço de Belas Artes da Fundação Calouste Gulbenkian, ao lado de Manuel da Costa Cabral, desde 1998, tem assumido, paralelamente, comissariados independentes de destaque. É o caso da edição de 2000 dos Encontros de Fotografia de Coimbra, nesse ano sob o título “Projecto Mnemosyne”, e, em 2001, da exposição antológica “Work in Progress”, dedicada pelo Centro de Arte Moderna da Gulbenkian à obra de Fernando Calhau. Mas já anteriormente, em 1999, tinha sido o comissário da participação portuguesa na 48ª Bienal de Veneza, nesse ano a cargo de Jorge Molder, pretexto ainda para a edição do livro “Luxury Bound” (Assírio & Alvim) sobre o mesmo artista.
Ainda na área da edição, Sardo foi este ano um dos fundadores da revista de arte “Pangloss”, de que deverá dirigir a edição de apenas mais um número, o segundo.
“Esta proposta surgiu numa altura adequada. Até agora tenho feito comissariado a nível independente. Passar Delfim Sardo é o novo director do Centro de Exposições do CCB a ter um projecto de programação é particularmente aliciante.” Foi aliás um dado fundamental, diz, explicando que o facto de o convite ter sido dirigido “em uníssono” pela administração afasta preocupações sobre dificuldades de integração no CCB.
“Eu empenho-me numa programação contemporânea e numa vocação internacional. Eram as minhas preocupações e não foi difícil chegar a um acordo, a uma sintonia com a administração.” Até porque, explica, tem uma perspectiva “de continuidade” em relação ao trabalho desenvolvido por Margarida Veiga.
“Não tenho um programa [para o núcleo expositivo], nem poderia ter. Um programa desenha-se a partir das especificidades de uma realidade. A experiência que tenho do CCB é de um só projecto – a versão, para o CCB, da exposição do Molder de Veneza. Não é conhecimento suficiente.”
Os tempos mais próximos serão, por isso, dedicados ao reconhecimento do território de acção: “O meu grande esforço será não ter ideias e conhecer o terreno, que é essencial.”
Diz que ainda é cedo para falar em conteúdos, mesmo os relativos a projectos já encetados pelo CCB (“há alguns”). As linhas de actuação que defende para Portugal, porém, são claras: divulgar as práticas contemporâneas, sempre que necessário, em ligação com as históricas e fomentar uma relação entre “as práticas artísticas portuguesas” e “as produções internacionais”.
Se será ou não possível desenvolver projectos que possam divulgar as vanguardas russas ou o construtivismo brasileiro – apontados como lacunas para o público nacional – ainda não pode precisar. De concreto, há apenas a vontade de apostar em “novas perspectivas de comissariado”, de estimular, através do apoio a novos nomes, uma consolidação de um “programa curatorial especifico em Portugal”, “com produções próprias, concebidas para serem apresentadas aqui”.
É uma vontade, de resto, em perfeita consonância com um dos mais recentes projectos que o novo director do Centro de Exposições do CCB desenvolveu: fundou há um ano um mestrado em Estudos Curatoriais, o primeiro em Portugal.