Tirado o melhor retrato do Universo bebé

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Há cada vez melhores retratos do Universo enquanto criança Nasa

Não é a primeira vez que se tira um retrato ao Universo bebé. O primeiro desses mapas da radiação cósmica de fundo - que hoje vemos como microondas, mas quando o Universo tinha apenas 300 mil anos, era luz visível, vermelha mesmo - foi feito pelo satélite norte-americano Cobe, lançado em Novembro de 1989. Em Abril de 1992, os dados do Cobe foram notícia no mundo inteiro, porque permitiram perceber por que o Universo é como o vemos.

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Não é a primeira vez que se tira um retrato ao Universo bebé. O primeiro desses mapas da radiação cósmica de fundo - que hoje vemos como microondas, mas quando o Universo tinha apenas 300 mil anos, era luz visível, vermelha mesmo - foi feito pelo satélite norte-americano Cobe, lançado em Novembro de 1989. Em Abril de 1992, os dados do Cobe foram notícia no mundo inteiro, porque permitiram perceber por que o Universo é como o vemos.

O Cobe detectou pequeníssimas flutuações na temperatura da radiação cósmica de fundo, que correspondem a pequenas flutuações na densidade de matéria. As galáxias formaram-se nos pontos onde, aos 300 mil anos, o Universo tinha mais matéria. Isto porque a matéria atrai a matéria. Por isso, ao olharem para os sítios de maior densidade de matéria, os cientistas estão a ver as sementes das galáxias.

Essa radiação tinha sido descoberta em 1964, de forma acidental, por Arno Penzias e Robert Wilson, dos Laboratórios Bell, nos Estados Unidos, e valeu-lhes o prémio Nobel da Física em 1978. Mas parecia uniforme, para onde quer que se olhasse no céu, o que evidenciaria uma distribuição homogénea da matéria nos primeiros momentos da criação. Não se detectavam (porque não havia tecnologias para fazê-lo) as tais pequenas flutuações. Então como é que teriam aparecido as estrelas, os planetas, as galáxias e os aglomerados de galáxias?

Foi isso que o Cobe detectou, dando origem a um belo mapa oval em tons de azul e rosa, em que o rosa representa as regiões mais quentes e o azul, as menos quentes - e por conseguinte, representam as variações mínimas na radiação e na distribuição da matéria. "As microondas são o fóssil mais antigo da história cósmica. Não conseguimos ir mais longe, directamente, do que os 300 mil anos após o Big Bang, quando esses fotões foram emitidos", explica ao PÚBLICO Domingos Barbosa, do Centro Multidisciplinar de Astrofísica do Instituto Superior Técnico, em Lisboa. Antes de chegar aos 300 mil anos, o Universo era tão quente e denso que os fotões não conseguiam viajar livremente, razão por que não chegam até nós.

Depois do Cobe, realizaram-se outras experiências, feitas com balões, a 40 quilómetros de altitude: o Boomerang, que voou na Antárctida, e Maxima-1 e Máxima-2, no Texas. Todas obtiveram mapas mais nítidos da luz primordial do que o Cobe. Domingos Barbosa foi um dos investigadores portugueses a participar nas duas Máximas: o outro foi Pedro Gil Ferreira, agora na Universidade de Oxford, em Inglaterra.

Agora, o WMAP, que anda à volta do Sol e continuará a recolher dados por mais três anos, forneceu aos cientistas um retrato ainda melhor, fazendo uma espécie de 'zoom' sobre as flutuações da radiação. "Capturamos o Universo bebé de forma muito nítida, e a partir deste retrato podemos descrever o Universo com uma precisão sem precedentes. Os dados são uma verdadeira mina de ouro", referiu Charles Bennett, do Centro de Voo Espacial Goddard da NASA e o principal investigador do WMAP, citado num comunicado de imprensa da agência.

Para ilustrar as diferenças entre as várias experiências, Domingos Barbosa usa a metáfora do retrato. Se o Universo fosse uma pessoa, podemos dizer que o Cobe a fotografou desfocada, pelo que a cara é uma bola cujos contornos estão pouco definidos. Na Máxima e no Boomerang já aparece bem definida a cabeça e as sobrancelhas, mas o nariz e a boca ainda estão desfocados. "O WMAP consegue definir que o nariz tem duas narinas e a boca dois lábios", disse.

"Este é o início de uma nova fase no estudo do Universo primordial. Podemos usar este retrato não apenas para prever as propriedades do Universo próximo, mas também para compreender os primeiros momentos do Big Bang", referiu outro membro da equipa do WMAP, David Spergel, da Universidade de Princeton, nos EUA. Não menos efusivo, segundo a agência Reuters, foi John Bahcall, também daquela universidade: "Este anúncio representa um rito de passagem da cosmologia da especulação para a ciência rigorosa. Estou deliciado com a precisão dos resultados."

Mas a obtenção de cada vez melhores retratos do Universo enquanto criança não se ficará por aqui. A Agência Espacial Europeia (ESA), da qual Portugal é membro, está a desenvolver o satélite Planck Surveyor para medir a radiação cósmica de fundo, a lançar em 2007. "O satélite europeu vai ter uma precisão cerca de 50 por cento melhor que a do WMAP", sublinhou Domingos Barbosa, que pertence à equipa do Planck Surveyor.